Nonato Guedes
Atual presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba e reeleito deputado estadual com expressiva votação pelo Republicanos, Adriano Galdino vem se impondo nos bastidores como “grande articulador” do próprio processo de sucessão ao comando da Casa de Epitácio Pessoa. Apurou-se, nas últimas horas, que ele teria avançado nos entendimentos com deputados ligados ao ex-senador e ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB) a fim de garantir apoios aos candidatos à presidência nos futuros dois biênios legislativos que começarão a valer a partir de fevereiro de 2023. Por enquanto, os deputados Wilson Filho e Branco Mendes postulam dirigir o Poder no primeiro biênio, reservando-se o segundo para o retorno triunfal de Adriano.
Mas, de acordo com fontes bem informadas, não se descarta a hipótese de que Galdino possa ser reconduzido para posição de destaque nos dois biênios vindouros, o que, se confirmado, o levaria a bater recorde na história do Legislativo Estadual. Adriano está atento a uma decisão do Supremo Tribunal Federal que, provocado por Assembleias Legislativas de outras regiões, teria dado sinal verde para reeleições consecutivas na legislatura vindoura. O atual dirigente da ALPB tem se movimentado com habilidade, desde o início das articulações, para não ser acusado de “continuísta” ou de “centralizador”, tanto assim que chegou a abrir mão de uma nova candidatura para o primeiro biênio da nova legislatura. Mas é evidente que não brigará com os fatos se estes conspirarem, naturalmente, a seu favor.
O que se diz nos meios políticos locais é que o processo de sucessão na Mesa da Assembleia Legislativa está completamente em aberto, o que, em tese, abre espaço para todas e quaisquer possibilidades, previsíveis dentro de normas de caráter legal, sobretudo emanadas de Cortes Superiores que estão baeadas em Brasília. Além da indiscutível habilidade de Galdino, que se tornou figura-chave ou espécie de eminência no centro de poder estadual, há a desvantagem numérica da oposição para decidir a parada pelo comando da ALPB, reforçada pela desarticulação desse agrupamento para criar condições com vistas a uma “virada de Mesa” espetacular no cenário que avulta na Casa de Epitácio Pessoa. Deputados novatos e mesmo deputados veteranos que insinuam movimentos para ocupar espaços esbarram no domínio dos fatos por parte de “experts” como o deputado Adriano Galdino, que é festejado como o principal expoente desse grupo de articuladores.
As fontes políticas ressaltam que não se desconhece a predominância de sentimentos, anseios ou expectativas de mudança, misturados com a reivindicação por “independência” do Legislativo da Paraíba na relação com o Poder Executivo, que continuará a ser chefiado a partir de 2023 pelo governador João Azevêdo (PSB). Mas a recusa por parte do governador em interferir diretamente nas discussões que estão sendo travadas nos bastidores facilita a autonomia dos deputados de diferentes partidos e bancadas na condução de decisões que, teoricamente, são pertinentes aos legisladores e, nesse sentido, a versão que circula é a de que têm avançado substancialmente as tratativas entre membros do próprio colegiado parlamentar. O esquema situacionista emergiu das eleições deste ano com um total de 22 deputados eleitos, no colegiado de 36, e o interesse maior do governador é, inegavelmente, o de assegurar apoios na votação e aprovação de matérias oriundas do Poder Executivo.
Desse ponto de vista, é considerada correta a estratégia de “não interferência” no processo que por si só desencadeia inúmeras ambições e interesses da parte de deputados que são aliados e, também, de deputados que foram eleitos na oposição ao governador João Azevêdo, contestando o projeto deste em obter nas urnas um segundo mandato. Durante algum tempo, desde o desenrolar da campanha eleitoral, tem se falado muito em suposto acordo do Republicanos, presidido pelo deputado federal Hugo Motta, com o governador João Azevêdo, para que o partido fosse contemplado com a presidência da Assembleia Legislativa nos dois biênios vindouros. Até agora não houve transparência nem publicidade mais efetiva aos termos do acerto que teria sido patrocinado nos bastidores, em meio ao clima da campanha eleitoral que, como se sabe, experimentou ocasiões de puro acirramento. O certo é que o Republicanos não fez fincapé para ocupar espaços na chapa majoritária encabeçada por João Azevêdo, abrindo mão de indicar nomes para o Senado ou a vice-governança. Mas deixou claro seu projeto de poder para o futuro – e esse projeto passa por espaços de comando na Assembleia Legislativa, independente dos espaços de poder que venham a ser oferecidos na composição do secretariado do governo Azevêdo II. Seja como for, a sorte está lançada, quer para o Republicanos, quer para o deputado Adriano Galdino.