Nonato Guedes
A nova legislatura que se instalará na Câmara dos Deputados em fevereiro assinalará a volta à bancada paraibana do deputado Luiz Couto, que ficou afastado de mandato político por ter concorrido ao Senado em 2018 sem êxito. Militante histórico do Partido dos Trabalhadores, com uma vigorosa atuação em defesa dos Direitos Humanos, e sacerdote com formação universitária, Luiz Couto candidatou-se novamente a deputado federal em 2022 e foi vitorioso, enquanto o deputado Frei Anastácio Ribeiro, que postulou a reeleição, alcançou insucesso. Anastácio já foi anunciado pelo governador João Azevêdo (PSB) como secretário da Agricultura Familiar e do Desenvolvimento do Semiárido na sua segunda gestão, Pasta que chegou a ser ocupada por Luiz Couto no início do primeiro governo, em 2019.
O foco da atuação parlamentar de Luiz Couto é coerente com sua trajetória política-partidária e abrange a defesa do Partido dos Trabalhadores e do terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com cujas pautas o deputado eleito se identifica na plenitude. Couto também fará contraponto aos remanescentes da direita que na tribuna e no plenário da Câmara ousarem defender o governo e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a exemplo do deputado federal eleito Cabo Gilberto Silva (PL), fanático apoiador do antecessor de Lula. Ontem, em declarações, Couto já se manifestou em apoio às denúncias do presidente Lula sobre massacre de povos indígenas yanomamis na gestão de Jair Bolsonaro, com omissão e complacência por parte de ministros de Pastas influentes na estrutura de poder. Luiz Couto chegou a defender a prisão de Bolsonaro, na sequência das investigações que estão sendo abertas contra o ex-presidente da República por considerar que a postura dele diante de casos como esse foi genocida.
Couto retorna à cena política estadual, com desdobramento no plano federal, num momento em que líderes de diretórios do PT nos Estados têm pedido ajuda do próprio Palácio do Planalto para fortalecer a legenda a nível municipal, tendo em vista, já, a disputa de eleições para prefeito em 2024, inclusive, em Capitais. Ao que se apurou, as demandas de fortalecimento do PT estão sendo encaminhadas através do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), que, por sua vez, tem tido uma intensa agenda de conversas com deputados, principalmente correligionários. Os petistas também reivindicam cargos federais importantes nos Estados, principalmente no Nordeste, em autarquias como a Sudene, mas estão conscientes de que terão que se adaptar às acomodações indispensáveis para o governo do presidente Lula, que administra na base da coalizão, atraindo apoio, até, de forças políticas que estão situadas dentro do Centrão, agrupamento conservador e fisiológico que é bastante influente na Câmara dos Deputados.
Em relação à disputa pela prefeitura de João Pessoa, o PT paraibano deverá cogitar candidatura própria, independente do apoio do governador João Azevêdo à candidatura do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição. O nome do deputado estadual eleito Luciano Cartaxo, que foi prefeito da Capital por dois mandatos consecutivos, volta a entrar nas cogitações, mas até lá outras soluções poderão figurar no radar. O deputado federal Luiz Couto foi candidato a prefeito de João Pessoa pelo PT em pelo menos duas oportunidades – 1996 e 2000, sendo batido nas urnas por Cícero Lucena, que mais de uma década depois retornou ao comando da edilidade. Na verdade, como afirma o presidente estadual do PT na Paraíba, Jackson Macêdo, as discussões sobre a atuação do partido no contexto atual estão apenas começando e deverão ser aprofundadas nas tradicionais plenárias da agremiação petista. O ex-governador Ricardo Coutinho, que foi candidato ao Senado em 2022 pelo PT e perdeu, mantém-se na oposição a Azevêdo, embora este tenha tido o apoio de Lula no segundo turno no ano passado.
Para além dos embates envolvendo a disputa futura no calendário – a de prefeito, o deputado federal eleito Luiz Couto prepara-se para pontuar sua atuação em Brasília alistando-se como um cruzado em defesa da democracia, diante das ameaças permanentes que têm sido agitadas contra o regime democrático pelos partidários de Jair Bolsonaro, insuflados ou diretamente estimulados pelo ex-mandatário, apesar dos sinais de desgaste e de isolamento que este começa a enfrentar dentro do próprio partido que o acolheu, o PL. Couto projetou-se na Câmara Federal como relator da CPI criada para apurar a atuação de grupos de extermínio na região Nordeste, e indiciou, no documento final elaborado, autoridades judiciárias, políticos e magistrados que foram considerados cúmplices do quadro de clandestinidade em que tais milícias atuavam. O engajamento na causa dos Direitos Humanos rendeu a Couto reconhecimento nacional em diferentes fóruns – e ele se revela novamente comprometido com a bandeira, por entender que o bolsonarismo gerou bolsões terroristas radicais que precisam ser enquadrados pela ordem democrática no país.