Nonato Guedes
Político experiente e preparado, curtido em vitórias e revezes no cenário político paraibano, o deputado estadual Hervázio Bezerra (PSB), que habitualmente tem uma postura moderada, gerou polêmica entre expoentes de vários partidos ao qualificar de “oposição doce” o agrupamento que não está no poder no Estado por ter perdido as recentes eleições, por sinal acirradas, ao governo. Ele garante que não houve nenhuma intenção desrespeitosa no conceito que firmou referindo-se a adversários do governador João Azevêdo, que foi reeleito, e cujo esquema avança pela continuidade do comando da Assembleia Legislativa do Estado, e que teria feito apenas uma análise subjetiva em cima dos resultados das urnas e dos perfis dos que foram eleitos ou reeleitos, por exemplo, para a Casa de Epitácio Pessoa, um Poder que tem assumido posição de protagonismo nos últimos anos.
Parlamentares recém-eleitos, como George Morais, do DEM, exortaram Hervázio a não confundir oposição equilibrada com oposição radical que aposta no “quanto pior, melhor”, advertindo que os políticos situados fora do arco do governo têm consciência das suas responsabilidades sociais e dos compromissos com o desenvolvimento da Paraíba, bem como com as reivindicações que têm sido agitadas por diferentes segmentos da sociedade. Numericamente o bloco de apoio ao governo João Azevêdo na ALPB é majoritariamente expressivo, agregando integrantes do PSB, Republicanos, PP, PSD e até do PT. Isto se refletirá na bem-sucedida articulação para que a presidência do Legislativo continue sob o pálio do deputado Adriano Galdino, enfeixando, inclusive, os próximos dois biênios. Já as matérias que vão ser encaminhadas pelo segundo governo à ALPB deverão contemplar projetos prioritários para a população, tornando temerária uma radicalização por parte de não-aliados.
Talvez a polêmica tenha derivado da colocação de Hervázio, considerada infeliz ou “irônica” para com os que se elegeram combatendo o esquema do governador João Azevêdo. Mas tal colocação não deixa de exprimir uma situação de não-confronto que se desenha no horizonte político paraibano para este ano. Embora muitos dos derrotados ainda estejam lambendo as feridas dos revezes, outros expoentes começam a se preocupar, concretamente, com a desarticulação da oposição para fazer frente ao governo João Azevêdo II. No primeiro mandato, o bombardeio foi mais intenso contra João, a partir de problemas internos desencadeados pelo rompimento com o antecessor Ricardo Coutinho (PT) e, mais na frente, pelo afastamento de aliados como o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e o deputado federal Efraim Filho (União Brasil), que acabou se elegendo ao Senado pela oposição. João parecia encurralado e as reposições feitas na base de apoio pareciam insuficientes para fortalecer o seu projeto de reeleição.
Na oposição projetou-se, além de Efraim Filho, o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), que conseguiu empurrar a decisão ao governo do Estado para o primeiro turno e, ao mesmo tempo, infiltrar-se em colégios eleitorais influentes e decisivos da geografia política paraibana como João Pessoa e Campina Grande, tendo o governador João Azevêdo redirecionado sua estratégia para concentrá-la nos municípios do interior, de onde extraiu votos indispensáveis para ser reconduzido ao Palácio da Redenção. Azevêdo foi combatido ainda, na esquerda, pelo ex-governador Ricardo Coutinho e, na direita bolsonarista, por nomes como o comunicador Nilvan Ferreira, o pastor Sérgio Queiroz e o deputado federal eleito Cabo Gilberto Silva. Ainda assim, logrou sair do pleito com o troféu nas mãos, tendo atraído o PP, através de Lucas Ribeiro, para sua chapa, como vice, e a deputada Pollyanna Dutra, do PSB, para candidatar-se ao Senado. Outras lideranças tendem a se incorporar ao projeto de governo de João em sua segunda versão, como tem sido especulado.
Na oposição propriamente dita há uma zona de sombra cercando prognósticos quanto ao seu futuro no Estado da Paraíba. O deputado Pedro Cunha Lima, que se esperava fosse o líder natural do bloco, até em função do seu desempenho na corrida eleitoral, anda sumítico até mesmo de articulações políticas e silenciou completamente sobre os últimos acontecimentos de conotação terrorista que se verificaram em Brasília. O senador eleito Efraim Filho passa a se credenciar naturalmente a exercer o papel de liderança, mas ele é cauteloso para não atropelar pretensões ocultas nem desagregar um esquema que precisará demonstrar força já nas eleições municipais de 2024 para prefeituras importantes como as de João Pessoa, pilotada por Cícero Lucena, aliado de João Azevêdo, e Campina Grande, nas mãos de Bruno Cunha Lima, que tenta viabilizar sua candidatura à reeleição enfrentando postulações dentro do próprio bloco em que atua. A oposição na Paraíba, esta é que é a verdade, continua batendo cabeça – tanto à direita como à esquerda. De sua parte, João Azevêdo espera obter frutos resultantes da parceria com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas ele sabe que precisará muito mais do que isso para poder sustentar uma posição hegemônica na correlação de forças políticas vigente atualmente na Paraíba. Até lá, porém, o conceito de “oposição doce” continuará como marca a perseguir os que desejam fazer oposição a Azevêdo e apeá-lo do Palácio.