Nonato Guedes
O cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, ministro da Saúde do governo Jair Bolsonaro, encerra sua passagem pela Pasta profundamente desgastado perante colegas profissionais e gestores. O exemplo maior dessa situação foram as vaias e xingamentos que Queiroga atraiu em Aracaju, Sergipe, durante palestra no Oitavo Congresso Norte/Nordeste de Secretarias Municipais de Saúde, evento que congrega secretários de Saúde de todo o país. Ele foi vaiado pela quase totalidade dos presentes, na quinta-feira, quando fez críticas a gestores do Nordeste pelo comportamento durante a pandemia de covid-19. “Disseram que iam comprar respirador. Não compraram nenhum. Zero. É assim que vocês querem unir o Brasil? Vocês vão ter a resposta em breve”, provocou Queiroga.
A atitude do ministro detonou reações na plateia, fazendo com que ele saísse do palco acompanhado de seguranças e acenando com as mãos de maneira irônica em relação aos que o vaiavam. Marcelo Queiroga conseguiu o feito de assegurar longevidade na Pasta da Saúde,que foi foco de crises e substituições durante o governo de Bolsonaro, graças à lealdade extrema ao mandatário e ao seu próprio apego ao poder. Ele foi o quarto ministro da Saúde nomeado por Bolsonaro em pleno agravamento da pandemia e em meio à onda negacionista patrocinada pelo governo federal, com as posturas do presidente da República minimizando os efeitos da doença e ignorando a sua gravidade.
Ainda assim, Marcelo Queiroga conseguiu dar partida à aquisição de vacinas e acelerar o programa nacional de imunização, que estava “capenga” na gestão de Bolsonaro, sobretudo quando a Pasta estava sendo comandada pelo general Eduardo Pazuello, que se limitava a cumprir ordens. O primeiro titular, Luiz Henrique Mandetta, pediu exoneração do cargo por não ter autonomia de recursos nem de competência, tendo advertido o presidente em público, várias vezes, sobre a necessidade de medidas preventivas como o equipamento da rede oficial de saúde. Queiroga teve o seu nome sugerido a Bolsonaro por um filho dele e teve uma atuação polêmica, mas foi respeitado em setores da comunidade científica por ter agido em situações extremas. Começou a perder pontos ao politizar a gestão, assumindo a defesa de Bolsonaro mesmo em ações indefensáveis. Ele chegou a cogitar disputar um mandato político pela Paraíba, em eleição majoritária, mas acabou desistindo diante do interesse de continuar no Ministério da Saúde.