Por Fernando Patriota
Este ano marca o centenário de nascimento do poeta popular, escritor, compositor, intérprete musical, e pesquisador da cultura popular, Otacílio Batista. As homenagens do autor de “Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor” e do livro “Antologia Ilustrada dos Cantadores” têm início nesta terça-feira (3), com a abertura de um grande festival, em São José do Egisto, Pernambuco, município vizinho a Itapetim, cidade natal de Otacílio, também conhecido como “A Voz do Uirapuru”. As festividades vão até sexta-feira (6) e, ainda, homenageiam Helena Marinho, esposa do poeta popular Lourival Batista, o “Louro do Pajeú”, que também será homenageado por seus 108 anos de nascimento.
A vasta programação cultural envolve cantoria de viola, mesas de debates, lançamento de livros, recitais, plantio de mudas, roda de capoeira e muita música no palco principal “Zá Marinho”. Segundo a coordenação das homenagens, os diversos eventos acontecerão na Bodega Job Patriota e Centro Cultural João Macambira. Um dos pontos mais representativos do festival acontece será a Mesa Otacílio Batista, que será composta pelos jornalistas Fernando Patriota e Sandino Patriota, e pelo poeta e arquiteto, Cleudon Chaves Júnior. De acordo com Cleudon, a intenção, quanto à participação em mesa de debate sobre o centenário de Otacílio Batista, é trazer as considerações sucintas que possam ensejar uma compreensão mais ampla sobre a obra de Otacílio Batista, o papel por ele desempenhado e sua significância no universo da poesia popular nordestina.
“O roteiro envereda pela contextualização de componentes estéticos/poéticos predominantes na obra do autor, sem com isso pretender esgotar o assunto ou trazer verdades acabadas”, disse o poeta.
Otacílio Batista nasceu no dia 26 de setembro de 1923 e morreu no dia 5 de agosto de 2003, em João Pessoa. Depois de morar em São José do Egito, Tabuleiro de Norte, Fortaleza, foi na Capital paraibana onde um dos mais conhecidos e talentosos cantadores de viola fixou residência, ao lado de sua esposa, a professora Rosina de Freitas Patriota e seus 10 filhos. Otacílio chegou, com sua família em João Pessoa no dia 7 de julho de 1977, na antiga rodoviária da cidade, e nunca mais saiu. Certamente, os 26 anos que A Voz do Uirapuru morou em João Pessoa foi um dos períodos mais produtivos de sua extensa carreira profissional, com seis décadas dedica à cultura popular brasileira. Devido ao seu importante papel nessa área, Otacílio foi agraciado com os títulos de Cidadão Pessoense e Cidadão Paraibano.
Otacílio Batista Patriota era o mais novo dos três famosos irmãos Batista, sendo os outros, Louro e Dimas Batista. Todos eram descendentes de família tradicional de poetas e cantadores do Nordeste brasileiro. Filho de Raimundo Joaquim Patriota e Severina Guedes Patriota, o repentista participou pela primeira vez de uma cantoria em 1940, durante uma Festa de Reis em sua cidade natal. Daquele dia em diante, nunca mais abandonaria a vida de poeta popular. Participou de cantorias com celebridades como o Cego Aderaldo e conquistou vários festivais realizados em diversos estados brasileiros. Se apresentou para presidentes da república como Eurico Dutra, Juscelino Kubitschek, João Goulart e Jânio Quadros, para o Papa João Paulo II, Roberto Carlos e Pelé.
Detentor de vários prêmios e primeiros lugares nas cantorias, publicou vários folhetos, com os seguintes títulos: A morte do ex-governador Dixsept Rosado (RN); Versos à Câmara Cascudo: recebendo por esse, o troféu “Padre Cícero Romão Batista”, numa competição de quarenta poetas; Zé Américo em Versos; O Valor que o chifre tem (peleja com Dimas, seu irmão); Peleja de Zé Limeira com João da Mandioca;Peleja de Dom Pedro I com Pelé. Já gravou dez LPs. Publicou, em 1971, seu primeiro livro “Poemas e Canções”, cuja edição se encontra esgotada. Durante sua lona carreira, Otacílio já cantou para seis presidentes da República: Eurico Dutra, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Jânio Quadros; para Figueiredo e o Sarney. Em 1983 cantou para o Papa, em Fortaleza, Ceará.
A Fundação Casa de José Américo, em parceria com a Editora da Universidade Estadual da Paraíba (Eduepb) e apoio da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), lançou, em 2020, a reedição do folheto de cordel “Zé Américo em Versos”. O evento marcou o início do projeto “Como tem Zé na Paraíba” e foi transmitido no perfil @livrolive, da Livraria do Luiz. O lançamento da obra, que resume a biografia do escritor paraibano e patrono da FCJA, aconteceu durante uma roda de conversa, mediada pela o então gerente operacional do Centro de Cordel e Culturas Populares, Karin Picado, Fernando Patriota e o repentista Daudeth Bandeira. O presidente da Fundação Casa de José Américo, Fernando Moura, explicou que o projeto visa, por meio de cordéis, homenagear personagens da história da Paraíba, ligados às artes. Entre tantos, estão na lista: Zé Lins, Zé Siqueira, Zé Gomes Filho (Jackson do Pandeiro), Zé da Luz, Zé Dumont. “São inúmeros. A ideia é ligar todos estes personagens, estas figuras em cordel, começando por Zé Américo”, reforça.
Além de Antologia Ilustrada dos Cantadores, considerada a “Bíblia da Cantoria”, Otacílio Batista escreveu Poemas e Canções (1971); Poemas que o Povo Pede, Ria até Cair de Costa (1982); Caçador de Veados (1987); O que me falta fazer mais (1990); Poemas Escolhidos (1993); os autobiográficos Os Três Irmãos Cantadores (1995) e Dois Poetas do Povo e da Viola, com Oliveira de Panelas (1996). Ainda publicou A Criança Abandonada e outros poemas; Os Versos Apimentados do Velho João Mandioca e os cordéis: Zé Limeira, poeta dos disparates, Apelo ao Papa, Peleja de Otacílio Batista com Zé Ramalho, Dr. Alisando Cresce, Os Bichos contra a Ciência, O Namoro de Hoje em Dia e A Morte de Padre Zé. É autor da letra: Mulher Nova Bonita e Carinhosa faz o Homem Gemer sem Sentir Dor, gravada por Amelinha e Zé Ramalho.(1982). Essa música serviu de trilha sonora no seriado da Rede Globo, “O Lampião”. Outra letra sua, foi gravada por Luís Gonzaga – O Papa e o Jegue e Pinto do Acordeon gravou O Dólar e o Cruzado, também letra de sua autoria.
Discos – Sua discografia também é vasta. Durante sua carreira o poeta gravou: Cantador, Verso e Viola (com Lourival Batista, 1983); Viola, Verso e Viola com os irmãos Batista e Diniz Vitorino (1973); Repentistas, os gigantes do improviso, com Diniz Vitorino (1973); Apelo ao Papa, com Pedro Bandeira (1980); Otacílio Batista do Pajeú (1982); Só Deus improvisa mais, com Oliveira de Panelas, (1979), Meio e Meio Século de Viola (1989). Outras participações especiais: Coletânea de Repentistas: Canção Lua Divina, gravada por Oliveira de Panelas, 1975; Nordeste: Cordel, Repente: canção: Gado bom quem tem sou eu gravado por ele próprio.