O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi a maior ameaça ao exercício da liberdade de imprensa no Brasil em 2022, conforme apontam os números do Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, elaborado pela Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e divulgado na quarta-feira, 25. De acordo com o levantamento, o ex-presidente foi o principal agressor de jornalistas durante os quatro anos do seu mandato. De 2019 a 2022, ele realizou 570 ataques a veículos de comunicação e aos jornalistas, numa média de 142,5 agressões por ano. Um ataque a cada dois dias e meio.
O ex-presidente da República aparece como o principal agressor, responsável por 104 ataques (27,66% do total de ataques registrados no ano passado). O número foi menor que os 147 ataques de 2021 e os 175 registros de 2020. Uma das razões para isso é que o presidente ficou em silêncio após a derrota para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, de boca fechada, ataques não foram atribuídos a ele, na opinião do colunista do UOL Leonardo Sakamoto. Porém, seus registros agrediram a imprensa em seu nome. Manifestantes bolsonaristas representaram outros 80 casos – 21,7% do total de ataques. Em 2021, o relatório havia apontado que apenas 4,65% dos casos (20 ataques) partiram de manifestantes bolsonaristas.
O salto no número de ocorrências está diretamente relacionado aos bloqueios e acampamentos golpistas que pipocaram em todo o país após o resultado das eleições. “Não é necessário que o então presidente demandasse uma ação contra jornalistas, apesar de a Polícia Federal estar investigando qual o grau de responsabilidade de Bolsonaro nos atos golpistas. Seu comportamento e seus discursos, acusando a imprensa de mentir quando a narração dos fatos lhe desagradava, alimentaram as milícias que agiam para defendê-lo durante anos, aumentando o risco do trabalho jornalístico”, acrescentou Sakamoto. O ecossistema de agressão bolsonarista é completado pela ação de dirigentes da EBC, Empresa de comunicação sob o comando do governo federal, com 57 casos (15,16%) em 2022.
Entre as violências listadas pelo relatório há censura, descredibilização, agressões verbais, ataques virtuais, ameaças e intimidações, agressões físicas, assédio judicial, violência contra a organização dos trabalhadores da imprensa, impedimentos ao exercício profissional, racismo, atentados e assassinatos, como o do jornalista Dom Philips, morto junto com o indigenista Bruno Pereira, no Vale do Javari. Logo após o caso ganhar repercussão internacional, Bolsonaro, por duas vezes, tentou atribuir a ambos a responsabilidade por sua própria morte. Em 7 de junho de 2022, disse: “Realmente…Duas pessoas apenas, em um barco, em uma região daquela, né, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer”. A Polícia Federal apontou na segunda, 23, que os assassinatos tiveram um mandante. As evidências apontam para Ruben Villar, conhecido como Colômbia, líder de uma organização criminosa de pesca ilegal na região da Terra Indígena Vale do Javari.