Nonato Guedes
Louve-se a habilidade política do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Vitorioso sob a bandeira da esquerda, ele formou um ministério que reflete a diversidade do cenário político nacional, atraindo figuras como Marina Silva, Sônia Guajajara, Fernando Haddad, Simone Tebet e Flávio Dino com expoentes do MDB e do Centrão, representado, também, pelo União Brasil, ao qual é filiado o ex-juiz Sérgio Moro, senador eleito e algoz de Lula na Operação Lava-Jato. A diversidade política impôs-se, conforme os analistas, pela necessidade da governabilidade. Em paralelo, Lula manobrou os cordéis de modo a pavimentar uma possível candidatura à reeleição, contrariando prognósticos baseados numa fala sua de que não pleitearia um novo mandato caso fosse eleito derrotando Jair Bolsonaro.
A coalizão que apoiou a candidatura de Lula, no primeiro ou no segundo turno da disputa presidencial, abriga presumíveis candidatos futuros à Presidência da República, cuja viabilidade estará atrelada ao respectivo desempenho à frente das Pastas que empalmam. Um desses pretendentes é o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo e filiado ao PSB, que, inclusive, foi contemplado com um ministério estratégico – o do Desenvolvimento, vencendo queda-de-braço com Simone Tebet, senadora do MDB, e ganhando projeção como coordenador da equipe de transição que representou o governo Lula no inventário da herança maldita legada pela Era Bolsonaro. De sua parte, Simone já foi candidata à Presidência nas eleições deste ano, tendo apoiado Lula no segundo turno e desempenhado um papel que lhe credenciou a ganhar holofotes na nova gestão a ser instalada.
Em relação a Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, já foi candidato ao Planalto em 2018 como substituto de Luiz Inácio Lula da Silva dentro do PT, quando este cumpria pena na Polícia Federal em Curitiba. É um quadro da inteira confiança de Lula, que decidiu apostar nele na Fazenda mesmo com restrições ou resistências ao seu nome, originárias do próprio Partido dos Trabalhadores. Simone Tebet, depois de muita polêmica e negociação, acabou sendo contemplada com a Pasta do Planejamento, e terá que se esforçar para não entrar em choque com Haddad em meio a algumas decisões de governo na delicada área econômica. A unidade é tudo que Lula precisará para dar partida, com êxito, ao terceiro mandato no qual está se investindo, consagrado em meio a fatos históricos como a anulação de condenações impostas pela Justiça e a sua própria reabilitação política-eleitoral, depois do desgaste com escândalos como o do mensalão e petrolão.
Dirigindo-se aos futuros ministros, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva foi categórico: “Teremos que trabalhar em dobro para reconstruir o país. Quero que vocês façam parte da história desse país, em um momento em que tivemos a coragem de assumir o Brasil em uma situação extremamente delicada, um Brasil que foi destruído”. Lula demonstra estar plenamente consciente da tarefa hercúlea que terá pela frente, partindo da constatação de que quase tudo foi desmontado na área social pela incúria e desídia do governo de Jair Bolsonaro. Disse o presidente eleito: “Teremos que remontar tudo outra vez, mas com mais competência, vontade e disposição, porque foi para isso que eu me candidatei à Presidência da República”. Essa postura realista do novo mandatário tem o condão de acalmar o mercado e superar resistências mais fortes que porventura persistam aos seus projetos para a nova gestão.
Lula deu sinais de que está atento, também, à articulação política dentro do Congresso Nacional para assegurar a chamada governabilidade, sem o que seu terceiro governo não conseguirá ir além no enfrentamento aos desafios e na solução do vasto contencioso que Jair bolsonaro e sua equipe estão deixando para trás. Nesse sentido, a escolha do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) para líder do governo no Congresso, é avaliada como reflexo da estratégia ofensiva que o Palácio do Planalto desencadeará sob a orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a partir de janeiro para tornar exequível o projeto de reconstrução nacional com o qual se afirmou comprometido no curso da campanha e que tem sido reiterado nas falas, de público, desde a manifestação do resultado das urnas. Desse contexto faz parte, também, a articulação que Lula pretende manter com os governadores, no sentido de que colaborem com as difíceis medidas que terão que ser tomadas pela nova gestão a se empossar no Brasil.