Nonato Guedes
Segue sendo uma “incógnita” nos meios políticos e jornalísticos a configuração do secretariado do segundo governo de João Azevêdo (PSB), apesar da aproximação da diplomação e das outras cerimônias protocolares inerentes à reinvestidura no Executivo da Paraíba. Reeleito em segundo turno derrotando o candidato Pedro Cunha Lima (PSDB), que foi apoiado ostensivamente pelo ex-candidato a governador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), João passará a contar com novo ocupante da vice-governadoria – Lucas Ribeiro, do PP, filho da senadora Daniella Ribeiro (PSD). As opiniões estão divididas entre os que acreditam que não haverá grandes mudanças na equipe, alegando que a própria recondução de João foi um voto de aprovação ao governo, e os que defendem mudanças dentro da estratégia de oportunizar maior dinâmica ao ritmo de ação, que chegou a ser criticado por adversários políticos como Pedro Cunha Lima.
Em meio a especulações e versões diversas, o governador, na definição de um interlocutor de confiança, ganha tempo para promover os ajustes que considera necessários à formatação da equipe do segundo mandato, promovendo as acomodações de caráter político resultantes dos apoios recebidos numa megacoligação de partidos que ancorou o seu projeto de permanência no Palácio da Redenção. Indicações políticas deverão contemplar, além do PSB, partido pelo qual João foi reeleito, legendas como o PP e o Republicanos presidido pelo deputado federal Hugo Motta, sem falar em forças de esquerda que se engajaram, incluindo expoentes do Partido dos Trabalhadores no Estado. O PT e o próprio presidente eleito Luiz Inácio tiveram posições distintas nos dois turnos do pleito paraibano – com o apoio, no primeiro turno, à candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo, e a declaração de voto, no segundo turno, na candidatura de João Azevêdo, excetuados alguns dissidentes como o ex-governador Ricardo Coutinho.
De sua parte, o governador João Azevêdo sustentou posição unificada, linear, incondicional, de apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República nas duas rodadas da eleição, guardando coerência com o ideário professado pelo gestor paraibano de alinhamento com as propostas do líder petista e, ao mesmo tempo, de repúdio ao governo Jair Bolsonaro e contestação ao seu projeto de tentar reeleger-se ao cargo. João Azevêdo não titubeou nesses posicionamentos, impressionando positivamente a cúpula nacional petista e o próprio ex-presidente Lula da Silva, que se sentiu à vontade, no segundo turno, para declarar-lhe solidariedade. Mais do que isto, Lula assumiu com João compromissos de favorecer a Paraíba com pelo menos um grande projeto de caráter estruturante que seja avaliado como imprescindível para fomentar o seu processo de desenvolvimento, compensando-o das omissões e eventuais discriminações do governo Bolsonaro.
Fontes ligadas ao governador ressaltam que a sua cautela na formatação do secretariado tem a ver, também, com a conjuntura nacional, ligada aos rumos que tomará o terceiro governo do presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva. O governador João Azevêdo já tornou público que precisará ter interlocutores de alto nível em Brasília, junto ao governo do presidente Lula, com cacife para encaminhar e equacionar as reivindicações prementes da população paraibana. Será dado foco a metas de segurança hídrica e segurança alimentar, as primeiras relacionadas ao projeto de transposição de águas do rio São Francisco, cuja conclusão é imperiosa, mas os setores produtivos da Paraíba reclamam investimentos de monta que possibilitem colocar o Estado em patamar de destaque, no conjunto dos Estados nordestinos que também têm demandas a apresentar. Não se pode perder de vista que a votação alcançada por Lula no Nordeste, de tão expressiva, foi praticamente decisiva para a sua recondução ao Palácio do Planalto, sem falar nas suas origens assentadas nesta Região.
Um ponto que tem sido colocado em pauta nas discussões sobre formação do futuro secretariado do governador João Azevêdo diz respeito ao resultado eleitoral significativo que ele alcançou em cidades e regiões do interior da Paraíba, assegurando-lhe trunfos valiosos para compensar deficiências que acabaram sendo registradas na Grande João Pessoa e na região polarizada por Campina Grande. Os analistas políticos têm insistido na leitura de que tal resultado deveria influenciar até mesmo políticas públicas do governo no segundo período, com relevo para as áreas interioranas, sem demérito dos empreendimentos e dos investimentos que são essenciais nos centros urbanos maiores. A expectativa de uma atenção maior por parte da administração estadual é latente nas áreas interioranas, o que poderia demandar a convocação, para o secretariado, de figuras mais identificadas com essa realidade que está em pauta. São análises que seguramente estão no radar do governador João Azevêdo e poderão, mesmo, ter influência capital nas definições que ele anunciar quanto ao segundo governo que vai empalmar.