Nonato Guedes
Eleito por unanimidade para presidir o Consórcio Nordeste em 2023, o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), assumirá o posto numa fase que se prenuncia auspiciosa para a Região, dada a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para a qual o Nordeste contribuiu expressivamente, e face aos compromissos por ele assumidos para com pautas e demandas da população do semi-árido. O presidente eleito não acenou, em nenhum momento da campanha, com privilégios para o Nordeste em detrimento de outras regiões estrategicamente importantes do Brasil, mas tornou patente o seu desejo de resgatar dívidas que foram contraídas por outros governos, como o do presidente Jair Bolsonaro, tanto no campo social e econômico como na melhoria das condições de vida do seu povo.
Fortalece a confiança do povo nordestino nas palavras de Lula a origem do presidente eleito em terras pernambucanas, bem como o histórico de ações por ele empreendidas em favor da Região quando exerceu por duas vezes a Presidência da República. Não por acaso, Lula é incensado no Nordeste por ter dado partida ao projeto de transposição das águas do rio São Francisco, que remonta ao período do Império, quando foram ensaiados os primeiros estudos sobre a possibilidade de interligação de bacias. A transposição é encarada no Nordeste como uma obra redentora para fazer face à calamidade das estiagens cíclicas que se alternam a um preço bastante elevado, cujo subproduto tem sido a migração de habitantes para o Sul do país. Lá fora, em alguns Estados poderosos, o Nordeste é tido como peso morto, o que é uma inverdade sustentada pela má fé e pelos rompantes separatistas. Há um preconceito enraizado contra nordestinos, alcançando celebridades do meio artístico que se impõem pela garra e pelo talento, inclusive, no cenário internacional.
O próprio presidente que está se despedindo, Jair Bolsonaro, cometeu inúmeras manifestações preconceituosas contra os nordestinos, apelando, mesmo, para referências pejorativas de mau gosto que tiveram repúdio dos setores esclarecidos da sociedade e que se refletiram nas urnas, com a acachapante derrota do mandatário do PL nos bolsões de votos do Nordeste. Numa reunião pública que chegou a promover no início do governo, Bolsonaro desdenhou de governadores da Região, chamando-os de “governadores de paraíba” e dizendo que entre eles o pior era o do Maranhão, Flávio Dino, na época no PCdoB, recém-escolhido por Lula para ministro da Justiça e Segurança Pública. A rigor, não houve diálogo institucional de Bolsonaro com os governantes nordestinos, não obstante o peso por eles representado. A situação se agravou na pandemia de covid-19, quando o Supremo autorizou medidas restritivas adotadas pelos governadores para conter o avanço da doença. E é fora de dúvidas que a criação do Consórcio Nordeste causou profunda irritação ao Palácio do Planalto na Era Bolsonaro, por ser encarado como um organismo competitivo na seara das políticas públicas.
O Consórcio, que chegou a se embaralhar em problemas ou incidentes, como o da aquisição de respiradores em plena pandemia de covid, é um instrumento relevante para a tomada de decisões que objetivam o fortalecimento do desenvolvimento regional e as políticas públicas sociais. Nasceu, exatamente, como um contraponto à má vontade do governo Bolsonaro para equacionar problemas urgentes e pela desconfiança quanto a investimentos da gestão federal para a emancipação do Nordeste. O saldo do governo Bolsonaro no Nordeste não é dos mais animadores, restringindo-se a obras pontuais e a perspectivas de investimentos que não se concretizaram na sua plenitude. O próprio projeto de transposição das águas do rio São Francisco enfrentou solução de continuidade, ao que tudo indica num gesto deliberado de revanchismo do presidente da República contra a popularidade extraordinária do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Região.
O governador João Azevêdo, já se preparando para assumir o comando do Consórcio Nordeste, lembrou que sempre houve uma gestão compartilhada no âmbito desse Forum, com as decisões tomadas em caráter colegiado, e prometeu que serão mantidas as pautas em discussão com todos os governadores, mediante reuniões permanentes. “O Nordeste tem um papel político e administrativo inquestionavelmente importante”, expressou João Azevêdo, elogiando governadores que o antecederam no trabalho, como Paulo Câmara, Wellington Dias e Rui Costa que, por assim dizer, consolidaram o Consórcio como ferramenta de planejamento. Com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, cuja candidatura Azevêdo apoiou nos dois turnos da eleição, o diálogo, certamente, será mais proveitoso, baseado no respeito às próprias potencialidades da Região, que dá passos importantes, agora, no rumo da exploração das energias renováveis como mais uma alternativa para o seu desenvolvimento, reduzindo a dependência histórica que foi sustentada em relação ao governo federal.