Nonato Guedes
Prevê-se que já nesta sexta-feira, faltando 24 dias para a posse no Palácio do Planalto, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anuncie os primeiros nomes do seu ministério. A expectativa é que ao menos três ministros sejam divulgados: Fernando Haddad para a Fazenda, José Múcio na Defesa e Flávio Dino, ex-governador do Maranhão, na Justiça e Segurança Pública. Outros cinco também são dados como certos, independente de confirmação hoje: Rui Costa para a Casa Civil, Marco Aurélio Carvalho como Secretário-Geral da Presidência, Jorge Rodrigo Araújo Messias (Advocacia-Geral da União), Simone Tebet (Cidadania ou Desenvolvimento Social) e Izolda Cella (Educação. Márcio França, ex-governador de São Paulo e filiado ao PSB, é cogitado para o Ministério das Cidades, também chamado de Ministério do Desenvolvimento Regional, enquanto Marina Silva (Rede) é pule de dez para o Ministério do Meio Ambiente, dividindo especulações com o senador Randolfe Rodrigues.
O ex-presidente projeta um ministério com pouco mais de trinta pastas, e tem ficado evidente, na formatação da equipe, a preocupação de acomodar partidos políticos, personagens do próprio Partido dos Trabalhadores e figuras da confiança pessoal irrestrita do vitorioso nas urnas. Mas avulta, também, o interesse de Lula em recrutar nomes com eficiência comprovada que possam ajudá-lo na tarefa de administrar o que o presidente eleito tem definido como “herança catastrófica” a ser deixada pelo governo de Jair Bolsonaro. Na atual fase de transição que está sendo efetivada, emissários de Lula têm constatado falta de planejamento e de recursos em diversas pastas, indicando sinais do desastre em que se converteu a administração de Bolsonaro. O contencioso é redobrado no que se refere a obras paralisadas ou malfeitas, o que só reforça o discurso de Lula durante a campanha de que terá que comandar um mandato de reconstrução nacional.
Dois dos principais coordenadores da equipe de transição – Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT e o ex-senador Aloizio Mercadante não deverão ser ministros. Antes cotado para o Itamaraty, Mercadante pode vir a se tornar assessor especial de Lula, uma espécie de conselheiro direto do presidente da República, com assento no Palácio do Planalto. Sobre Gleisi, Lula parece defender a sua permanência na Câmara Federal, pela utilidade que pode ter na articulação política dentro de um Congresso que exigirá negociação permanente para aprovação de projetos do Executivo. Lula leva em conta outro fator: a ida de Gleisi para um ministério poderia abrir uma disputa interna pelo controle do PT com o seu afastamento da presidência do partido, o que acarretaria, seguramente, forte desgaste para o governo. O presidente avalia, enfim, que Hoffmann é mais importante na Câmara, onde ele busca alianças com partidos que não o apoiaram na eleição para construir uma base parlamentar sólida.
A inclusão da senadora Simone Tebet (MDB) no ministério, por outro lado, é consensual, dada a importância que ela teve para a vitória de Lula no segundo turno, quando não se limitou a anunciar o apoio mas engajou-se ativamente em compromissos de campanha por Estados do país. Terceira colocada no primeiro turno da disputa presidencial, Simone Tebet foi vital para atrair um eleitorado mais conservador que resistia a apoiar o petista, credenciando-se, por exemplo, junto a representantes do agronegócio que tendiam a apostar em Bolsonaro por considerá-lo mais confiável aos seus interesses. A emedebista integra o grupo de trabalho do desenvolvimento social no governo de transição e é a grande favorita para assumir a pasta que tratará do assunto – Cidadania ou Desenvolvimento Social. O PT, no entanto, segundo o “Congresso em Foco”, resiste a entregar o comando do Bolsa Família a Tebet, podendo o programa vir a ser gerido dentro da pasta mas vinculado a uma secretaria comandada por algum petista.
O advogado Marco Aurélio Carvalho, cotado para a Secretaria-Geral da Presidência, virou um conselheiro e amigo próximo de Lula desde sua prisão em Curitiba na Polícia Federal. Ele é o coordenador do grupo Prerrogativas, formado por advogados que atuaram na linha de frente contra a Operação Lava Jato. Ligado ao núcleo jurídico do PT, o advogado de 45 anos foi uma das principais pontes de aproximação de Lula e seu vice Geraldo Alckmin, do PSB. Foi o seu grupo que promoveu o jantar que selou publicamente a aliança entre o petista e o ex-tucano. Lula ainda estuda o papel que a ex-ministra Marina Silva terá em seu governo. Os dois se reconciliaram no primeiro turno depois de um rompimento que durou mais de dez anos. Principal referência brasileira em assuntos ambientais para o mundo, Marina era cotada para assumir um novo órgão – a Autoridade Climática, com status de ministério, para cuidar das discussões sobre clima. Na semana passada, a deputada recém-eleita por São Paulo disse, porém, que não tem perfil para o cargo, considerado por ela muito técnico. Voltou a crescer, então, a especulação de que ela poderá retornar ao Ministério do Meio Ambiente, pasta que comandou nos dois governos Lula. Outra hipótese seria a permanência de Marina no Congresso, onde a bancada ambientalista estará menor na próxima legislatura e sem algumas das principais lideranças da atual. Com isso, ela poderia assumir o protagonismo da pauta socioambiental na Casa, conforme o “Congresso em Foco”.