Nonato Guedes
A cúpula do Partido dos Trabalhadores na Paraíba, presidida por Jackson Macêdo, não esconde o desalento diante da ameaça de perda de espaços da legenda na ocupação de cargos federais no Estado no próximo ano, em pleno governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que sinaliza teoricamente a retomada do poder após o jejum experimentado no período de Michel Temer, que assumiu com o impeachment de Dilma Rousseff e, nos últimos quatro anos, no governo Jair Bolsonaro, onde o desmonte do aparelhamento petista foi total. A ameaça agora, quando o petismo se preparava para a lua-de-mel com a terceira gestão de Lula, parte de legendas aliadas que apoiaram o presidente eleito e que fazem pressão para serem contempladas no organograma dos cargos disponíveis.
Os comandos da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte) e Ibama (Instituto do Meio Ambiente), além da pasta da Aquicultura e Pesca, figuram entre os postos cobiçados ardentemente não só pelo PT como por expoentes do PP e do Republicanos, que chegaram a se opor a Lula e a se alinhar abertamente com Bolsonaro. Os dirigentes desses partidos articulam-se, inclusive, para a ocupação de ministérios em Brasília, invocando como forte pretexto a promessa de votação favorável a pautas polêmicas que estão sendo engendradas pela equipe de Lula para marcar os primeiros meses do terceiro mandato. Na prática, tais legendas têm chances de serem beneficiadas e abocanharem quinhões do governo federal porque o futuro governo será de coalizão ampla, uma espécie de “Arca de Noé” agregando diferentes forças políticas dentro do projeto de garantir a governabilidade de Lula.
O receio dos petistas quanto ao sacrifício de cargos ou à perda de espaços não é infundado. Já na campanha eleitoral que se desenrolou este ano, em dois turnos, o PT, por determinação expressa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez concessões generosas até a partidos cuja linha era considerada pouco ortodoxa em troca da cessão de espaços no Guia Eleitoral, do compartilhamento de recursos do Fundo Partidário e do reforço de palanques e apoio político para ampliar a margem de votos do candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Um exemplo bem nítido das concessões petistas na disputa foi a aliança com o PSB que conduziu o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, à vice de Lula. Houve Estados, como Pernambuco, onde o PT foi persuadido a desistir de lançar candidato ao governo, mesmo sendo favorito, para apoiar o candidato do PSB, embora este não tenha logrado, sequer, ir para o segundo turno. Na Paraíba, o PT chegou a compor a chapa do MDB no primeiro turno mas migrou para o candidato do PSB, governador João Azevêdo, no segundo turno.
O arco de alianças petistas na campanha envolveu, ainda, agremiações como o PCdoB, o PV, o Psol, Rede, Solidariedade, Agir, Avante e Pros. Algumas delas já foram informadas de que não serão necessariamente bafejadas com cargos, pelo menos nas primeiras rodadas – e mesmo assim assumiram o compromisso de apoiar o governo Lula no Congresso, que será o palco de grandes batalhas para aprovação de matérias de interesse do futuro presidente e que não agregam o consenso desejado. Lula, como se sabe, já fez acenos valiosos ao próprio Centrão, envolvendo a sucessão das Mesas Diretoras na Câmara e no Senado, como parte da estratégia para ter, em troca, os votos no plenário do Congresso. O PT é, naturalmente, o mais sacrificado porque é o partido do presidente da República e porque, de algum modo, será bem aquinhoado em postos-chaves do primeiro escalão, além de extrair outras compensações no mapa do poder federal. Isto não impede que insatisfações se espalhem nos Estados, onde tarefeiros da campanha gastaram sangue, suor e lágrimas para empunhar bandeiras do candidato e doutrinar indecisos na acirrada disputa presidencial.
Jackson Macêdo integrou o grupo que mapeou os cargos federais na Paraíba em 203, primeiro ano do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele contou ao jornalista Suetoni Souto Maior que naquela época o PT chegou a indicar 90% dos cargos, insinuando que a legenda havia chegado praticamente ao paraíso. “O quadro, agora, é mais complicado, muito diferente”, acrescentou Macêdo, que atua cumprindo ordens da direção nacional, em articulação direta com a presidente Gleisi Hoffmann, ela própria cogitada para um ministério e logo descartada diante da avaliação de cúpula de que seus préstimos são mais úteis no Parlamento. O PT paraibano alega ter quadros de competência e expressão para ocupar cargos federais, tanto no Estado como no âmbito do próprio governo de Lula. O problema é que Lula terá que entregar anéis preciosos a partidos de fora para fazer valer a tal governabilidade e, assim, tentar corresponder ao que dele esperam os que sufragaram seu nome nas urnas em pleito memorável.