Nonato Guedes
Entre forças políticas que fazem oposição ao governador reeleito da Paraíba, João Azevêdo (PSB), vigora o raciocínio de que o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), que disputou o segundo turno da eleição ao Executivo, ainda é, teoricamente, quem tem cacife para liderar o polo principal de crítica à gestão que vai ser reempossada para mandato de mais quatro anos. Não só porque Pedro assumiu de frente essa bandeira na campanha eleitoral, atraindo, inclusive, adversários que também concorreram ao governo, a exemplo do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), como porque demonstrou potencial eleitoral respeitável, conquistando 1.104.963 votos, ou 47,49% do total dos sufrágios obtidos na contagem final.
Em paralelo com a expectativa de que Pedro venha a protagonizar papel exponencial de líder da oposição a João Azevêdo, há uma incógnita sobre os espaços concretos de que ele vai dispor depois de ficar sem mandato na Câmara Federal ou em outras esferas de poder. O filho do ex-governador Cássio Cunha Lima não chegou a contestar a legitimidade da vitória atribuída ao governador João Azevêdo, tendo desejado “sorte e responsabilidade” ao eleito e prometido continuar lutando por uma Paraíba de oportunidades. O ponto mais afirmativo de sua manifestação foi o pacto de atuar como “fiscal” da administração reeleita, cobrando promessas que foram agitadas no calor dos debates. Essa linha, inclusive, foi a tônica da campanha de Pedro, com ressalva, até, de que o atual governo dava a impressão de que ainda iria começar, dado o atraso na entrega de obras e de resultados à população.
Nos meios políticos paraibanos afirma-se ser inquestionável que Pedro Cunha Lima, ex-presidente da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, demonstrou preparo para administrar os rumos do Estado caso fosse ungido nas urnas. Isto ficou patente nas suas intervenções maduras sobre questões pontuais da realidade da Paraíba, bem como nas abordagens que formulou em torno de propostas para um novo modelo de governo que, a seu ver, impulsionasse efetivamente o desenvolvimento do Estado. Nos debates travados em emissoras de rádio e TV ou nas suas falas no Guia Eleitoral, Pedro lançou mão de dados estatísticos e de informações até inéditas acerca da conjuntura local, como subsídio para fundamentar o próprio discurso de renovação que elegeu como prioridade.
A moldura que projetou a personalidade de Pedro Cunha Lima e a votação expressiva alcançada bastariam para dar-lhe, naturalmente, o comando da oposição. O problema é que durante a campanha eleitoral desenrolada na Paraíba, desde o primeiro turno, a oposição ao governo João Azevêdo revelou-se fragmentada, com grupos mais à direita ou simbólicos do conservadorismo político empenhando-se na luta pelo monopólio do espaço. Alguns desses grupos estavam ligados diretamente ao presidente Jair Bolsonaro, como o que girava no entorno da candidatura do comunicador Nilvan Ferreira, do PL, apoiado oficialmente pelo mandatário que foi derrotado por Lula. Pedro não entrou na briga por monopólio de oposição e, no tocante à eleição presidencial, demonstrou equidistância, abrindo seu palanque para candidatos como Ciro Gomes e Simone Tebet, e, no segundo turno, assumindo neutralidade diante das opções de polarização. Essa postura pode tê-lo afastado de consenso sobre protagonismo na oposição, o que não significa que não esteja credenciado para papéis relevantes ou de reconhecida importância.
Um erro de Pedro que foi objeto de exploração no lusco-fusco da campanha eleitoral foi a sua declaração de que não cogitava disputar eleições nem em 2024 (a próxima que consta do calendário e que envolve prefeituras municipais) nem em 2026, quando estarão em jogo novamente disputas decisivas, à Presidência da República, governos estaduais, senadores, deputados federais e deputados estaduais. Para alguns, praticamente Pedro se excluiu dos confrontos à vista, o que poderia significar, também, uma auto exclusão precoce do processo político-partidário de que ainda participa com o restante do mandato na Câmara. O que os aliados e admiradores de Pedro esperam, da sua parte, é um posicionamento mais afirmativo quanto à sua própria disposição para enfrentar os desafios futuros na seara política ou do poder. Alega-se que não há espaço vazio e que Pedro, a esta altura, com o cacife eleitoral alcançado no segundo turno, já deveria estar na linha de frente de articulações que vão configurar o novo mapa da oposição institucional paraibana, que é reclamada, também, à esquerda, por adversários que já foram aliados do governador João Azevêdo em outras jornadas. Da fala de Pedro, seja qual for, dependerá a correlação de forças políticas-partidárias na Paraíba nos próximos anos.