Nonato Guedes
Como reflexo da posição de liderança que o governador João Azevêdo (PSB) assumiu entre governadores da região, depois de se investir na presidência do Consórcio Nordeste, a Paraíba, mais precisamente João Pessoa, sediará no próximo dia 20 a reunião preliminar de chefes de Executivo para elaboração de pautas que serão submetidas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na reunião agendada para o dia 27 em Brasília. O Consórcio Nordeste foi criado em 2019 pelos nove Estados nordestinos, tendo como filosofia atuar como ferramenta para atrair investimentos e alavancar projetos de forma integrada para a região. Entre as possibilidades abertas estavam a realização de compras conjuntas e a implementação integrada de políticas públicas, em áreas essenciais como educação e segurança.
O governador paraibano, numa deferência ao Consórcio Nordeste, foi o primeiro a ser recebido em audiência pelo presidente Lula nos últimos dias e saiu do Palácio do Planalto destacando a vigência de uma nova postura na ação do governo federal, baseada no diálogo e na disposição do mandatário de conversar com agentes públicos e gestores para produzir ações positivas em favor da sociedade. O ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, confirmou a deferência por parte do presidente da República a “essa iniciativa interfederativa dos governadores do Nordeste, que tiveram papel fundamental no enfrentamento à pandemia de covid-19 e serão grandes parceiros na agenda de desenvolvimento, com a retomada de obras”. O presidente Lula tem interesse em que os governadores desta região apresentem projetos prioritários, na saúde, na educação, na infraestrutura. O governador João Azevêdo já havia afirmado à mídia sulista que Lula já tinha ouvido os governadores mais do que Jair Bolsonaro em quatro anos de mandato.
Bolsonaro chegou a comandar orquestrações preconceituosas e conflitos permanentes com os gestores nordestinos, desqualificando o trabalho do próprio Consórcio Nordeste e demonstrando irritação com as medidas que eles tomaram com vistas ao isolamento social na fase de pico da pandemia, como forma de evitar agravamento da situação de calamidade. Chamou os governadores, várias vezes, de “ditadores”, recusando-se a manter um diálogo aberto com eles em torno não só das outras reivindicações da região mas, também, da própria estratégia de enfrentamento à pandemia de covid. Ainda hoje, analistas políticos consideram que os governadores nordestinos conseguiram oferecer respostas à altura e com certa rapidez porque não ficaram dependendo da boa vontade de Bolsonaro e de seus ministros e, também, porque preferiram dar ouvidos à Ciência, seguindo as recomendações de especialistas médicos sobre as medidas profiláticas que teriam que ser tomadas em contraponto a soluções improvisadas e ineficazes prescritas pela equipe do ex-presidente negacionista.
Sabe-se que o presidente Lula já determinou à equipe econômica do governo que avalie a possibilidade de liberar aos governadores nordestinos o acesso de parte do Fundo Constitucional do Nordeste (FNE), cujos recursos, atualmente, são direcionados a empresas. Lula tratou do assunto com o governador paraibano João Azevêdo na reunião em Brasília e, conforme vazou, a proposta é de que 30% do Fundo esteja disponível para os Estados a fim de que possam financiar projetos de infraestrutura. Atualmente o Banco do Nordeste elabora e submete ao governo federal e à Sudene proposta de aplicação de recursos. Mais de R$ 34 bilhões devem ser investidos pelo Fundo em 2023, de acordo com as estimativas oriundas de gabinetes oficiais de Brasília. O presidente da República pediu que os ministros Rui Costa, da Casa Civil, e Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, tomassem nota e levassem o tema para ser avaliado pelo Ministério da Fazenda.
O Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste tem a esperança de que, neste terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tenha início o processo de reestabelecimento da relação republicana entre todos os entes que governam o país. Os pleitos do Nordeste serão apresentados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva de forma conjunta e a região deu exemplos para todo o país na área de saúde e no enfrentamento à pandemia. João Azevêdo quer que o governo federal ouça os governadores do Nordeste sobre as nomeações de cargos considerados estratégicos para a região que ainda não foram escolhidos pela nova equipe. Em termos gerais, a expectativa é de avanços para o Nordeste no setor de turismo e na produção de energias renováveis. Como enfatiza o governador João Azevêdo, o Nordeste não pode ser visto hoje como aquele de 50 anos atrás. “Somos uma região que gera riqueza muito grande para o país”, frisou, aludindo à mudança de perfil de um Nordeste que era estigmatizado como “pedinte”.