Nonato Guedes
O governador reeleito da Paraíba, João Azevêdo (PSB), atualmente licenciado do cargo, em período de descanso, tem a expectativa de uma interlocução positiva ou proativa com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a partir de janeiro de 2023. Na definição de uma fonte bem próxima, a expectativa é de “boa colheita” em favor de projetos e obras do governo federal no Estado, depois da escassez de investimentos do atual governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). O deputado federal Gervásio Maia, dirigente do PSB, chegou a dizer que nos últimos quatro anos as portas dos ministérios em Brasília estiveram fechadas para a Paraíba e outros Estados, mas que a partir de janeiro a situação será outra.
A verdade é que mesmo parlamentares federais paraibanos alinhados com a base bolsonarista tiveram dificuldades nos corredores de Brasília, no atual governo, para destravar pleitos de interesse do Estado ou encaminhar a contento reivindicações de investimentos que possibilitassem o desenvolvimento social e econômico da Paraíba. O deputado Efraim Filho (União Brasil), eleito senador, ainda logrou criar um fato de repercussão pelo caráter nacional e, portanto, abrangente, da proposta de desoneração da folha de pagamento de diversos setores, encarada como estratégia importantíssima para a retomada da economia depois dos efeitos da tragédia sanitária causada pela covid-19. Foi um tento valioso reconhecido pelos setores produtivos e aplaudido como contribuição marcante numa conjuntura de extrema dificuldade. Fora daí, apenas demandas pontuais, sem maior expressão, foram liberadas.
A atuação do ministro paraibano Marcelo Queiroga, da Saúde, foi uma exceção, dadas as suas ligações com o Estado e, mais tarde, aos interesses políticos que chegou a alimentar e que acabaram se frustrando na campanha deste ano por causa do próprio apego do cardiologista ao “status” no ministério. Ministros e outras autoridades do governo federal estiveram na Paraíba, dando partida a algumas iniciativas, mas não houve, por assim dizer, uma relação sistematizada de parceria entre governo federal e governo do Estado, salvo em situações ditadas pelo entrosamento federativo. Colaborou, muito, para a ausência de resultados, a postura assumidamente hostil do presidente da República contra governadores do Nordeste, que, num rompante, durante reunião com sua equipe, chamou, de forma pejorativa, de “governadores de paraíba”. O Consórcio Nordeste, apesar de falhas, viabilizou mais oportunidades para o Estado do que o apoio do Palácio do Planalto.
Em relação ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, a posição de alinhamento do governador João Azevêdo com sua candidatura e liderança política ficou clara desde os ensaios para a campanha presidencial. João foi um dos primeiros a hipotecar adesão a Lula, quando ainda vivia turbulências partidárias com ex-aliados locais que também estavam na base do líder petista. Sustentou a palavra mesmo quando Lula, premido por fatores que escaparam ao seu controle, declarou apoio à candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) ao governo, depois que este firmou aliança com o PT da Paraíba e cedeu vagas de vice e senador, esta última a Ricardo Coutinho, que tem linha direta com o ex-presidente. No segundo turno, quando Lula declarou apoio a João Azevêdo, estreitou-se a relação, embora não tenha havido tempo na agenda para um evento do governador ao lado do favorito à Presidência da República.
Um outro aspecto que se leva em consideração e reforça o otimismo quanto a boas notícias para a Paraíba no governo Lula é a presença, ao lado de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin, filiado ao PSB e que tem tido atenção especial para com os socialistas paraibanos, como confirmou o deputado federal Gervásio Maia. O presidente eleito Lula, no segundo turno, já havia pedido a João Azevêdo que indicasse obra estruturante relevante para o Estado a fim de ser atendida pela sua equipe, e o diálogo deverá se fortalecer a partir da investidura do novo mandatário. Não se pode minimizar a influência de outros interlocutores políticos do Estado com prestígio junto a Lula, a exemplo do ex-governador Ricardo Coutinho, do senador Veneziano Vital do Rêgo, do deputado federal eleito Luiz Couto e de parlamentares de outras siglas que venham a integrar a base de sustentação do governo no Congresso. Os líderes paraibanos terão que ter consciência – e já estão tendo – do contencioso que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva herdará da desastrosa gestão de Bolsonaro, o que pode provocar ajustes de última hora e retardar uma ou outra obra ou investimento. Mas sempre será possível encontrar soluções, se houver, de fato, “vontade política”, como tem