Nonato Guedes
Dona de 457.679 votos como candidata ao Senado, correspondentes a 22,84% dos votos válidos apurados na Paraíba este ano, a deputada estadual Pollyanna Dutra (PSB) admitiu, ontem, em entrevista ao Sistema Arapuan, que poderá voltar a ter papel de interlocução com o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando este se investir a partir de janeiro de 2023. Nas primeiras gestões de Lula, no começo dos anos 2000, Pollyanna foi prefeita da cidade de Pombal, no Sertão paraibano, era filiada ao PT e teve reconhecimento e apoio a experiências exitosas desenvolvidas na Paraíba, as quais obtiveram repercussão internacional. Na campanha deste ano, não pôde ter o apoio de Lula, comprometido com a candidatura do ex-governador Ricardo Coutinho (PT) mas esteve em um evento com o líder petista e usou imagens suas no Guia Eleitoral.
A deputada foi lançada candidata ao Senado, praticamente, na undécima hora, faltando 45 dias para o pleito, quando o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) desistiu de postular a vaga, preferindo concorrer à reeleição à Câmara. Ela conta que tentou dialogar com o ex-governador Ricardo Coutinho na busca de unificação do campo das forças políticas progressistas (de esquerda) na Paraíba contra o deputado federal Efraim Filho, do União Brasil, alinhado com o presidente Jair Bolsonaro (PL) e que acabou sendo vitorioso. Já circulavam, então, rumores de inelegibilidade da candidatura de Ricardo, que chegou a ser agitada em tribunais, mas o ex-governador rechaçou os ensaios para sua desistência e apoio à candidatura de Pollyanna, que concorreu pela chapa do governador João Azevêdo (PSB), este reeleito em segundo turno na disputa com Pedro Cunha Lima, do PSDB.
Pollyanna, que está concluindo seu mandato atual na Assembleia Legislativa, informou que já foi convidada para uma reunião com expoentes do núcleo de transição do governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, a exemplo da senadora Simone Tebet (MDB-MS), ex-candidata à Presidência da República e que está sendo cogitada nos bastidores para ocupar um Ministério da Agricultura e Pecuária na gestão lulista, segundo indicações da mídia nacional. A deputada paraibana lembra que há remanescentes de gestões anteriores de Lula que continuam no entorno do ex-presidente, integrados às suas diretrizes e formulação de políticas públicas para o novo mandato e acredita que possa vir a ter espaços de colaboração na definição de programas sociais que favoreçam, sobretudo, camadas marginalizadas da sociedade. Desse ponto de vista, está motivada a dar sua parcela de cooperação se, para tanto, for acionada.
As especulações nos meios políticos paraibanos sinalizam que a deputada Pollyanna Dutra deverá ser convocada pelo governador João Azevêdo para ocupar uma secretaria estratégica na sua segunda administração, mas, pessoalmente, ela não entra em detalhes a respeito, explicando que o seu interesse é o de levar à frente até o fim o mandato na Casa de Epitácio Pessoa, se possível deixando um saldo marcante para os projetos de desenvolvimento de regiões que ela teve a oportunidade de percorrer na campanha eleitoral. Pollyanna falou, ontem, do “grande aprendizado” que a campanha deste ano significou para ela, do ponto de vista do conhecimento “in loco” das carências da Paraíba nos seus diversos segmentos, e destacou que o governador João Azevêdo, a quem acompanhou em diferentes oportunidades, foi uma espécie de “professor”, indicando-lhe as prioridades indispensáveis para o Estado e partilhando com ela informações sobre trâmites de projetos de governo que podem ser executados.
A ex-candidata ao Senado lamenta que tenha sido desperdiçada a oportunidade de união das forças políticas do “campo progressista” no Estado, o que, a seu ver, teve reflexos na disputa ao Senado, insinuando que o resultado final poderia ter sido diferente se houvesse compreensão e humildade da parte do ex-governador Ricardo Coutinho quanto às suas dificuldades de elegibilidade no pleito que já se venceu na Paraíba. Reportou-se, também, em tom de denúncia, a atos de violência política e de gênero que enfrentou em algumas cidades da Paraíba, no curso da campanha, por parte de adversários que se mobilizaram, inclusive, para impedi-la de falar e de levar a sua mensagem ao eleitorado. Qualificou esse comportamento como deplorável, diante dos avanços que têm sido alcançados pelo processo político nos últimos anos na Paraíba e no país. Em todo caso, a deputada Pollyanna Dutra se declara feliz com a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, no Estado, com a recondução do governador João Azevêdo, prevendo o reatamento do diálogo do governo federal com o governo da Paraíba e encaminhamento das demandas de interesse da população.