Nonato Guedes
Não deixa de ser deplorável a conduta de políticos bolsonaristas paraibanos que entraram na “contramão” da História ao sinalizar apoio a atos antidemocráticos que têm sido praticados no País, endossando, mais recentemente, atentados terroristas cometidos em Brasília que causaram o repúdio de setores da comunidade internacional. Parlamentares como o deputado federal eleito Cabo Gilberto Silva, do PL, o deputado estadual reeleito Walbber Virgolino e o ex-candidato a governador e a prefeito de João Pessoa, Nilvan Ferreira, também do PL, de certa forma ratificaram os espetáculos que transformaram Brasília em praça de guerra, depois de terem incitado ou estimulado manifestações golpistas como as que ocorreram em acampamentos na frente de quarteis.
Esses políticos, a pretexto de defender a democracia – que para eles é um conceito inteiramente abstrato e equivocado – acabaram contribuindo para engrossar a polifonia de vozes que se levantaram em defesa do autoritarismo, das medidas de exceção, da volta de intervenção militar. Fizeram isto, em parte, por convicção, em parte por engodo eleitoreiro para capturar votos de eleitores incautos submetidos a uma lavagem cerebral sem precedentes que consiste em agitar o fantasma do regime comunista só perceptível nas mentes de falsos profetas e doutrinadores que se arvoram de defensores de valores tradicionais mas que, na verdade, fazem de tudo para destruir esses valores e ameaçar as liberdades públicas duramente conquistadas desde a redemocratização de 1985 no Brasil.
Os ataques desses políticos a instituições como o Supremo Tribunal Federal, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a imprensa revelam despreparo para o verdadeiro convívio democrático, resultante da ignorância sobre a natureza dos regimes políticos e institucionais, e inconformismo ou irresignação com o veredicto das urnas que tornou Jair Bolsonaro o primeiro presidente não reeleito no cenário contemporâneo. Esses políticos manifestaram-se através de postagens em redes sociais, onde não há a mínima preocupação em esclarecer a opinião pública sobre os fatos que estão se sucedendo no país, mas, ao contrário, o interesse em semear dúvidas, colocar em xeque as liberdades e fomentar a baderna generalizada, que foi o que se viu no “assalto” aos Poderes na Capital Federal. A linguagem usada é sempre dúbia, propositadamente ensaiada para disseminar a alienação junto a segmentos menos informados da realidade brasileira.
Numa das postagens, por exemplo, o deputado Walbber Virgolino bradou “O povo pelo povo em sua fúria incontrolável” para enfatizar uma coleção de vídeos sobre a invasão ao Congresso Nacional. Apesar de declarar na publicação que é contrário à violência, Virgolino destacou na legenda que “hoje ficou demonstrado que ninguém é invencível, intransponível e inquebrantável, nem mesmo o sistema”. Não deixa de ser uma postura curiosa, pela contradição que encerra. O parlamentar ataca o Legislativo, do qual faz parte na Paraíba, o que já havia sido feito, em entrevistas a emissoras de rádio, pelo deputado federal eleito Cabo Gilberto. Essa contradição foi notada, também, nas dúvidas levantadas sobre a segurança das urnas eletrônicas e a validade do sistema eleitoral brasileiro, pelo qual esses políticos concorreram e foram eleitos. Em última análise, eles estavam questionando as próprias eleições que conquistaram, num cenário absolutamente surrealista somente possível na remanescente Era bolsonarista, que ainda deixou sequelas fortes na malta de apoiadores e seguidores fanáticos do ex-presidente fujão.
Em paralelo com o restabelecimento da ordem democrática, o Brasil precisa passar por um revisionismo cultural e político para desmistificar o festival de mentiras e sandices inculcadas nos últimos quatro anos nos cérebros de pessoas vulneráveis ou suscetíveis de adesão a teorias conspiratórias, a notícias inteiramente deformadas, a fake news espalhadas com tanta eficácia através das redes sociais, poderoso instrumento de comunicação ainda não devidamente regulamentado no Brasil. Os políticos paraibanos que repercutiram a desinformação alarmista dentro da sociedade ainda buscarão sobrevida nos mandatos para os quais foram eleitos ou reeleitos, se não vierem a ser punidos lá na frente, no bojo de inquéritos que apuram condutas antidemocráticas. Mas perderam a credibilidade para representar o eleitorado, o povo da Paraíba. São produtos do retrocesso político, da incivilidade e da falta de cultura, estando, por isso mesmo, fadados a exercer um papel melancólico e triste na cena estadual e nacional, oferecendo sua colaboração para o atraso e, pior ainda, para a disseminação do terrorismo ou da violência política.