Nonato Guedes
Além do apoio incondicional do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que é seu aliado declarado, o terceiro governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) poderá contar com o apoio da senadora Daniella Ribeiro (PSD) na bancada paraibana a partir de janeiro, na votação de pautas que são consideradas vitais e urgentes para assegurar a governabilidade futura. O terceiro senador paraibano, Efraim Filho, do União Brasil, que foi eleito este ano derrotando o ex-governador petista Ricardo Coutinho, é considerado como “oposição” à gestão de Lula e tem definido, à imprensa, que vai se reger por uma atuação independente no Congresso.
A preocupação em dispor de uma maioria estável dentro do Senado e da Câmara dos Deputados foi tornada explícita por Lula durante a campanha eleitoral como condição “sine qua non” para viabilizar propostas que ele considera indispensáveis à “reconstrução do Brasil”, bandeira que foi desfraldada ao longo da sua campanha em antítese ao discurso continuísta apregoado pelo atual presidente Jair Bolsonaro. Não é à toa que o presidente eleito tem se empenhado, pessoalmente, em consolidar adesões e perspectivas de apoios a projetos polêmicos que irá submeter ao colegiado parlamentar, negociando abertamente até com expoentes do chamado Centrão, agrupamento fisiológico que tem influência avassaladora, sobretudo, na Câmara, sob o comando do atual presidente Arthur Lira (PP-AL), que conta com o apoio do PT para ser reconduzido ao cargo.
Na bancada paraibana, na legislatura que está se encerrando, a senadora Nilda Gondim, mãe de Veneziano, declarou-se apoiadora de Lula mas não concorreu à reeleição. Na prática, ela tem concluído o mandato que foi conquistado em 2014 pelo ex-governador José Maranhão, que faleceu vítima de complicações da Covid-19. O deputado federal Efraim Filho, de centro-direita e de posições antipetistas, tornou-se dono da vaga numa disputa a que se submeteu com outros nomes fortes, incluindo o da deputada estadual Pollyanna Dutra, do PSB, lançada de última hora com o apoio do governador João Azevêdo e que ficou na segunda colocação na contagem final de votos ao Senado. Embora não tenha vinculação mais estreita com Jair Bolsonaro, que deve liderar a oposição após deixar o Palácio do Planalto, Efraim Filho tem histórico de divergências e até enfrentamentos com o PT no Estado e na Câmara Federal. Ele tem deixado claro que sua postura não irá ao ponto de prejudicar os interesses maiores da Paraíba.
Daniella, também de nítido perfil conservador, estreitou ligações no governo Bolsonaro quando ainda militava nos quadros do PP, tendo como interlocutor principal o presidente nacional dessa legenda, Ciro Nogueira, que foi feito Chefe da Casa Civil do Planalto. Ela abriu canais de interlocução privilegiados em outros ministérios estratégicos e em órgãos relevantes da gestão federal, a exemplo da Caixa Econômica, junto a quem encaminhou pleitos pontuais de cidades da Paraíba. Com a eleição do seu filho, Lucas (PP) para vice na chapa de João Azevêdo, e diante da postura pró-Lula declaradamente assumida pelo gestor paraibano, Daniella deverá conciliar e atender ponderações no sentido de “fechar” com o governo Lula III em matérias que julgar palatáveis ou imprescindíveis. Sobre Veneziano, ele já participa da equipe de transição do governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, figurando no bloco temático do Turismo.
A Paraíba, de resto, necessitará de apoio e colaboração decisiva do futuro governo para destravar projetos e recursos que ficaram encalhados ou bloqueados no governo do presidente Jair Bolsonaro, com quem o governador João Azevêdo nunca teve uma audiência cordial com o mandatário, embora ministros seus, especialmente o da Saúde, paraibano Marcelo Queiroga, tenham atendido demandas específicas do Estado. Ressalte-se, sobre Daniella, que o seu irmão, Aguinaldo Ribeiro (PP), reeleito à Câmara, foi ministro das Cidades no governo da presidente Dilma Rousseff (PT). O “clã” Ribeiro é conhecido pelo pragmatismo político que adota em relação a governos. Em relação à bancada de deputados federais paraibanos, composta de 12 representantes, o governo Lula terá apoios que lhe garantem equilíbrio nas votações em plenário. Deputados como Luiz Couto, que está voltando, Gervásio Maia, Murilo Galdino, Hugo Motta, Damião Feliciano, Wilson Santiago, poderão ser atraídos para a base, enquanto nomes como Ruy Carneiro, Cabo Gilberto Silva e Romero Rodrigues, entre outros, tenderão a flutuar ao sabor dos interesses em jogo e das próprias conveniências, mas sabendo que serão cobrados para não prejudicar os pleitos da Paraíba, que espera ansiosamente por compensações depois de tanta discriminação enfrentada nos últimos anos.