Nonato Guedes
Na ofensiva que o Palácio do Planalto deflagrou para ampliar sua base parlamentar no novo Congresso, inclusive negociando a distribuição de cargos importantes em escalões intermediários, já houve contatos do ministro Alexandre Padilha, das Relações Internacionais, com o deputado federal paraibano Hugo Motta, que voltou a ocupar a liderança do partido na Câmara. Padilha, segundo versões, tem procurado nomes do Republicanos, União Brasil e Progressistas (PP), partidos que deram suporte ao governo Jair Bolsonaro (PL), para firmar uma aproximação. A investida envolve negociações de cargos de segundo e terceiro escalões em troca do apoio a pautas consideradas prioritárias pelo Palácio do Planalto. Mas a análise dominante é que o apoio do Republicanos tende a ser pontual, sem compromisso de alinhamento nas propostas relacionadas a costumes.
Junto com o PP e PL, o Republicanos forma o núcleo do Centrão no Congresso Nacional. O presidente nacional, Marcos Pereira, deputado por São Paulo, já foi categórico: “Seremos independentes. Aliás, já somos”. Enquanto isso, parlamentares da legenda, individualmente, sinalizaram ao Planalto que pretendem votar com o governo em pautas estratégicas como a reforma tributária e possivelmente o novo arcabouço fiscal que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ainda apresentará. Conforme sites noticiosos do Sul, para viabilizar o passo o governo Lula já deu um passo ao aprovar o nome do deputado Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR) para o Tribunal de Contas da União, na semana passada. Padilha agendou conversas com Luciano Bivar, presidente do União Brasil, que tem três ministérios no atual governo: Turismo, Comunicações e Integração Nacional.
Mesmo assim, a sigla joga duro e não promete apoio integral às pautas do governo do presidente Lula. O interesse do União Brasil seria o de conquistar mais cargos para sua quota, apesar de a legenda estar rachada, de que é exemplo a declaração reiterada do senador paraibano Efraim Filho, recém-eleito, de que se considera “independente” e não um integrante da base oficial. Aliados de Bivar afirmam que ele está pedondo o comando da Sudene e da Codesvaf, estatal que já está sob o controle de um apaniguado do líder da legenda na Câmara, Elmar Nascimento (BA), que tentou ser ministro de Lula mas foi vetado pelo PT da Bahia. Agora com o apoio de Lira, Elmar está dobrando as exigências para angariar o apoio de seus colegas em favor do Planalto. O parlamentar alega que a sua tropa é maior que a do MDB e do PSD, que também foram agraciados com três pastas cada.
Segundo o site 247, o governo avalia recriar a Fundação Nacional da Saúde (Funasa), que tem um orçamento de R$ 2,9 bilhões para realizar obras de saneamento básico e cujas atribuições foram transferidas para o Ministério das Cidades, que é comandado pelo MDB. O PP do presidente da Câmara, Arthur Lira e do ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro, Ciro Nogueira, é quem mais oferece resistência nas articulações que se encontram em andamento. Para aderir à base de Lula, o PP não vai se contentar com cargos de segundo e terceiro escalões. Deseja, mesmo, chefiar ministérios, o que não está no horizonte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há, no PP, porém, aqueles mais suscetíveis à aproximação com o governo. “É natural que o PP queira conversar. Mesmo porque o partido já declarou independência, mas parte da bancada não quer ser oposição”, afirmou o deputado Doutor Luizinho, do PP-RJ. A senadora paraibana Daniella Ribeiro, ex-PP, atual PSD, chegou a defender em conversa com o presidente Lula a recriação da Funasa, que foi ocupada por sua mãe, Virgínia, no Estado. O presidente ficou sensibilizado e determinou estudos nesse sentido.
No que diz respeito ao Republicanos, a agremiação continua a adotar uma linha de “pragmatismo” político no cenário nacional, dentro do projeto maior de assegurar seu próprio protagonismo, independente de governos – fato que explica o apoio manifestado no governo de Jair Bolsonaro e, agora, os entendimentos para apoio pontual a matérias encaminhadas pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A postura assumida pelo deputado federal Hugo Motta na disputa do ano passado na Paraíba foi emblemática desse “pragmatismo” do Republicanos. O partido sustentou compromisso de apoio à candidatura do governador João Azevêdo (PSB) mas manteve, até o fim do primeiro turno, o pacto de adesão à candidatura do então deputado federal Efraim Filho, do União Brasil, ao Senado, mesmo depois do parlamentar ter rompido com o chefe do Executivo e passado a fazer parte da chapa que foi encabeçada pelo deputado Pedro Cunha Lima (PSDB), que avançou para o segundo turno contra João Azevêdo, perdendo na contagem final. Para fazer tal movimento, o Republicanos abriu mão de indicar nomes para compor a chapa majoritária titulada por Azevêdo, mas reivindicou para si a continuidade do controle da Assembleia Legislativa, mantido com as reconduções do deputado Adriano Galdino, e a ocupação de secretaria e outros cargos no segundo governo de João, o que está sendo cumprido por parte do gestor socialista. O partido de Hugo Motta mira seu crescimento nas eleições municipais do próximo ano e nas eleições majoritárias de 2026.