Nonato Guedes
Enquanto se prepara para tomar posse no mandato de senador pela Paraíba, sucedendo Nilda Gondim (MDB) que completou o mandato de José Maranhão, o deputado federal Efraim Filho (União Brasil) convive com a pressão dentro do partido para se alinhar à base de apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), renegando a sua postura de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) demonstrada na campanha do ano passado. No calor das apurações que sinalizaram derrota de Bolsonaro no segundo turno, Efraim Filho anunciou que pretendia adotar posição de independência, sem fazer parte da base lulista, mas sem radicalizar contra projetos do governo de interesse público. Garantiu que teria relação republicana com o governador paraibano João Azevêdo (PSB), apoiador incondicional de Lula no Estado.
O parlamentar, que se dedicou a férias depois da maratona eleitoral em que derrotou as candidaturas do ex-governador Ricardo Coutinho (PT) e da deputada estadual Pollyanna Dutra (PSB), deixou alinhavada a expectativa de poder se destacar em cargos importantes no Congresso e, sobretudo, cumprir a promessa de entregar à Paraíba o seu “melhor mandato” na biografia política que carrega. No retorno ao “front” político, Efraim Filho testemunha a divisão latente no União Brasil, que se formou mediante a junção do DEM com o PSL. O partido ocupa ministérios no governo do presidente Lula, dentro de uma estratégia do Planalto para isolar o PL, que tem ameaçado formar bloco poderoso com o PP e o União Brasil. Na Paraíba, através da direção nacional, cargos de representação federais cobiçados por partidos da base de Lula já estão sob controle do União Brasil.
Na verdade, o grande artífice do projeto de adesão do União Brasil ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido o presidente nacional da agremiação, Luciano Bivar (PE), que chegou, inclusive, a discutir com Lula uma adesão durante a campanha eleitoral, o que se tornou inviável por causa da composição da sigla com muitos nomes ligados ao então presidente Jair Bolsonaro, como o ex-juiz Sérgio Moro, que foi eleito senador e que foi responsável pela condenação que conduziu Lula à prisão e tornou-o inelegível em 2018 na disputa vencida por Bolsonaro. Pessoalmente, Efraim Filho teve uma boa relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro, festejando como uma de suas conquistas junto a seu governo a desoneração de impostos cobrados em diferentes setores de atividade, uma medida que teve grande repercussão e cujo impacto Efraim Filho procurou canalizar na campanha, apresentando-se ao eleitorado como um legislador proativo.
Político que sempre assumiu o seu perfil de centro-direita, o deputado paraibano, futuro senador, chegou a ser aliado do governador João Azevêdo na primeira gestão, quando seu pai, o ex-senador Efraim Morais, assumiu uma secretaria de Estado, tendo renunciado quando o filho decidiu romper com o socialista e passar a compor a chapa do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), candidato de oposição ao governo. Quando deu partida ao divisor de águas na cena política estadual, Efraim Filho já dispunha de uma retaguarda segura para avançar na competição pela única vaga de senador que estava em jogo. Fundamental nesse processo de sustentação da candidatura foi a manutenção do compromisso do Republicanos, presidido pelo deputado federal Hugo Motta, mesmo com o partido apoiando simultaneamente a reeleição de João Azevêdo ao Executivo. Efraim alcançou 617.477 votos, ou 30,82% do total de votos válidos, obtendo diferença de 200 mil sobre Ricardo Coutinho e de 150 mil sobre Pollyanna Dutra, que foi lançada faltando 45 dias para a eleição depois que o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do PP, refugou a hipótese de concorrer ao Senado, como havia cogitado publicamente.
A atuação de Efraim Filho no Senado vai se tornando uma incógnita para analistas políticos da Paraíba e para os próprios eleitores, diante da falta de maior transparência da sua parte e das contradições que cercam o próprio panorama político nacional, com alianças aparentemente incoerentes que estão sendo fechadas pelas cúpulas partidárias, independente de consulta mais aprofundada às chamadas bases nos Estados e municípios. De concreto, há a palavra empenhada pelo senador eleito de que hasteará a bandeira da Paraíba em primeiro lugar e que, desse ponto de vista, não titubeará em pleitear audiências com autoridades federais e em encaminhar demandas que estão no seu radar. Na campanha, ele deixou claro pelo menos um ponto: não votará favoravelmente a matérias que impliquem em sacrifícios pesados da carga tributária para o cidadão comum. Fora daí, tudo é expectativa em relação ao verdadeiro desempenho que ele terá na tribuna e no plenário do Senado Federal como expoente da nova legislatura que se iniciará no dia primeiro de fevereiro.