Nonato Guedes
O governador reeleito da Paraíba, João Azevêdo (PSB), procura manter-se antenado com os passos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cuja candidatura apoiou nos dois turnos no Estado. A sua participação em uma reunião com o presidente eleito, em Brasília, e com o vice-presidente Geraldo Alckmin, filiado ilustre do PSB na chapa de Lula, fez parte da estratégia para manter acesa a discussão dos projetos para o futuro à vista, bem como a contribuição do partido diante “de um novo tempo em nosso país”, como João Azevêdo publicou em postagem no Twitter. Trata-se de defender espaços do PSB na gestão petista e assegurar atenção às pautas de interesse da Paraíba, que chegaram a ser tratadas diretamente com Lula na campanha.
Na prática, o encontro foi articulado pelo presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira (PE) e contou com a participação de outras lideranças do partido, como o deputado federal Felipe Carreras, futuro líder do PSB na Câmara, o atual líder Bira do Pindaré, o prefeito do Recife, João Campos e o governador reeleito do Espírito Santo, Renato Casagrande. Conforme Siqueira escreveu nas redes sociais, “o presidente agradeceu a contribuição do Partido Socialista na campanha eleitoral e na Comissão de Transição. Por mais de duas horas conversamos sobre a conjuntura política e temas importantes para o país”. O ex-presidente Lula só anunciará a formação do seu ministério após a diplomação, marcada para o próximo dia 12. Há uma expectativa de que algum paraibano seja contemplado na equipe, e, nesse sentido, o nome que segue no radar é o da deputada Pollyanna Dutra, ex-candidata ao Senado. Mas há dúvidas sobre o aproveitamento de Pollyanna na esfera federal ou no segundo governo de João Azevêdo.
A versão é de que o mandatário eleito começou a convidar os partidos aliados para fechar a equipe ministerial do futuro governo, a exemplo dos presidentes do PSB, do Cidadania e do PDT, com quem Lula se reuniu separadamente. O desenho da Esplanada deverá ser definido na semana que vem, logo após a solenidade da diplomação no cargo de presidente da República pelo Tribunal Superior Eleitoral na segunda-feira. Carlos Siqueira, do PSB, garantiu que não se falou, no encontro em Brasília, em nomes ou cargos. Mas destacou que a legenda foi a principal força política da coligação vitoriosa na eleição e, por isso, “tem a expectativa de participar do governo”. Acrescentou: “Nós deixamos isso bem claro e ele (Lula) tem a expectativa de contar com o PSB na montagem do governo, mas não fizemos ainda qualquer indicação de nomes e ministérios neste momento”.
Os interesses do PSB, porém, estão definidos. A agremiação sonha com a pasta das Cidades, que será recriada com a divisão do Ministério do Desenvolvimento Regional. E o nome mais cotado é o do ex-governador de São Paulo, Márcio França, que foi derrotado na eleição estadual para o Palácio dos Bandeirantes pelo candidato do presidente Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas. “O PSB gostaria de participar de uma área em que ele tivesse a oportunidade de fazer políticas públicas para os municípios, para melhorar a vida das pessoas. E nós identificamos esse local como sendo, na nossa preferência, o Ministério das Cidades”, declarou Siqueira. Cabe uma curiosidade a respeito dessa pasta: no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, um dos seus ocupantes foi o deputado federal paraibano Aguinaldo Ribeiro (PP), que foi bastante prestigiado. Aguinaldo perdeu pontos no PT e junto a Dilma quando, ao retornar à Câmara, votou pela abertura do impeachment contra ela, o que se materializou em 2016.
Outra área que pode ficar com o PSB é a da Ciência e Tecnologia, cujo grupo temático correlato da transição conta com alguns dos principais quadros técnicos do PSB. Quem também não esconde preferências para atuar no novo governo é o presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP). Na conversa com o presidente eleito, o parlamentar confirmou que os partidos aliados serão chamados na semana que vem para definir o novo ministério. “Está na cabeça dele (Lula) como será o redesenho da Esplanada, e nós não levantamos essa questão. Mas como a gente ajudou a elegê-lo, temos interesse em participar do governo”. O partido aponta Trabalho e Previdência Social, que deverá ser cindido em dois, Desenvolvimento Agrário (sem pasta definida) e Esportes como ministérios para os quais o Cidadania está vocacionado. “Nós podemos contribuir em várias áreas, citei algumas em que o partido tem experiência, mas não falamos disso com o presidente ainda”, ressalvou Paulinho da Força. O único presidente de legenda que não comentou a reunião foi Carlos Luppi, do PDT, que deixou o hotel sem falar com a imprensa. O partido também pleiteia o cargo de ministro do Trabalho ou da Previdência Social mas ainda enfrenta reações internas para integrar o governo Lula por causa dos aliados do ex-candidato à Presidência Ciro Gomes. A maior briga, porém, está no MDB, envolvendo senadores e deputados federais. Falta pouco para que Lula consiga bater o martelo nessa questão.