Nonato Guedes
Ao anunciar a intenção de promover ajustes na estrutura administrativa do Estado em seu segundo mandato o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB) deixou claro que tem em vista criar condições para que seja alcançado um melhor diálogo com o governo federal que será comandado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No radar do gestor paraibano está o desenho que o presidente Lula procura imprimir ao ministério no terceiro governo, privilegiando, por exemplo, o Meio Ambiente, que será titulado por Marina Silva. Como efeito colateral, Azevêdo cogita ressuscitar as secretarias de Meio Ambiente e e da Ciência e Tecnologia, estas últimas como fruto do desmembramento de estruturas já existentes mas que, na lógica do governador, terão que ser dimensionadas.
“O que tiver de ministério, teoricamente, tem que ter um correspondente no Estado”, enfatizou Azevêdo numa entrevista ao Sistema Arapuan de Comunicação. No contexto deverá sobressair uma novidade: a instalação de uma Agência de Defesa Animal, seguindo modelo que já é adotado em vários Estados e que entrou na pauta da campanha eleitoral deste ano na Paraíba, agitada tanto por candidatos a mandatos proporcionais como por candidatos a cargos majoritários. Azevêdo demonstra, com essa sinalização, o desejo de estar antenado com as mudanças que estão orbitando na sociedade em termos de agenda proativa, com a incorporação de demandas que foram suscitadas em debates promovidos por meios de comunicação social ou por entidades de classe. Os postulantes ao governo no pleito de 2022 chegaram a firmar documentos assumindo compromisso com a defesa de causas que vieram à tona no bojo das discussões sobre a problemática estadual, bem como sobre sua inserção na realidade nacional.
Esse debate sobre criação de novas pastas ocorre, também, em meio a pressões que têm sido feitas por aliados políticos do esquema liderado pelo governador para serem contemplados na gestão a ser inaugurada. No pleito deste ano, pelo qual pôde, finalmente, concorrer outra vez pelo PSB, depois de quedas-de-braço para retomar o controle da legenda na Paraíba, João Azevêdo estreitou relações com pelo menos dois partidos, prestigiando-os em pretensões que foram colocadas – o Progressistas, do deputado federal Aguinaldo Ribeiro e do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, e o Republicanos, presidido pelo deputado federal Hugo Motta. O PP já saiu vitorioso com a presença de Lucas Ribeiro, filho da senadora Daniella (PSD) na chapa de Azevêdo, como candidato a vice-governador. Também deverá abocanhar secretarias, sem falar no “status” especial que será conferido à vice-governadoria, com perspectiva de funcionamento em Campina Grande, reduto político principal dos Ribeiro.
No campo da esquerda, o governador João Azevêdo deverá compor o secretariado do segundo governo com nomes oriundos do próprio PSB, a exemplo da deputada estadual Pollyanna Dutra, que foi candidata ao Senado e ficou em segundo lugar, e do deputado estadual Ricardo Barbosa, que ficou numa suplência à Câmara Federal, e com nomes ligados ao Partido dos Trabalhadores, não necessariamente filiados à legenda, que demonstraram alinhamento com o projeto político e de poder empalmado pelo chefe do Executivo, um aliado declarado do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva desde o primeiro turno. A conciliação de interesses e de ambições é uma tarefa delicada ou complexa, que passa, inclusive, por acomodações na Mesa da Assembleia na próxima legislatura, a serem definidas em eleição prevista ainda para fevereiro. João Azevêdo está atento às demandas que precisará encaminhar ou atender e procura agir com habilidade para evitar defecções ou insatisfações.
A preocupação em assegurar um alinhamento com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é plenamente compreensível e justificada, uma vez que nos primeiros quatro anos de governo, na Paraíba, João Azevêdo sentiu-se discriminado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) justamente por não ter afinidade política nenhuma com ele. Ainda que, pontualmente, o Estado tenha sido compensado em algumas áreas, como a da Saúde, ocupada por um médico paraibano, o doutor Marcelo Queiroga, no contexto geral a Paraíba ressentiu-se de soluções para reivindicações formuladas e da falta de investimentos maiores e de obras estruturantes que pudessem impulsionar o seu processo de crescimento. Durante o segundo turno da campanha, quando fechou na Paraíba com a candidatura de Azevêdo, o agora presidente Lula pediu-lhe que nomeasse uma obra estruturante, de impacto, que pudesse ser atendida na sua gestão. Essa postura reforçou expectativas favoráveis quanto ao diálogo com o governo do presidente Luiz Inácio, em conjunto com a disposição do mandatário eleito de se reunir com todos os gestores estaduais logo nos primeiros dias do terceiro mandato que irá chefiar. Azevêdo quer que seu segundo governo esteja em “sintonia fina” com o de Lula nas pautas de interesse público, e é fora de dúvidas que está se preparando para isso.