Nonato Guedes
O economista e escritor Francisco Sales Cartaxo Rolim, “Frassales”, presidente da Academia Cajazeirense de Letras e ex-secretário de Planejamento da Paraíba, no governo Ivan Bichara Sobreira, na década de 70, considera que a realidade do Nordeste, atualmente, é outra, “muito diferente”, se comparada com décadas passadas, em relação às políticas públicas de desenvolvimento. Ao comentar, em redes sociais, a primeira reunião de governadores do Consórcio Nordeste, que foi presidida pelo paraibano João Azevêdo, em João Pessoa, “Frassales” disse que os nove gestores da região estão afinados com as diretrizes gerais do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, respeitadas as divergências partidárias, como no caso de Raquel Lyra (PSDB), de Pernambuco.
Pontua Cartaxo: “É brutal o contraste nas relações federativas, quando se compara com a gestão de Jair Bolsonaro. Melhor para todos, brasileiros e nordestinos. Por quê? Porque tornou possível enxergar com clareza o verdadeiro papel do Nordeste na economia e na política nacionais, agora inserido numa agenda positiva. Não pode ser tratado como área de pobreza carente de transferências sociais de renda. Esse estigma foi alimentado pela histórica ignorância preconceituosa das elites empresariais e intelectuais do Sul e Sudeste, ao interpretar o Brasil profundo. Hoje, a realidade é diferente”. Formado em Direito, pós-graduado em desenvolvimento econômico, “Frassales” foi técnico da Sudene e do BNB, chefe de gavunete da Sudene, secretário-adjunto da Fazenda em Pernambuco e autor de livros como “Política nos currais” e “Do Bico de Pena à Urna Eletrônica”.
Para ele, a economista Tânia Bacelar, que participou como expositora do Fórum do Consórcio Nordeste em João Pessoa, captou bem o sentido da mudança que a região vivencia hoje e, por isso, explicou aos governadores as teses que, aliás, começou a defender há 20 anos, quando presidiu o Grupo de Trabalho, instituído por Lula para cuidar da recriação da Sudene, extinta por Fernando Henrique Cardoso. “Naquela época, o formato que sugeriu para a Sudene era diferente do modelo imaginado e posto em prática por Celso Furtado. Ora, o Nordeste havia mudado, exigindo intervenções criativas com projetos e instrumentos inovadores para combater as desigualdades econômicas e sociais. Mas a nova Sudene não vingou. Os governadores sentiram-se ameaçados em seus poderes e, ao invés do debate para aperfeiçoar a proposta de Tânia, enterraram-se em conchavos de gabinete”, analisa Cartaxo.
O ex-secretário de Planejamento da Paraíba afirma que, na conjuntura atual, os caminhos para o desenvolvimento inclusivo estão nas potencialidades criadas com a interiorização do ensino superior, na educação, e complexos de saúde, nos núcleos avançados de tecnologia, no moderno centro automotivo de Goiana (PE), no aproveitamento da riqueza do bioma caatinga e da água do Rio São Francisco. “Sol e praia turístico convivem, agora, com vento e sol da nova matriz energética. A seca, com seus efeitos perversos, virou literatura e história. Os problemas do Nordeste passam a integrar o elenco de desafios de cunho nacional”, avalia. Cartaxo conclui: “Tânia Bacelar mostra isso com a clareza dos sábios. E aponta um diferencial: os governadores do Nordeste realizaram o equilíbrio financeiro de seus Estados. O que não fez o Brasil nem São Paulo, nem o Rio de Janeiro e nem o Rio Grande do Sul”. Daí, a sua conclusão de que a conjuntura favorece o impulso de projetos de desenvolvimento na região nordestina.