Nonato Guedes
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retarda ao máximo possível o anúncio de nomes que irão compor o seu ministério diante da urgência de equacionar problemas, tais como destravar a chamada PEC da Transição que possibilitará ao futuro governo furar o teto de gastos públicos para bancar promessas de campanha. Conforme tem sido registrado pela mídia, há divergências internas dentro do próprio PT sobre o encaminhamento da proposta, com conflitos entre senadores e deputados em torno do ritual que deve ser seguido para produzir consensos ou soluções desejadas. Foi por causa desse clima que o nome do ex-prefeito Fernando Haddad não foi confirmado para a Pasta da Fazenda, embora ele tenha sido autorizado por Lula a abordar temas como o da reforma tributária.
Os problemas que estão sendo enfrentados pela equipe de assessoramento do futuro governo nas diferentes áreas ou segmentos são atribuídos à delicadeza, em si, da transição com a equipe do atual governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), que não estaria repassando devidamente as informações necessárias sobre a realidade do círculo de poder que Lula irá administrar a partir de 2023. São recorrentes as queixas quanto à sonegação de dados, principalmente em relação ao contencioso econômico que a gestão de Bolsonaro irá deixar. Alguns dos números fornecidos não conferem com dados extra-oficiais que têm sido obtidos como parte do esforço para Lula assenhorear-se da verdadeira radiografia da situação que terá pela frente. O atual gabinete participa de reuniões, fornece dados, mas a desconfiança é grande por parte da equipe de Lula acerca de níveis de transparência.
Em paralelo, as divergências sobre o montante de gastos para bancar os R$ 600 do Auxílio Brasil no próximo ano e para ajustar o orçamento de outras despesas da rubrica “social” se agravam com a difícil negociação que está sendo feita com parlamentares, sobretudo com líderes do chamado Centrão e remanescentes da base bolsonarista, que chegam a ser intransigentes na fixação de valores para cima, de certo modo asfixiando as previsões com que trabalha a equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Ao futuro governo não interessam acenos de gastança descontrolada, até porque se alega que não há conhecimento ou indicação de fontes de recursos. Nesse sentido, a equipe de Lula considera que está tateando no escuro e culpa o governo de Jair Bolsonaro pela ausência de planejamento mais consistente sobre as metas orçamentárias.
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, segundo se apurou, mantém a disposição de cumprir compromissos que foram enunciados na campanha eleitoral, com o resgate de dívidas sociais contraídas especialmente pelo governo de Bolsonaro e, também, de carências em matéria de programas estruturantes, de obras e de geração de emprego e renda, tendo como foco os segmentos mais vulneráveis ou até mesmo mais marginalizados da sociedade brasileira. Mas Lula tem pontuado que tudo precisa ser feito com responsabilidade, a fim de que não sejam criadas expectativas triunfalistas mas irrealistas quanto à capacidade de gastos e de investimentos do governo federal. Afinal, o terceiro mandato é encarado como “o governo da reconstrução”, devolvendo à população serviços eficientes e benefícios imprescindíveis que Bolsonaro não entregou.
O líder petista e ex-presidente da República, ao mesmo tempo, procura exercitar ao máximo seus dotes de habilidade política para extrair concessões de partidos e de políticos que não o apoiaram durante a campanha eleitoral acirrada que foi travada em dois turnos. A justificativa para o convencimento de senadores e de deputados federais é a de que as responsabilidades de gestão na chamada Era Lula devem ser compartilhadas, mais do que nunca, levando-se em conta a natureza atípica da conjuntura e a quantidade de desafios que precisarão de pronta solução. Por ordem expressa de Lula a articulação política mantém-se intensa, buscando o diálogo com todas as forças que estejam disponíveis para colaborar com o projeto de reconstrução, independente de terem apoiado ou não a candidatura do petista na recente disputa eleitoral. Partidos situados à esquerda, à direita e ao centro são cortejados não necessariamente com a promessa de controle de cargos na futura administração, mas sob sinais de alerta quanto à responsabilidade que igualmente detêm para dar sua parcela de contribuição na retomada do desenvolvimento nacional. Ou na construção de um novo Brasil, como é definido, insistentemente, pelos expoentes ligados ao candidato que foi ungido nas urnas com a missão de retirar o País do caos a que foi atirado na tristemente famosa Era Bolsonaro.