Em reunião, ontem, em Brasília, com os 27 governadores, ministros do Supremo Tribunal Federal e parlamentares, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que foi pego de surpresa com os atos terroristas comandados por apoiadores bolsonaristas, com depredações das sedes dos Poderes na Capital Federal no domingo. Ele ponderou, porém, que era sabido que os acampados em frente a quarteis buscavam um golpe de Estado. Lula destacou que os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estavam reivindicando golpe de Estado por insatisfação com o resultado da eleição.
“Eles fizeram aquilo que a gente não esperava que eles fizessem”, enfatizou o mandatário. Segundo o presidente, o objetivo agora é reparar o que foi desqualificado nos últimos anos. “Todo mundo acompanhou quantas vezes a Suprema Corte foi ofendida, quantas vezes a Justiça Eleitoral foi ofendida, quantas vezes ameaçaram invadir a Suprema Corte. Eles querem golpe e golpe não vai ter”. Lula garantiu que o governo vai investigar os financiadores dos atos. “Essa gente, depois de duvidar da urna eletrônica, não quis acatar o resultado eleitoral. Não vamos permitir que a democracia escape”. Lula disse ainda que, desde a campanha, articulava uma reunião com os governadores para tratar de recursos, mas que a situação mudou após os ataques terroristas e eles foram “prestar solidariedade ao país e à democracia”.
Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, disse que é muito forte a simbologia dos ataques e da reunião dos governadores com os chefes dos Poderes. “Democracia vive de símbolos. Assisti atônito à falta de necessidade de invasão do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, casa que sempre esteve aberta aos brasileiros. Machucou demais. Nem na pandemia paramos nossos trabalhos”, comentou o deputado do PP de Alagoa. Lira afirmou que as instituições não pararão por causa dos ataques e citou a sessão da Câmara que iria deliberar sobre a intervenção federal no Distrito Federal. Veneziano Vital do Rêgo, presidente em exercício do Senado, afirmou que os parlamentares se reunirão hoje “mesmo sem portas” para deliberar sobre a interrvenção federal em Brasília. O gesto, conforme ele, tem simbolismo.
O governador do Pará, Helder Barbalho, disse que os Estados estão articulados para desmobilizar grupos golpistas. “O que vimos domingo não foi manifestação política, foi ato de terrorismo”, disse. Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, disse que a democracia está acima de diferenças políticas. “O respeito ao resultado das urnas ultrapassa qualquer divergência política”. Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, afirmou que era importante estar presente na reunião em sinal de solidariedade aos Poderes constituídos e à democracia. Ele disse que a democracia brasileira vai se tornar ainda mais forte.
“O Brasil conta, hoje, com sistema de educação gratuita, de saúde universal, de rede de proteção social e tem potencial para crescimento e construiu democracia a duras penas”, afirmou Tarcísio de Freitas. Fátima Bezerra, governadora do Rio Grande do Norte, falou em nome da região Nordeste. Ela afirmou que os governadores estão firmes e em sintonia com os outros Poderes na defesa da democracia e cobrou punição aos golpistas que atacaram os prédios dos três Poderes. “Para nós que sabemos quanto custou a democracia foi muito doloroso ver as cenas de domingo”. Celina Leão, governadora em exercício do Distrito Federal, representou o Centro-Oeste. Ela assumiu o cargo depois que o ministro Alexandre de Moraes determinou o afastamento do governador Ibaneis Rocha e defendeu o companheiro de chapa. “Ibaneis Rocha é um democrata, sabe o que significa o ataque aos poderes”, frisou.