Nonato Guedes
O deputado federal reeleito Wilson Santiago, do Republicanos-PB, prognosticou que a nova legislatura que vai se instalar em fevereiro na Câmara, bem como no Senado, vai exigir muita negociação política do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com os congressistas para a solução de entraves na aprovação de projetos e matérias de interesse da gestão que sucederá à Era Jair Bolsonaro. Ele deu como exemplo o interesse por parte de Lula em viabilizar a destinação de recursos para pagamento do Auxílio Brasil que volta a ser denominado de Bolsa Família e terá o formato repaginado, incluindo a concessão de benefício para menores em situação de vulnerabilidade. Pessoalmente, Santiago acredita que o espírito é de colaboração por parte de grande número de congressistas, mas ele adverte que os desafios são imensos para acomodar as demandas que estão no radar ou na agenda do governo Lula.
Em conversa com o colunista, o deputado paraibano, que tem experiência na atuação legislativa, chamou a atenção para o fato de que o ex-presidente Lula, na condição de candidato, fez promessas e apresentou propostas de conotação eleitoreira sem ter um conhecimento mais profundo da realidade da herança administrativa que está sendo repassada por Bolsonaro. Lembrou que logo após a vitória de Lula nas urnas, em segundo turno, começaram a pipocar informações sobre insuficiência ou escassez de recursos para atendimento de propostas que estão no papel e para a execução dos investimentos constantes do cronograma oficial. Esse diagnóstico foi conferido, de perto, pela numerosa equipe de transição montada para assessorar o presidente eleito, que descobriu casos de ficção orçamentária, com isto comprometendo a perspectiva de avanços apregoada na campanha do líder petista.
Ainda agora, conforme noticiou a mídia sulista, integrantes da equipe de transição do governo eleito trabalham para deixar engatilhadas duas alternativas em um eventual fracasso da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) fura-teto, que autoriza um estouro de mais de R$ 200 bilhões no teto de gastos. Passam por soluções apresentadas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Tribunal de Contas da União – e esse recurso extra seria utilizado para custear promessas do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva durante a campanha, incluindo o Auxílio Brasil no valor de R$ 600. Aprovado no Senado, o texto está emperrado na Câmara por dificuldades na negociação entre a equipe de transição do PT com integrantes do Centrão, tendo sido marcada a votação para terça-feira, dia 20. O julgamento pelo STF das emendas de relator que beneficiam diretamente deputados e senadores e a indefinição do governo Lula sobre os ministérios travam os apoios à proposta, conforme revela o “Poder360”.
Para o deputado federal Wilson Santiago, em certa medida, tais dificuldades eram previsíveis, diante do conflito de projeções entre intenções e realidade, bem como por causa das expectativas bastante otimistas que foram disseminadas sobre o futuro a curto prazo, ultrapassada a Era Bolsonaro. Agora, ao ser confrontado com a realidade, a equipe do governo do presidente Lula admite a extensão do quebra-cabeças a ser resolvido e a delicada engenharia política que precisa ser construída para que o novo governo não comece desacreditado ou descredibilizado perante segmentos da sociedade, junto aos quais empenhou sua palavra de levar a cabo a tarefa de reconstrução do país em meio aos escombros da herança maldita deixada pelo bolsonarismo. “Evidente que haverá soluções, mas será preciso ter paciência e, também, habilidade, para que esse processo ofereça resultados”, comentou.
Em relação às questões ligadas à Paraíba, Wilson Santiago é confiante em maior apoio por parte do governo federal, na terceira gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para compensar o Estado das omissões que foram cometidas na Era Bolsonaro. “De resto, como ficou explicitado, há um compromisso do presidente eleito e diplomado com o Nordeste como um todo, não apenas com a Paraíba, a partir do reconhecimento da necessidade de compensações para a região”, concluiu. Ele prevê que nos próximos dias haverá uma reunião da bancada federal paraibana para definir quem passará a ser o coordenador na próxima legislatura, já que o mandato de Efraim Filho, do União Brasil, está expirando, e ele terá que ascender a um novo assento, no Senado Federal. Wilson Santiago acredita, porém, que o entendimento será fácil entre deputados e senadores, da mesma forma como é otimista sobre as perspectivas promissoras para o governo de João Azevêdo (PSB), que decididamente apoiou a candidatura de Lula à Presidência nos dois turnos da recente disputa presidencial.