Nonato Guedes
Com a permanência do governador João Azevêdo no cargo por mais quatro anos, a partir de 2023, o PSB completará 16 anos à frente do poder na Paraíba, empatando com o MDB, que governou os destinos do Estado entre 1986 e 2002. A contabilidade é feita com base na restauração das eleições diretas para os Executivos estaduais em 1982 e o assunto foi objeto de oportuna reportagem de Vítor Azevêdo no “Polêmica Paraíba”, no fim de semana, com opiniões de “experts” em política como o historiador José Octávio de Arruda Mello. A ascensão, em si, do MDB, que era denominado PMDB, ao Palácio da Redenção, em 86, já foi uma quebra na hegemonia exercida pela Arena-PDS, com a sucessão de governadores indiretos, que a mídia apelidou de “biônicos”. Wilson Braga, em 82, pelo PDS, cortou o ciclo dos “biônicos”, derrotando nas urnas Antônio Mariz (PMDB) por 151 mil votos de maioria, numa legislação que previa a figura do voto vinculado como tática para amarrar fidelidades.
Mariz fora adotado como candidato pelo PMDB na condição de dissidente da Arena-PDS e após breve passagem pelo PP de Tancredo Neves, que acabou se incorporando ao peemedebismo. A falta de estrutura peemedebista em termos de diretórios e a ofensiva esmagadora da máquina governista, além do carisma pessoal do candidato Wilson Braga, contribuíram para a vitória acachapante deste. Em 86, o PMDB acolheu outro dissidente – Tarcísio Burity, que havia sido governador “biônico” e que rompera com o sistema por divergências com o braguismo. Substituindo a Humberto Lucena, que enfrentara problemas de saúde em momento crucial de definições, Burity consagrou-se na volta com quase 300 mil votos de maioria sobre Marcondes Gadelha (PFL). Teve como vice Raymundo Asfora, que foi encontrado morto em sua granja em Campina Grande poucos dias antes da posse. Em 90, o PMDB elegeu Ronaldo Cunha Lima contra Wilson Braga em segundo turno, com o apoio de João Agripino Neto, que concorrera pelo PRN na primeira rodada.
Seguiram-se as vitórias de Antônio Mariz em 1994 contra Lúcia Braga e a de José Maranhão em 98 contra Gilvan Freire. Em 2002, o governador Roberto Paulino, que assumira com desincompatibilização de Maranhão, enfrentou Cássio Cunha Lima (PSDB), perdendo no segundo turno para o tucano. Cássio reelegeu-se em 2006, teve o mandato truncado em 2009 pelo TSE, e Maranhão voltou à cena, mas a esta altura o ciclo peemedebista estava se exaurindo. Em 2010, as urnas consagraram um líder emergente – Ricardo Coutinho, que havia sido eleito prefeito de João Pessoa por duas vezes consecutivas, no PSB, depois de se sentir marginalizado no PT. Nascia, então, a hegemonia socialista no poder paraibano, verificando-se em 2014 a reeleição de Ricardo contra adversários influentes como os senadores Cássio Cunha Lima (PSDB) e Vital do Rêgo (MDB). Em 2018, Ricardo tirou do bolso do colete o nome do técnico João Azevêdo para defender as cores socialistas, e ele foi vitorioso em primeiro turno, derrotando José Maranhão (MDB) e Lucélio Cartaxo (PV). Enfim, João foi reeleito este ano, derrotando Pedro Cunha Lima (PSDB) em segundo turno.
Cabe o registro de que em 2022 o PSB quase desperdiçou a sua hegemonia no cenário político paraibano, no rastro de sérios desentendimentos entre Ricardo Coutinho e João Azevêdo, que pipocaram após a eleição deste, na fase de organização do governo. O antecessor sentiu-se preterido ou desprestigiado, juntamente com seu grupo, em escolhas para o secretariado de João e este lutou para não ceder a pressões. Teve que afastar alguns “ricardistas” remanescentes, envolvidos ou citados em denúncias da Operação Calvário, sobre desvio de verbas públicas, o que só fez agravar a relação pessoal entre os dois líderes. Ricardo manobrou e conseguiu afastar João das hostes do PSB, mas ele próprio, a esta altura, estava desgastado, e acabou largando a sigla e migrando de volta para o PT. João ainda “passou uma chuva” no Cidadania, até que recebeu permissão para voltar ao PSB, berço da trajetória política.
No que diz respeito ao MDB, acabou fazendo uma investida em 2022, através do senador Veneziano Vital do Rêgo, que se candidatou ao governo do Estado e atraiu o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno. Veneziano agiu assim depois de ter rompido com o governador João Azevêdo, seu parceiro de 2018, de quem se queixava de desatenção, e além do apoio de Lula, fechou aliança com o PT local, que indicou as candidaturas de Maísa Cartaxo a vice-governadora e de Ricardo Coutinho a senador. A chapa toda foi derrotada no primeiro turno, e no segundo turno o ex-presidente Lula oficializou apoio a João Azevêdo, cujo partido compunha a chapa presidencial, com o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, na vice. João Azevêdo demonstra estar à vontade na legenda socialista e conta, além do apoio de Lula, com a mediação do vice Geraldo Alckmin para fazer deslanchar projetos que não avançaram na conturbada Era Bolsonaro. Para 2026, o PSB prepara quadros influentes – e, desde já, aposta fichas na eleição de Azevêdo a uma das cadeiras no Senado, páreo que, no entanto, promete ser acirradíssimo, conforme as projeções antecipadas.