Nonato Guedes
Uma hipótese que até pouco tempo parecia absurda ou esdrúxula – a de apoio do PT à candidatura do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), à reeleição, começa a ser admitida nos meios políticos como reflexo colateral da conjuntura que conduziu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao terceiro mandato e o governador da Paraíba (PSB), João Azevêdo, à segunda gestão. O que deu gás às especulações foi uma declaração do dirigente estadual do PT, Jackson Macêdo, ao jornalista Suetoni Souto Maior, publicada no seu blog, indicando tendência do petismo de se compor com Cícero Lucena, que, nesse caso, migraria do PP para o PDT ainda este ano. A ida de Cícero para o PDT abriria espaço para diálogo com o governo Lula – e a verdade é que a articulação em torno de Cícero nesse sentido não é de agora, ou seja, ganha corpo já há alguns meses.
Pelas declarações de Jackson Macêdo a Suetoni, não há ânimo do PT em investir numa candidatura própria a prefeito da Capital, pois isto poderia incidir em repetição de erro estratégico, sem qualquer ganho para a legenda. Nas análises, mira-se no resultado das eleições de 2016 e 2020, quando o PT se aventurou ao páreo e se deu mal. Em 2020, o então candidato petista Anísio Maia não logrou avançar para o segundo turno e obteve irrelevante 1% dos votos. É certo que ele foi prejudicado por divergências internas que levaram à “cristianização” do seu nome e pela polarização que se deu entre Cícero e um líder emergente, o comunicador Nilvan Ferreira (PL), que foi para o segundo turno, onde saiu derrotado. A verdade é que a força eleitoral do PT em João Pessoa desvaneceu-se nos últimos anos e a cúpula do partido parece estar optando pelo pragmatismo no contexto da realidade que devolveu Lula ao Planalto.
Em tese, quem se insinua a uma candidatura em 2024 nas hostes petistas é o ex-prefeito Luciano Cartaxo, que exerceu a administração municipal por duas vezes consecutivas, retornou à sigla de origem e conseguiu se eleger deputado estadual em 2022. Embora aparentemente reconvertido ao petismo, Cartaxo sofre desconfiança e resistência porque em 2015, quando do estouro do escândalo do mensalão, migrou para o PV, pelo qual disputou a reeleição em 2016. No episódio da sua sucessão em 2020, Cartaxo lançou a concunhada Edilma Freire, que era secretária de Educação, como candidata, mas a transferência de votos foi insuficiente para levá-la ao segundo turno. De resto, Cartaxo está se readaptando ao ambiente do PT, do qual se afastara, tendo partido para projetos personalistas que naufragaram, inclusive, na disputa do governo do Estado. Atualmente o parlamentar é da base do governador João Azevêdo, que tem reafirmado compromisso de apoio à reeleição de Cícero no próximo ano.
A disputa para 2024 no principal colégio eleitoral do Estado, a dados de hoje, não comporta grandes surpresas, devendo ficar centrada na reeleição de Cícero em sintonia com o esquema governista estadual e na oposição representada por remanescentes bolsonaristas como Nilvan Ferreira, Walbber Virgolino e o deputado federal Cabo Gilberto Silva. Cícero enfrenta algumas dificuldades do ponto de vista de imagem porque ainda não entregou resultados de obras e investimentos que são esperados pela população pessoense. Mas já houve a garantia do governador João Azevêdo de que 2023 marcará o deslanche de projetos de impacto concebidos para a Capital, sem prejuízo das metas anunciadas para vários municípios de diferentes regiões que passaram a dar a tônica no governo do socialista. O próprio Cícero tem canais com o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que é do PSB e com quem conviveu quando ambos eram expoentes do PSDB.
Como se nota, são muitos os fatores que podem convergir, positivamente, para fortalecer o projeto de candidatura do prefeito Cícero Lucena à reeleição em 2024, desfazendo-se a impressão de que o atual gestor estaria desgastado para concorrer a um segundo mandato. Cícero tem consciência de que precisa se fazer mais ágil no encaminhamento de soluções para desafios que estão pendentes na sua gestão e que são cobrados por segmentos da sociedade. Ao mesmo tempo, precisará investir-se de maior habilidade política para ampliar alianças no campo da centro-esquerda, ajustando a sintonia com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e reforçando os laços com a administração de João Azevêdo, que tem sido indiscutivelmente parceira em grandes empreendimentos ambicionados, alguns até anunciados por antecipação. Em última análise, as costuras políticas para respaldar o projeto da candidatura de Cícero deverão envolver o governador João, que é uma espécie de patrono da pretensão do alcaide de conquistar um novo mandato na sua carreira política.