O Partido dos Trabalhadores completa, hoje, 43 anos de fundação, tendo seu principal líder, Luiz Inácio Lula da Silva, pela terceira vez na Presidência da República. O partido foi criado em 10 de fevereiro de 1980, quando cerca de dois mil sindicalistas, representantes de movimentos sociais, religiosos e ativistas de esquerda se reuniram no tradicional colégio Sion, da elite paulistana, para pensar em um projeto que representasse as classes populares na política brasileira. Havia representantes dos núcleos do Movimento Pró-PT de 17 Estados e na ocasião foi aprovado o Manifesto do Partido dos Trabalhadores, assinada a ata de fundação e eleita a Comissão Nacional Provisória. No dia 11 de fevereiro de 1982 foi concedido pelo Tribunal Superior Eleitoral o registro provisório da legenda, que atualmente é presidida pela deputada federal Gleisi Hoffmann (PR).
Sob a liderança de Lula, o PT se tornaria, mais tarde, a sigla mais vitoriosa em eleições presidenciais na história democrática do país. Gleisi Hoffmann considera que os desafios do PT na conjuntura atual são os de manter a mobilização para garantir a democracia, reconstrução do país e direitos do povo. “Ao mesmo tempo tem que dar medidas concretas para a população, que respondam à vida do povo e precisa fazer essa discussão política com o povo brasileiro”, aponta Gleisi.A legenda festeja a data ocupando o Planalto pela quinta vez – três delas sob o comando de Lula, duas com Dilma Rousseff, que no segundo mandato sofreu processo de impeachment. Lula e o próprio partido estão assumindo, na atual conjuntura, a narrativa de que o impeachment de Dilma foi um “golpe” para facilitar a ascensão do vice, Michel Temer, que foi seguido no cargo por Jair Bolsonaro.
O PT também foi a legenda que mais se deu bem nas eleições para os governos estaduais em 2022, junto com o União Brasil, vencendo em quatro Estados. Além disso, a federação formada por PT, PCdoB e PV conquistou a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados, atrás apenas do PL. O momento é considerado diferente ao observado há poucos. O site “Metrópoles” lembra que os escândalos do Mensalão e da Lava Jato colocaram grandes quadros do partido sob a mira da Justiça, atiçando um sentimento antipetista em parte da população e da classe política. Entre os alvos estava o próprio presidente Lula, que chegou a ficar 580 dias preso, mas teve suas condenações anuladas em 2019. Além disso, o impeachment da então presidente Dilma Rousseff em 2016 reforçou o declínio da sigla.
O cenário trouxe desafios significativos para o PT. A vitória de Lula nas eleições de 2022, por exemplo, ocorreu por uma margem apertada ante o principal adversário, Jair Bolsonaro (PL). O petista terminou a disputa com 50,90% dos votos contra 49,10% do candidato do PL, uma diferença de pouco mais de dois milhões de eleitores. O resultado também só foi possível graças a uma frente ampla que se formou em torno do petista para barrar a reeleição de Bolsonaro. Apesar disso, candidatos apoiados pelo petista perderam a disputa nos maiores colégios eleitorais do país: São Paulo e Minas Gerais. Enquanto isso, o partido manteve a hegemonia entre os Estados da região Nordeste. O panorama mostra uma dificuldade da sigla em furar a bolha. Não obstante, Gleisi Hoffmann diz acreditar que o partido saiu das urnas mais fortalecido e amadurecido.
– Nesses 43 anos o PT chega mais forte e mais maduro. Com certeza isso dá condições de cumprir com melhor capacidade o seu papel, que é o de mudar a história do Brasil, de ajudar nas conquistas do povo pobre, trabalhador – disse Gleisi ao Metrópoles. E acrescentou: “Passar por tudo que o PT passou mostra a força, a resiliência e, principalmente, a relação do PT com a sua base social. Foi isso que deu sustentação para o partido enfrentar esses momentos difíceis e se reposicionar no cenário nacional”. Para especialistas, o desafio mais latente, no entanto, é superar a dependência de Lula e engatar um líder capaz de manter o eleitorado engajado. “Lula é a figura importante, é o rosto do partido, a gente não vê renovação. É um problema que o PSDB passou, com Fernando Henrique Cardoso, e a gente viu o que o partido virou. Então, o PT tem que criar alternativas. Eu não vejo, por exemplo, o Fernando Haddad ou o Alexandre Padilha ocupando esse espaço. São excelentes quadros, mas falta algo neles”, avalia o cientista político André César.
E ele prossegue: “O PT limita a ascensão de espaço para os aliados. Na distribuição partidária para os ministérios, por exemplo, o PT teve muita participação. E isso gerou uma ‘chiadeira’. Mas é da natureza da legenda. O PT é um partido hegemônico”. O sociólogo e autor do livro “PT, uma História” Celso Rocha de Barros concorda que atualmente a sigla é mais dependente de Lula do que foi nos primeiros mandatos. Ele também destaca que o perfil dos caciques mudou ao longo dos anos. “O PT em 2002 tinha muito menos experiência de articulação política, uma imagem de combate à corrupção construída nas duas décadas anteriores e muito mais quadros dirigentes que construíram sua trajetória fora do governo: nos movimentos sociais, em organizações de esquerda durante o combate à ditadura, etc”, explica o sociólogo. “Em 2023, o PT sofreu fortes abalos em sua imagem após denúncias de corrupção, mas tem um patrimônio de bons programas sociais executados que lhe garantem um eleitorado grande, embora menos politizado do que o de 2002. Os quadros dirigentes do partido agora têm mais experiência de governo do que havia em 2003, mas trajetórias menos importantes em movimentos sociais”, conclui.