Nonato Guedes
O governador João Azevêdo (PSB) vem formatando, nos bastidores, sem alarde ou publicidade, o desenho da segunda gestão que empalmará a partir de janeiro de 2023 à frente dos destinos da Paraíba. Não há maiores detalhes sobre novidades que deverão constar do programa de governo II, muito menos sobre nomes que deverão compor o secretariado. A equipe deverá ganhar o reforço de políticos que seguem a liderança de Azevêdo e com ele participaram na linha de frente da campanha eleitoral, caso da deputada estadual Pollyanna Dutra, que foi candidata ao Senado, obteve a segunda colocação e é cotada para uma Pasta de Desenvolvimento Humano. Mas também deverão ser contempladas indicações políticas de partidos que formaram a coligação, a exemplo do Republicanos, que, inclusive, abriu mão de vagas a senador ou a vice-governador, privilegiando o comando da Assembleia Legislativa e espaços mais expressivos na segunda administração.
O PP (Partido Progressista), o PSD da senadora Daniella Ribeiro e partidos à esquerda que apoiaram a reeleição de João Azevêdo vivem a expectativa de serem prestigiados para além de espaços já conquistados como é o caso do PP, que passará a ter o futuro vice-governador, na figura de Lucas Ribeiro, filho de Daniella e sobrinho do deputado federal reeleito Aguinaldo Ribeiro. O mutismo do governador até agora, que tem impossibilitado o vazamento de nomes e a proliferação de especulações, faz parte da estratégia calculada para evitar problemas na engenharia da acomodação de interesses e postulações. O governador, certamente, está mais experiente depois da travessia dos primeiros quatro anos e atento às mudanças verificadas na correlação de forças políticas do Estado, de modo que poderá construir uma nova conjuntura com o suporte das lideranças e partidos que estão na sua órbita.
O que ele não poderá perder de vista, segundo analistas políticos, é o desafio ou a perspectiva de deflagração de uma “dinâmica maior” no segundo mandato no governo da Paraíba, tanto porque teve a oportunidade de aprofundar o conhecimento sobre os gargalos da máquina e sobre as lacunas que precisam ser preenchidas, como porque terá que estar aberto a novas experiências, a inovações que foram debatidas na campanha eleitoral e que devem constituir o eixo central de qualquer gestão comprometida com a modernidade. O maior dinamismo ou a celeridade nas ações foi cobrado de forma recorrente por adversários em debates públicos, o principal deles o deputado Pedro Cunha Lima, candidato do PSDB, que em inúmeras vezes mostrou-se agastado com a inação do governo em alguns setores essenciais ou mesmo com demandas pontuais de menor proporção mas que interessam a segmentos da população do Estado.
No dizer de Pedro Cunha Lima, o governo vinha se ressentindo da falta de maior agressividade, quer na captação de recursos para projetos estruturantes, quer na aceleração de obras e serviços que constituem reivindicação não só da população de João Pessoa como dos habitantes de Campina Grande e de diferentes localidades das regiões do interior. A comparação feita sobre o ritmo do governo João Azevêdo I foi de que se tornou pródigo em expedição de autorizações de obras e ordens de serviço, sem a correspondente execução dos projetos anunciados. O governador buscou se justificar, quando confrontado a respeito, com os desafios impostos pelo enfrentamento à covid-19 e aos seus efeitos colaterais na vida do Estado, como a paralisação de investimentos e até de atividades do setor produtivo por causa das medidas sanitárias de combate à pandemia. Atualmente, mesmo com a covid dando sinais de recaída, o governo está, em tese, mais preparado para conviver com as providências sem prejuízo da normalidade da vida social e econômica na Paraíba.
De resto, o segundo governo de João Azevêdo é a chance que ele tem de superar a si mesmo nas limitações que foram enfrentadas na primeira gestão. Isto inclui as turbulências políticas que ocasionaram rompimento com aliados remanescentes da campanha de 2018 como o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e o deputado federal Efraim Filho, que foi eleito senador pelo União Brasil. O governador estreitou laços com o PP e o Republicanos, mas ainda precisa fortalecer o seu próprio partido, o PSB, cujo controle finalmente assumiu após quedas-de-braço desgastantes com o ex-governador Ricardo Coutinho, atualmente no PT. A sustentação de uma sólida base de apoio na Assembleia Legislativa é crucial para o gestor, que tem que se mover com extrema habilidade nesse terreno para não se tornar refém de grupos políticos mais articulados e sequiosos de poder. Por último, há a expectativa sobre o tratamento do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Paraíba. Há a promessa de compensar o Estado pelas perdas sofridas no governo Jair Bolsonaro, mas será preciso empenho constante para que tal desideratum se concretize. Das iniciativas que João tomar, com grau maior de autonomia, dependerá o seu próprio futuro no cenário político local, onde ingressou como jejuno privilegiado na disputa de quatro anos atrás