Nonato Guedes
Ainda está recente a reeleição do governador João Azevêdo (PSB) para o período que começa em 2023, mas isto não impede que comece a entrar no radar a sucessão do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), a ser travada em 2024. Algumas pré-candidaturas a prefeito chegam a ser naturais, enfeixadas por remanescentes da disputa eleitoral travada este ano e que demonstraram densidade no maior colégio eleitoral do Estado, casos do comunicador Nilvan Ferreira (PL), que entrou no páreo ao governo, do pastor Sérgio Queiroz (PRTB), que concorreu ao Senado, do Cabo Gilberto, que se elegeu deputado federal e do atual deputado Ruy Carneiro, reeleito à Câmara. Pela margem esquerda projetaram-se nomes como o do ex-governador Ricardo Coutinho e da deputada Pollyanna Dutra, ambos ex-concorrentes ao Senado na disputa que teve como vencedor o deputado Efraim Filho, do União Brasil, e o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, eleito deputado estadual pelo PT.
Em tese, o compromisso do governador João Azevêdo com o projeto de reeleição do prefeito Cícero Lucena mantém-se de pé, a despeito das especulações com sabor de intriga disseminadas por causa da votação não correspondida na Capital da Paraíba, que abriu espaço para o candidato de oposição Pedro Cunha Lima (PSDB), competidor de João no segundo turno. Não faltou quem crucificasse Cícero pelo fiasco no resultado eleitoral ao governo em 2022, mas análises mais realistas sugerem que houve um conjunto de fatores por trás do saldo das urnas. De resto, a competitividade foi visível, tanto em relação à Capital como em relação a Campina Grande, segundo colégio do Estado, que tinha dois candidatos respeitáveis ao governo – Pedro Cunha Lima e o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), aliados de ocasião no segundo turno, na rodada decisiva para os destinos da população.
Cícero foi eleito em 2020 no segundo turno com o apoio decidido do governador João Azevêdo, concorrendo contra Nilvan Ferreira, depois de ter enfrentado uma dezena de concorrentes de extração variada, filiados a partidos que mais pareciam sopa de letrinhas para o eleitor. Foi um feito extraordinário levando-se em conta que pelo menos dezesseis anos separavam a passagem de Lucena pela municipalidade pessoense, em dois mandatos consecutivos. Na prática, significou um “recall” positivo para a imagem de Cícero, que, inclusive, estava afastado da militância política e, por outro lado, um crédito que se abria para o governador João Azevêdo, como consequência da relação de parceria salutar entre ambos, reatando-se pacto institucional em desuso na antiga Felipéia de Nossa Senhora das Neves. A performance para governador em 2022 pode ter empanado o brilho do esquema governista na Capital, não fosse o fato de que João Pessoa é, realmente, imprevisível em disputas eleitorais.
No círculo do prefeito Cícero Lucena, a leitura que se faz é que ele ainda não teve oportunidade de colher os frutos de grandes investimentos esperados para João Pessoa, inclusive por parte da administração de João Azevêdo. A eclosão da pandemia de covid ainda é o argumento maior para engessamento de atividades administrativas mais ousadas, tanto na Capital como em todo o Estado, por causa do remanejamento de prioridades, investimentos e recursos, de certa forma comprometendo-se o planejamento que chegou a ser esboçado para alavancar projetos de desenvolvimento e de geração de emprego e renda. Estão os dois administradores – João Azevêdo e Cícero Lucena desafiados simultaneamente a demonstrarem mais celeridade na execução de obras e na entrega de resultados, o que foi cobrado, incessantemente, pelo menos em relação ao governador, pelo ex-candidato Pedro Cunha Lima nas eleições de 2022.
As perspectivas, entretanto, são animadoras, em tese, com os acenos feitos ao governador João Azevêdo pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com vistas a viabilizar pelo menos uma obra estruturante, ou de grande porte, no Estado, podendo João Pessoa vir a ser contemplada, o que, colateralmente, poderia produzir dividendos para a atual gestão municipal. Independente disso, haverá empenho maior por parte da bancada federal paraibana para o resgate de dívidas contraídas por governos anteriores e para o encaminhamento de demandas que façam justiça à importância de João Pessoa no cenário sócio-econômico do Nordeste brasileiro. Do ponto de vista eleitoral propriamente dito, Cícero poderá se beneficiar da divisão que reinará nas oposições, tanto no campo da direita como no campo da esquerda. Mas é evidente que, acima de tudo, terá que apostar fichas na sua capacidade de promover ações de impacto em João Pessoa, ofertando à Capital paraibana uma posição de destaque na conjuntura regional e nacional. Vale insistir: em meio a esse ambiente, o tempo chega a parecer demasiado curto para cumprir com demandas que estão acumuladas, exigindo equacionamento.