Nonato Guedes
A senadora Simone Tebet (MDB-MS), que foi candidata à Presidência da República nas eleições deste ano, ficou em terceiro lugar e, no segundo turno, teve um papel considerado importante ou decisivo para a campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), engajando-se de corpo e alma nos eventos eleitorais, fez, ontem, seu discurso de despedida da Casa diante da proximidade do fim do seu mandato, e aproveitou para chamar a atenção sobre o valor da visibilidade das mulheres na política, relembrando, também, as sucessivas crises de gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), que está concluindo sua passagem pelo Planalto. Simone foi convidada por Lula para integrar o ministério, sendo cotada para a Pasta do Desenvolvimento Social, depois de ter feito parte do gabinete de transição instalado em Brasília.
Ela assim se expressou: “Eu preciso pedir ao Brasil que me escute: que vocês possam dar mais atenção às mulheres que fazem política no Brasil. Vocês vão descobrir talentos, ética, respeito e, acima de tudo, um amor incondicional de mãe e mulher por este país e por estas pessoas”. Relembrou, então, a sua trajetória no Senado, onde foi a primeira mulher a liderar a bancada do MDB e também presidir a Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Casa. Reforçou o impacto da atuação feminina no Poder Legislativo. “Os registros do Senado dão testemunho aos avanços na legislação da nossa bancada, não só no combate à violência contra a mulher, mas na nossa luta contra qualquer tipo de discriminação. Ouso dizer que somos de certa forma um espelho desse coletivo democrático em que vivemos”.
Simone, que em debates de que participou na campanha eleitoral chegou a confrontar diretamente o presidente Jair Bolsonaro por omissões do seu governo, historiou, igualmente, no discurso de despedida, sua atuação na CPI da Covid, quando reforçou sua notoriedade como opositora à gestão de Bolsonaro. “Fiz da minha indignação coragem ao constatar que 700 mil pessoas perderam as vidas. Muitas delas poderiam estar vivas, se não fosse uma política de saúde pública movida pela insensatez, pela insensibilidade e pela omissão”, foi enfática. Sem citar o nome do presidente, afirmou ter lutado “nesses tempos difíceis do atual governo” para, em parceria com sua bancada, “superar o ódio, a violência, as injustiças, a incúria política e administrativa, o descaso e a omissão que infelizmente marcaram a cena política brasileira”. Indicou que o principal desafio da próxima gestão a ser comandada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva será o de retomar os valores estabelecidos no texto constitucional.
Há quem considere que é incerto o caminho para Simone Tebet vir a assumir um ministério no governo de Lula, diante de resistências esboçadas dentro do próprio “núcleo duro” do Partido dos Trabalhadores e no “staff” mais próximo da campanha que Lula empreendeu em dois turnos. Não obstante, ela cumpriu um papel importantíssimo ao credibilizar a candidatura de Lula no segundo turno junto a segmentos do chamado agronegócio, derrubando preconceitos e “fake news” espalhadas sobre os passos da futura administração. Numa de suas falas a respeito do futuro, Simone Tebet disse que pretende continuar seguindo na política, independentemente do caminho que for. Na prática, o projeto de sua candidatura à Presidência esbarrou em reações dentro do próprio MDB, onde uma ala de senadores do Nordeste propugnou o apoio a Lula já no primeiro turno. Desse agrupamento fez parte o senador paraibano Veneziano Vital do Rêgo, que foi candidato ao governo do Estado e saiu derrotado. Simone agigantou-se no segundo turno no palanque de Lula e, de forma definitiva, cravou positivamente sua passagem pelo cenário político brasileiro, numa conjuntura de grave ameaça às instituições democráticas, sob o patrocínio do presidente Jair Bolsonaro.