Nonato Guedes
A deputada federal pelo Paraná Gleisi Hoffmann continuará como presidente nacional do Partido dos Trabalhadores pelos próximos dois anos, conforme decisão tomada pelo diretório da legenda, em meio às comemorações pelo transcurso dos 43 anos de fundação da mais importante agremiação de esquerda da América Latina. Gleisi é considerada uma executiva disciplinada, que mantém estreita sintonia com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelas posições firmes e coerentes registradas ao longo da sua trajetória. Ela, indiscutivelmente, segurou o leme do PT em momentos difíceis e verberou contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e contra a prisão de Lula, o líder maior e personalista do petismo. Assumiu o cargo pela primeira vez em 2017 e foi reeleita pelo Processo de Eleição Direta em 2020.
No primeiro discurso após a sua recondução, Gleisi Hoffmann destacou a importância do PT no fortalecimento da democracia brasileira. Disse textualmente: “O PT nasceu lutando por liberdade e democracia, num tempo em que o Brasil era oprimido pela ditadura. Nasceu para dar voz à imensa maioria silenciada pela violência e pela miséria. Nossa força brotou nos sindicatos de trabalhadores urbanos e rurais, nas comunidades eclesiais de base, recebendo a importante contribuição de notáveis militantes políticos e intelectuais comprometidos com os ideais de igualdade e justiça social”. Gleisi foi leal a Lula no recente episódio da troca de comando do Exército brasileiro, afirmando que ele agiu em defesa da Constituição e das prerrogativas das próprias Forças Armadas e observando que “a democracia rejeita qualquer tutela sobre o voto popular”. Foi um instante de crise dramática, que alimentou temores de ruptura institucional, o que não aconteceu.
Ultimamente, a dirigente nacional do PT, considerada por muitos como uma espécie de “alter-ego” de Lula, não somente nas questões partidárias, tem reforçado o discurso contra as altas taxas de juros, indo de encontro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que é visto como expoente bolsonarista pelo PT. Ao mesmo tempo, numa entrevista à “Folha de S. Paulo”, Gleisi abordou um tema-tabu para aliados do PT – a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ela defendeu abertamente. Gleisi também é absolutamente identificada com as pautas que Lula encampou na disputa eleitoral de 2022 contra Jair Bolsonaro (PL) e costuma se referir ao PT como “um partido vivo”. Essa leitura é coerente com avaliações internas e externas que convergem para a reabilitação do Partido dos Trabalhadores no cenário brasileiro, depois de purgar escândalos como o do mensalão, do petrolão e das pedaladas fiscais atribuídas ao governo da presidente Dilma Rousseff. Gleisi preconiza, também, a retomada de empregos e do crescimento econômico nacional, além do combate à fome, que é uma espécie de mantra do governo Lula III.
Depoimentos do próprio Lula e de figuras de proa do Partido dos Trabalhadores são generosos em relação à atuação da deputada Gleisi Hoffmann no comando da legenda em situações dramáticas da história política recente do país. O impeachment de Dilma Rousseff, por exemplo, criou uma sensação de orfandade quanto ao poder dentro do PT. Já a prisão de Lula agravou o cenário de orfandade e a impressão de abandono, com a falta de perspectivas em relação ao futuro. É fora de dúvidas que a resiliência de Lula, confiante na sua própria absolvição e liberdade, foi o combustível que deu sobrevida aos militantes do Partido dos Trabalhadores em todo o país. Nesse ínterim, Gleisi agiu com pulso forte para resolver conflitos nos Estados em relação a eleições municipais previstas no calendário e para enquadrar petistas recalcitrantes com ordens dela emanadas sobre a política de alianças ou de concessões que deveriam ser feitas em nome do fortalecimento do PT-Partido. A sua condução na difícil travessia rendeu-lhe o pleno reconhecimento por parte de Lula, que voltou a dar as cartas e a se investir no poder.
Gleisi não faz o gênero populista nas suas intervenções públicas, sendo mesmo considerada dura e implacável no encaminhamento de questões delicadas que dizem respeito à sobrevivência da sigla. Mas um ponto é incontestável: a sua fidelidade canina ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem recebe missões complicadas para equacionar ou cumprir. A presidente nacional do PT também é inflexível no tom das críticas que o PT formula ao governo de Jair Bolsonaro. Em uma de suas postagens a respeito, Gleisi frisou: “Tenho visto críticas ao fato de Lula citar Bolsonaro em suas falas. Pois eu acho que o presidente está certo. O genocida foi ignorado por todos durante anos como deputado e deu no que deu. É preciso expor quem ele é e todos os seus crimes, sim”. Zeladora da história do PT diante das chuvas e trovoadas, Gleisi foi preterida para ocupar um ministério porque entendeu-se que sua missão à frente do partido e junto ao Congresso era mais urgente e necessária. Aos olhos do presidente Lula e do PT, vem cumprindo à risca o seu papel, segundo indica a sua recondução ao comando da legenda.