Nonato Guedes
O deputado federal Efraim Filho, eleito senador pelo União Brasil na Paraíba, atua com vistas a manter-se coerente no seu posicionamento político-ideológico quando descarta insinuações para vir a compor a base de apoio ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, da mesma forma como rechaça a ideia de voltar à base do governador reeleito João Azevêdo (PSB), da qual se afastou em plena campanha eleitoral para se aliar ao deputado Pedro Cunha Lima, candidato ao governo pelo PSDB. As duas hipóteses – de apoio a Lula e de recomposição com João – foram agitadas pelo deputado federal eleito Murilo Galdino, do Republicanos, em entrevista ao Sistema Arapuan, como expressão de uma vontade pessoal, que ele compartilha com outros expoentes da legenda no Estado. Mas o próprio Murilo é realista o bastante para compreender a dificuldade de concretizar-se o que propõe, devido a situações irreversíveis para as quais, a curto prazo, não se vislumbra mudança de curso.
Só recapitulando: Efraim estava na base de sustentação do governo de Azevêdo desde 2018 quando este foi eleito pela primeira vez. Seu partido integrava a equipe de João e o seu pai, ex-senador Efraim Morais, ocupava uma secretaria de primeiro escalão. Tudo mudou, porém, quando Efraim Filho decidiu dar partida ao movimento para viabilizar-se candidato a senador, consolidando apoios de deputados federais e estaduais de diferentes partidos, entre eles o Republicanos presidido por Hugo Motta. A expectativa de Efraim era a de ser admitido na chapa encabeçada por João, mas o jovem deputado pressentiu que a operação tornava-se complicada por causa de ligações mais à esquerda cultivadas pelo governador, e, em paralelo, de outras pretensões senatoriais que flutuaram na base governista local, como a do deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do PP, que acabou refugando a hipótese e se candidatando à reeleição à Câmara, compensado pela escolha do sobrinho, Lucas Ribeiro, para vice de Azevêdo. A esta altura, entrou no radar o nome da deputada Pollyanna Dutra (PSB) para postular o Senado, que veio a calhar diante das ligações pessoais dela com o ex-presidente Lula. Pollyanna entrou tardiamente e sem o apoio de Lula, que havia declarado apoio a Ricardo Coutinho (PT). Ainda assim, ficou em segundo lugar no confronto majoritário estadual.
O cenário político-eleitoral que se desenrolou nas eleições de 2022 na Paraíba foi deveras atípico. Efraim, que estava na chapa de Pedro, assegurou a manutenção do apoio do Republicanos, que também apoiava João Azevêdo, para o governo. O panorama confundiu segmentos do próprio eleitorado, além de causar desconforto para políticos que estavam em campos opostos na campanha eleitoral na Paraíba, por causa da mistura de nomes entre as opções propostas ao eleitor. O fato é que Efraim sagrou-se senador sem assumir qualquer compromisso com Lula e admitindo, mesmo, afinidade com as pautas do candidato Jair Bolsonaro, que acabou derrotado. Em termos locais, Pedro Cunha Lima avançou para o segundo turno, mas o vencedor da disputa foi o governador-candidato à reeleição, que no segundo turno passou a ser oficialmente apoiado por Lula na Paraíba. Essa realidade é do conhecimento de toda a Paraíba e, também, de líderes políticos nacionais que acompanharam intrigados a conjuntura deste Estado.
A caminho da diplomação para o mandato de senador que exercerá a partir do início do próximo ano, o deputado Efraim Filho continua onde sempre esteve, no lado político-ideológico, ou seja, na centro-direita. Pretende entregar o “melhor mandato” da sua carreira política – e é certo que tem cacife para tanto, pela desenvoltura com que se projetou na Câmara, na própria abordagem de temas de repercussão nacional. O senador eleito será adversário do presidente Lula no plano nacional e do governador João Azevêdo na Paraíba, mas, como tem explicado, isto não faz dele um adversário, um inimigo da Paraíba e dos paraibanos. Se for preciso, dialogará com João e com Lula ou com os representantes deste sobre as demandas de interesse do Estado, mas com RG definido, com posições transparentes. Não aceitará votar, por exemplo, propostas que por acaso prosperarem no âmbito dos governos federal e estadual para aumento de impostos. Essa questão é dogmática para ele.
Cabe destacar que o União Brasil, resultado da fusão DEM-PSL, tem entre os parlamentares eleitos em outubro o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro, algoz de Lula e responsável pela sua prisão no âmbito da Operação Lava-Jato, também eleito senador. Não faltam expoentes do União Brasil de outros Estados que são receptivos ou plenamente favoráveis a que o partido venha a integrar a base de apoio ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Mas a soma das resistências a uma adesão ao governo federal parece maior do que se avalia. Quanto a Efraim, o seu pai, quando senador, liderou a oposição aos governos Lula no Congresso Nacional e propôs uma CPI, a dos Bingos, que o então presidente ironizou como “CPI do fim do mundo”. Efraim Filho demonstra que está tentando se manter coerente com a sua própria trajetória, o que é uma qualidade nesta conjuntura em que proliferam gestos e manifestações extremadas de oportunismo político por parte de figuras destacadas do cenário nacional, no tropismo em direção ao poder de plantão..