Nonato Guedes
Com muitos desafios pela frente, no novo mandato que vai empalmar a partir de 2023, o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), dedica-se de forma aplicada à tarefa de compor o secretariado que irá acompanhá-lo na jornada vindoura, quando espera a colheita de melhores frutos e realizações, até em virtude da parceria que se prenuncia com o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), rompendo-se o jejum imposto ao Estado pela Era Bolsonaro. No mister de formatar a equipe, João busca conciliar interesses e pressões que eclodem de grupos políticos que o apoiaram nos dois turnos da campanha eleitoral. Trata-se de acomodar aliados vitoriosos e derrotados que querem partilhar o poder, sem perder de vista a necessidade de oferecer melhores resultados administrativos, ou mais eficácia na gestão.
Em tese, o estilo conciliador do chefe do Executivo facilita arrumações e encaixes, mas, na prática, ele terá que se debater com o excesso de apetites e ambições em contraponto à escassez de cargos disponíveis. Decerto vai contrariar pretensões dos que se julgam ungidos ou cogitados sem nem sequer terem tido um sinal de fumaça branca da Granja Santana, e terá a obrigação de se pautar pelo desafio de renovar quadros, até como estratégia para apresentar maior eficácia que credencie o governo II ao conceito da opinião pública e à credibilidade dos órgãos federais e das agências de desenvolvimento. Um ponto fora da curva, em termos de gestão, está sendo a recidiva da pandemia de covid-19, que a gestão socialista enfrentou no primeiro período e que conseguiu manter sob controle a duras penas sem colapsar a rede pública de saúde, mas que está voltando sob condições imprevisíveis e preocupantes para a população.
O secretário atual de Comunicação, Nonato Bandeira, tem recorrido a sofismas em declarações nos últimos dias a órgãos de imprensa que tentam traçar a exegese da segunda gestão de João Azevêdo. Ele a define como uma nova administração, o que causou espécie em algumas áreas pelo fato de que, concretamente, se trata de um governo de continuidade, que se submeteu a uma espécie de plebiscito e dele saiu com um crédito de confiança para seguir colocando em prática inovações ou modelos de transformação da realidade paraibana, com a incorporação de pautas que já estão começando a se enraizar na conjuntura brasileira. A agenda de problemas, hoje em dia, é outra, e o corolário de soluções propostas é diversificado, demandando alterações na própria linguagem da comunicação, sem falar na urgência de encaminhamentos e de resolução de problemas. O passado, definitivamente, ficou para trás e quem não se enquadrar à modernidade poderá ficar fadado à exclusão ou à segregação no processo de desenvolvimento.
Do ponto de vista dos acertos políticos, eles são inúmeros e já figuram na mesa do governador João Azevêdo, a quem cabe resolver nos limites da carta de navegação que será bússola do novo mandato. Será preciso contemplar o Republicanos, que se manteve leal até o fim da disputa eleitoral e abriu mão de exigir vagas na chapa majoritária que foi à luta, como terão que ser contemplados o PP do vice-governador Lucas Ribeiro e do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, o PSD da senadora Daniella, o PSB do próprio governador, os remanescentes do PT que ficaram alinhados com João desafiando cara feia do ex-governador Ricardo Coutinho, além de outras forças políticas que fizeram parte da “arca de Noé” montada para o pleito majoritário. Há nomes de ex-secretários derrotados nas urnas, como Geraldo Medeiros, da Saúde, que foi fundamental na fase de combate à covid e em ações como o Opera Paraíba, ou de ex-deputados também derrotados como Ricardo Barbosa, que pleiteava a Câmara e, que, segundo se diz, ambicionaria a superintendência da Suplan. O “xadrez” envolve, ainda, o”xibolete” da Mesa da Assembleia Legislativa, com as ambições vazando pelos poros de deputados da base oficial, e os interesses indisfarçáveis de prefeitos municipais que esperam ser convidados para o banquete do poder.
Um caso especial para análise pelo governador diz respeito ao aproveitamento da deputada estadual Pollyanna Dutra, ex-candidata ao Senado e filiada ao PSB, na equipe de governo. Ela tem méritos e tanto pode ser aproveitada no âmbito administrativo estadual como no cenário federal, no governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, de quem é discípula assumida. A performance de Pollyanna na corrida pelo Senado foi surpreendente, junto com o seu próprio discurso de militante político, que atraiu a admiração tanto do governador João Azevêdo como do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Algumas peças que integraram o desenho do governo João I precisarão ser repostas ou substituídas por mais que tenham sido úteis na gestão inicial. No que diz respeito ao governador, estará desafiado, o tempo todo, a mostrar resultados mais eficientes e, mais rápidos, segundo cobraram adversários políticos seus. Isto exige, além da vontade política e da austeridade administrativa, a colaboração de uma equipe motivada e realmente competente. O segundo governo deverá estar oxigenado, e não acomodado, para responder aos desafios que ainda não foram enfrentados.