Nonato Guedes
Hoje é o último dia do mandato do advogado Pedro Oliveira Cunha Lima (PSDB) como deputado federal pela Paraíba. Sua jornada parlamentar foi meteórica mas Pedro é detentor de um valioso “capital político”, pela sua participação surpreendente na campanha ao governo do Estado em 2022, quando conseguiu levar a disputa para o segundo turno contra o governador João Azevêdo (PSB), que foi reeleito. Filho do ex-governador e ex-senador Cássio Cunha Lima, aos 34 anos, Pedro seria o mais jovem governador da história da Paraíba em caso de vitória. Obteve 1.104.963 votos, o equivalente a 47,49% dos sufrágios válidos e foi o mais votado em cinquenta e três municípios paraibanos, com destaque para a sua performance na Grande João Pessoa e em Campina Grande.
Mestre em Direito Constitucional pela Faculdade de Coimbra, em Portugal, Pedro Cunha Lima cumpriu dois mandatos na Câmara. Em 2014, foi o mais votado, com 179.886 votos e se reelegeu em 2018 com votação bem inferior. Presidiu a Comissão de Educação da Casa, integrou outras comissões como a de Constituição e Justiça e ganhou notoriedade na imprensa por denunciar privilégios e mordomias nos Poderes, a partir do Legislativo. Ele ficou conhecido, também, por ter aberto mão de valores destinados a despesas pessoais, os chamados “auxílios” pagos pela Câmara. Remanejou as verbas do seu gabinete para instituições sociais carentes da Paraíba, tais como hospitais e entidades privadas ou autônomas. Ele votou pela admissibilidade do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) no plenário da Câmara e presidiu, entre outros cargos, o Instituto Teotônio Vilela, organismo de estudos políticos do PSDB.
Na campanha eleitoral ao governo do Estado, ele foi contundente no papel de oposição ao governo João Azevêdo, formulando críticas em confrontos diretos com o chefe do Executivo nos meios de comunicação (rádio, televisão e internet). Também criticou duramente o orçamento da Assembleia Legislativa do Estado, que considerava “excessivo”, tendo proposto, várias vezes, que os recursos do Legislativo fossem relocados para atender a creches nas escolas da rede pública de ensino e para investimentos outros na Educação e na Saúde. O parlamentar fez “cavalo de batalha” da proposta de extinção da Granja Santana, residência oficial do governador do Estado, também mencionando gastos excessivos com alimentação e mordomias. Ele propunha que a Granja Santana fosse transformada em parque ecológico para acolher crianças e jovens interessados em atividades lúdicas e educativas. As denúncias de Pedro Cunha Lima tiveram repercussão, mas não provocaram maior polêmica, como ele esperava.
Neto do ex-governador Ronaldo Cunha Lima, que residiu na Granja Santana no período em que esteve à frente do governo do Estado, Pedro Cunha Lima evitou comparações entre sua proposta de governo e os governos do avô e do pai, Cássio Cunha Lima. Ele foi indicado candidato a governador no vácuo da renúncia do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, à pretensão de concorrer. Romero acabou se candidatando a uma vaga na Câmara dos Deputados e prepara-se para voltar a marcar presença naquela Casa. Até mesmo os adversários de Pedro Cunha Lima reconhecem que ele teve papel importante na campanha eleitoral de 2022, instigando os outros postulantes a abordarem temas-tabus na realidade política paraibana. O parlamentar não logrou, contudo, atrair maiores apoios de candidatos competitivos, do campo da centro-direita, no primeiro turno, a exemplo do comunicador Nilvan Ferreira, do PL, que se manteve no páreo durante todo o primeiro turno e ficou neutro na segunda rodada. Em compensação, ganhou o apoio, no segundo turno, do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que concorreu com o apoio inicial do então candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ao final da maratona eleitoral do ano passado, o deputado Pedro Cunha Lima adotou uma postura que foi elogiada até por adversários. Ele postou mensagem em rede social agradecendo aos paraibanos e paraibanas por todo o apoio e pela votação que alcançou nas urnas. Ao mesmo tempo, desejou sorte e responsabilidade ao governador eleito João Azevêdo. “Continuaremos lutando por uma Paraíba de oportunidades”, expressou, vagamente. Desde então, o parlamentar tem se afastado de articulações políticas e evitado declarações sobre seu futuro na vida pública. Mas a expectativa dominante é que ele permaneça na atividade e venha mesmo liderar a oposição no Estado. Pedro Cunha Lima concorreu ao governo tendo como vice o empresário Domiciano Cabral (Cidadania), com influência política em Bayeux e em redutos de João Pessoa. Apoiou ao Senado o deputado federal Efraim Filho, do União Brasil, que acabou conquistando a única vaga em jogo.