O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou emocionado durante discurso em ato político de comemoração aos 43 anos do Partido dos Trabalhadores, ontem, em Brasília. Chorando, o petista disse que voltou à Presidência para governar “da forma que o país precisa ser governado”. O partido reuniu as principais lideranças políticas – teve até a presença do ex-ministro José Dirceu no palco, um acontecimento raro nos últimos anos. Para uma plateia cheia, mas não lotada, a ex-presidente Dilma Rousseff e a presidente do PT nacional, Gleisi Hoffmann, puxaram ainda o grito de “sem anistia”, referindo-se aos manifestantes bolsonaristas que comandaram atos de terrorismo em Brasília contra instituições em janeiro.
Com o auditório praticamente cheio no evento realizado no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, participaram governadores, ministros, mesmo os filiados a outros partidos, senadores, deputados e quadros históricos do PT. Brincando, Lula pediu aos militantes para rezarem “pelo Lulinha” para que ele viva “um pouco mais”. E acrescentou: “Porque a vida é o dom mais importante que Deus nos deu, e nós temos que aproveitá-la da melhor forma possível. E a melhor maneira possível é a gente ter uma causa, uma razão para viver. Qual melhor razão para viver do que a gente contribuir para aqueles índios yanomamis não morrerem mais de fome dentro do território nacional?”.
Lula celebrou a história do partido que ajudou a fundar, lembrando que é uma das maiores organizações de esquerda do planefa, e pediu aos filiados que façam doações. “Precisamos mostrar a diferença do PT de todos os partidos políticos desse país. A gente precisa aprender a contribuir para que o nosso partido não fique eternamente dependente de fiscalização do Tribunal de Contas da União. Temos que ter recursos próprios, e recurso próprio é contribuição dada por nós”. O mandatário completou: “Acho que temos que contribuir porque, independente desse fundo todo (partidário, eleitoral), temos que ter fundo da moral, da ética e da vergonha do nosso Partido dos Trabalhadores”. Ele mesmo assinou simbolicamente a renovação da autorização para desconto em folha de sua contribuição mensal ao PT, algo que faz desde os anos 1980.
O presidente da República comentou que tudo o que foi feito em treze anos de governo do PT foi destruído em seis anos, “depois do golpe e do último mandato de quatro anos de um genocida”. Frisou ainda: “Um dos melhores momentos da história do país foi em meu governo, onde banqueiro ganhou, empresário ganhou, trabalhador ganhou. Agora, eles dizem que “Lula vai voltar”. Vai voltar o Lula que a Dona Lindu pariu, para governar esse país da forma que o país precisa ser governado”. Além de Lula, somente Dilma e Gleisi falaram no evento. Em falas duas, com forte tom de esquerda, as duas pediram a prisão dos golpistas de 8 de janeiro e puxaram gritos de “sem anistia”. Gleisi advertiu: “Os que atentaram contra a democracia, contra o povo e contra o país, desde antes do infame dia 8 de janeiro, hão de responder por seus crimes, para que não voltem a repeti-ls. É sem anistia”.
A presidente petista também voltou a criticar o Banco Central, pressionando por u ma queda na taxa de juros, e declarando que a organização “corrobora com uma mentira” do mercado. Já Dilma Rousseff debochou do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está nos Estados Unidos desde dezembro do ano passado. “Saúdo obviamente o nosso grande líder Lula. Aquele líder que caminhou de cabeça erguida. Não fugiu, não correu, não se esquivou, não saiu do Brasil. Ficou aqui e enfrentou os 580 dias de prisão. Muitas pessoas aconselharam o presidente a ir embora do país. Por que voltamos seis anos depois? Porque teve uma liderança que não fugiu da raia. Encarou e enfrentou”. Figura influente dentro do partido, José Dirceu foi saudado por Gleisi Hoffmann no microfone, antes de sua fala, e por Lula. Nas duas vezes que teve o nome mencionado, foi amplamente aplaudido pela militância. O P programou um jantar de aniversário para hoje com o objetivo de arrecadar fundos para o partido. As doações pedidas vão até R$ 20 mil.