Nonato Guedes
O prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (ainda no PSD), agitou os meios políticos paraibanos nas últimas horas ao declarar ao Sistema Arapuan de Comunicação que já avalia opções de aliança na eleição para sua sucessão em 2024 e que, no arco das composições, dá prioridade ao grupo liderado pelo ex-prefeito e atual deputado federal Romero Rodrigues (PSC-Podemos), a quem sucedeu e de quem teve apoio na campanha eleitoral de 2020. Bruno aspira, naturalmente, a concorrer à reeleição na segunda cidade mais importante do Estado e, indagado sobre um possível pacto com o grupo do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) foi incisivo ao nomear prioridade para Romero na formação de chapa, sugerindo, inclusive, o nome da esposa dele, doutora Micheline Rodrigues, que foi candidata a vice-governadora com Lucélio Cartaxo (então PV) na campanha de 2018.
A revelação de Bruno sobre o desenho para o pleito do próximo ano soou como uma bomba porque, até o momento, nos círculos políticos, trabalha-se com a hipótese de uma chapa à prefeitura encabeçada por Bruno tendo Ana Cláudia Vital do Rêgo, mulher do senador Veneziano, como opção para a vice. Nas eleições de 2022, Veneziano concorreu ao governo do Estado depois de romper com o esquema do governador João Azevêdo (PSB), tendo sido apoiado no primeiro turno pelo então candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No segundo turno, quando Lula hipotecou apoio a João Azevêdo, Veneziano migrou para a candidatura do então deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) a governador, mesmo destoando do PT, com quem compusera na rodada inicial. Veneziano segurou o apoio a Lula, enquanto Pedro declarava neutralidade entre o petista e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Concluída a batalha, com Pedro bem votado mas em segundo lugar, Veneziano anunciou que a aliança de 2022 teria desdobramento, o qe foi entendido como referência à eleição municipal. Em troca, Veneziano teria o apoio dos Cunha Lima para disputar a reeleição ao Senado em 2026.
Nas suas declarações, o prefeito Bruno Cunha Lima não teceu comentários negativos sobre o grupo do senador emedebista, apenas ponderando que o seu critério para definição de chapa no pleito municipal é priorizar por ordem de antecedência. Nesse caso, Romero Rodrigues, que também fechou com a candidatura de Pedro Cunha Lima ao governo, seria considerado como aliado de primeira hora, não somente porque Bruno teve interlocução com ele quando dirigiu os destinos da Rainha da Borborema em duas oportunidades consecutivas como porque Romero engajou-se no palanque de Bruno em 2020. Especula-se, também, que a prioridade dada por Bruno a Romero é estrategicamente calculada para neutralizar uma suposta pretensão do hoje deputado federal de voltar a disputar, já, a prefeitura de Campina Grande. Essa possibilidade chegou a ser admitida por aliados de Romero no calor do triunfalismo pela sua eleição à Câmara, mas não formalmente assumida pelo ex-prefeito da cidade.
Seja como for, a impressão dominante em algumas áreas é a de que o senador Veneziano Vital do Rêgo não radicalize posições caso Bruno tenha que compor sua chapa com um nome ligado ao deputado federal Romero Rodrigues. Afinal, fica extremamente difícil para o parlamentar recuar de posições já verbalizadas ou de compromissos que ele mesmo selou na campanha eleitoral do ano passado com o “clã” Cunha Lima, produzindo uma pacificação histórica na política de Campina Grande e do Estado da Paraíba. A expectativa é de que emissários de peso como o ex-deputado Pedro Cunha Lima e o seu pai, o ex-governador Cássio Cunha Lma, entrem no circuito para aparar arestas conciliar interesses dentro de análises corretas de estratégia política. O próprio lançamento de Pedro ao governo deu-se numa dessas avaliações, quando Romero, que era o candidato aparentemente definido, jogou a toalha e preferiu encarar uma disputa a mandato de deputado federal, no que foi bem-sucedido. Essas tratativas ficam mais para a rente, envolvendo o senador Veneziano Vital do Rêgo.
Pelo bloco adversário a Bruno em Campina cogita-se uma possível candidatura da senadora Daniella Ribeiro (PSD), cujo filho, Lucas, elegeu-se vice-governador do Estado na chapa encabeçada por João Azevêdo em 2022. Lucas, inclusive, era o vice de Bruno Cunha Lima, mas a dinâmica do jogo político levou-o a se afastar desse “clã” e, num gesto espetacular, compor-se com João Azevêdo e tornar-se o seu vice. Daniella, que já foi parceira de Cunha Lima em disputas anteriores, conta com o reforço do governador reeleito para ampliar base de sustentação política em Campina Grande que a favoreça numa eventual competição em 2024. Enquanto os dados estão começando a rolar, o prefeito Bruno Cunha Lima voltou a insistir numa tecla recorrente: o pedido de audiência ao governador João Azevêdo para encaminhar demandas de interesse de Campina Grande que, conforme ele, estão encalhadas por falta de apoio da administração estadual.