Nonato Guedes
No discurso pronunciado pelo governador João Azevêdo, anteontem, na sua diplomação para um segundo mandato, houve um trecho relevante que despertou atenção por indicar assimilação correta, de sua parte, das lições emanadas das urnas no pleito que disputou em dois turnos em 2022. Aduzindo que “novos ventos geram novas ondas”, João indagou: “Quem diria, por exemplo, até bem pouco tempo, que os municípios do Interior do Estado seriam capazes de decidir uma eleição majoritária na Paraíba?”. Acrescentou que a hegemonia dos grandes centros parecia inexpugnável, até a disseminação de gestos concretos e pactuações sociais sem notas promissórias eleitorais. “Atendidos nas demandas básicas, com o reforço diretivo do Orçamento Democrático, os eleitores das pequenas e médias cidades paraibanas decidiram assumir o protagonismo dos próprios destinos, embarcando na nave da maioria e estabelecendo uma rota alternativa até o porto mais seguro”, analisou.
A inversão de polos eleitorais decisivos em campanha majoritária na Paraíba foi, sem dúvida, a grande nota que caracterizou o pleito de governador em 2022, com núcleos influentes como João Pessoa e Campina Grande deixando de ter a primazia na correlação de forças e, em seu lugar, emergindo o potencial dos pequenos e médios centros urbanos, ou das cidades do Interior, que, no conjunto, pavimentaram a vitória do candidato à reeleição do PSB sobre seu adversário do PSDB, o deputado federal Pedro Cunha Lima. Essa alternância, conforme analistas políticos, terá se estendido a afluentes ou a municípios situados no entorno das duas grandes regiões metropolitanas do Estado (a Capital e a Rainha da Borborema), que desequilibraram o confronto de uma forma que possibilitou o avanço da oposição pelas áreas-macro do mapa da Paraíba. Se numericamente isto não afetou a posição de vantagem de João Azevêdo, em tese tal cenário contribuiu para um equilíbrio maior, ou para uma disputa mais apertada.
O governador e seu esquema, enquanto isso, foram compensados pelos investimentos que a administração decidiu espalhar pelo meridiano da Paraíba, sem discriminar regiões pelo porte populacional ou pelo percentual de eleitores. Em termos concretos, deu-se uma reconfiguração territorial, que levou o governador reeleito a concluir que, “definitivamente”, tendo como base o espectro federativo, “somos um Estado com 223 municípios plenos em seus direitos, diferentes em suas necessidades”. A consequência inexorável dessa realidade é que, na visão do governante, a distribuição das riquezas geradas pelo Estado, agora, tem que chegar até essa população sem interrupções, melhorando a qualidade de vida e evitando a migração socialmente desagregadora. No dizer do governador João Azevêdo, “é essa distribuição proporcional, equilibrada, que garante o desenvolvimento coletivo”. Os municípios, principalmente os pequenos, agradecem, penhorados, sua inclusão no radar oficial.
Da parte de lideranças municipalistas, pelo que se afirma com convicção, não com demagogia, há uma expectativa otimista, triunfalista até, no que diz respeito à consecução de projetos de desenvolvimento para regiões que possuem características próprias mas que, igualmente, constituem nichos de progresso ou de ascensão social, pelo que seus habitantes produzem ou pelas riquezas naturais do solo em que habitam. A esse respeito, o que tem sido questionado, ora publicamente, ora nos bastidores, nos últimos anos, na política paraibana, é o tratamento do Poder Público com relação a localidades longínquas, situadas, por exemplo, no extremo-oeste do Estado. Houve isolamento porque alguns governos se distanciaram dessas realidades intrínsecas ou específicas e, com isto, deixaram de perceber que estavam aflorando polos alternativos para sustentação da própria economia, como é o caso, atualmente, do “boom” das energias renováveis em cidades como Coremas ou Santa Luzia, no Vale do Sabugy, abrindo um leque de oportunidades para a sobrevivência da Paraíba.
Talvez por causa da sua formação técnica, o governador João Azevêdo tenha avançado mais do que outros governadores da história local recente, na formulação do diagnóstico da conjuntura atual vigente nesta unidade e, em cima disso, na definição de prioridades que podem ser impulsionadas pelo Poder Público para que experimentos viáveis de indiscutível repercussão social ou arranjos produtivos exitosos tenham outra ênfase e possam, de fato, alavancar o rumo da Paraíba. Do mesmo modo, é límpida a análise do governador João Azevêdo em torno da realidade do Nordeste, na qual se debruçará mais ainda quando vir a enfeixar a presidência do Consórcio Nordeste a partir de 2023. Uma exegese serena das palavras do governador na cerimônia de diplomação não poderá lhe negar o beneplácito pela avaliação correta da conjuntura nem negar-lhe intenções alvissareiras para elevar a Paraíba a patamares que o Estado ainda não experimentou de verdade.