Nonato Guedes
A mobilização dos governadores do Nordeste, enviando contingentes policiais a Brasília para dar suporte às medidas de segurança que foram ampliadas após ações terroristas de apoiadores bolsonaristas, está sendo considerada como um gesto forte e marcante, do ponto de vista simbólico, para evidenciar o apoio incondicional dos chefes de Executivo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na cruzada contra a escalada golpista que ainda viceja no país. Já na madrugada da segunda-feira, 9, governadores de Estados começaram a enviar policiais militares para ajudar no controle da ordem em Brasília. Os analistas ressaltam que além do suporte à segurança na Capital federal ficou explícito o recado da união em torno da defesa de Lula e da democracia e avaliam que foi uma resposta rápida, eficiente, por parte desses gestores.
Ainda na noite de domingo, o Consórcio Nordeste, presidido pelo governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), divulgou uma nota informando que todos os Estados da região colocavam suas tropas à disposição do governo federal. A Bahia foi o primeiro Estado a mandar tropas, cerca de 70 homens, no começo da madrugada de segunda-feira, e o governador Jerônimo Rodrigues (PT) foi até o aeroporto acompanhar o embarque. A atuação célere, conforme versões de bastidores, foi articulada para deixar claro o apoio a Lula e para passar uma mensagem de união. Os chefes de governos nordestinos, cientes de que outros governadores mais ligados a Bolsonaro não iriam enviar reforços, entenderam como fundamental que a região tomasse à frente no apoio naquele momento crítico.
A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), que é natural da Paraíba, declarou: “Não vamos abrir mão do Brasil que nós merecemos, que nós precisamos. O Brasil precisa de paz para que possamos, de mãos dadas e exercendo esse diálogo federativo tão saudável e necessário, trazer emprego e cidadania para o povo brasileiro”. Com isto, ela tentou resumir as expectativas dos seus colegas quanto a investimentos e benefícios que o governo Lula pode carrear para a região Nordeste, onde o ex-candidato do PT à Presidência da República alcançou expressiva maioria, já no primeiro turno, redobrada no segundo turno. O trato com as Polícias Militares, por sinal, é um dos desafios já conhecidos dos governadores de esquerda.
Conforme uma reportagem do UOL, em Estados do Nordeste, governadores encontraram resistências de policiais militares no cumprimento da ordem de encerrar os acampamentos golpistas. Uma fonte revelou que mesmo após a decisão do STF determinando o fim das aglomerações golpistas, e com ordens expressas de governador e secretário de Segurança, houve demora da parte de batalhões designadas para irem até um dos pontos de concentração de manifestantes. Num dos casos, os manifestantes deixaram o local antes da chegada do reforço da polícia. E, de acordo com o relato, os poucos policiais que lá estavam pediram quase que ‘por favor’ para que saíssem. “Não seria assim se fosse outro público no protesto”, admitiu essa fonte. Os governadores nordestinos ficaram preocupados com o caos reinante em Brasília, onde o governador afastado, Ibaneis Rocha, era bolsonarista. Para eles, teriam havido insubordinações que resultaram no caos na Capital Federal.
A reportagem do UOL acrescenta: “Diante de um cenário de PMs bolsonarizados, os chefes dos Executivos acharam que seria importante demarcar território para evitar violência de atos fora de Brasília. Além disso, policiais de fora poderiam ser usados com mais confiança pelos interventores federais. Calcula-se que o processo de bolsonarização que acometeu as Polícias Militares chegue, no mínimo, a 80% da tropa hoje, o que demandará um trabalho de reeducação para que focos de infiltração ideológica sejam extirpados ou neutralizados dentro das corporações, fazendo com que elas se ocupem de missões constitucionais que estão delimitadas. Os episódios de Brasília, na opinião dos governadores nordestinos, acabaram sendo didáticos para que eles próprios possam repensar funções institucionais de comando nos Estados sob sua administração. No que diz respeito à relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as expectativas continuam sendo promissoras por parte não somente dos governadores como de outras lideranças políticas que apoiam declaradamente o governo do petista. O que se alega apenas é que deverá demorar um pouco mais a definição de prioridades contemplando a região por parte do governo federal, em virtude de urgências que eclodiram com as manifestações antidemocráticas que provocaram devastação na Capital Federal. Mas o apoio ao governo do presidente Lula na região Nordeste continua de pé, asseguram.