Nonato Guedes
O médico paraibano Marcelo Queiroga, que foi ministro da Saúde até o fim do governo Jair Bolsonaro, ganhará salário de quase R$ 40 mil, por seis meses, diante da quarentena aplicada pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República, devido ao conflito de interesses por ter tido acesso a informações privilegiadas no comando da Pasta até dezembro passado. Além dele, o ex-ministro da Defesa, Sérgio Nogueira, e outros dez ex-ministros da gestão anterior serão contemplados com remuneração na fase de quarentena.
Cardiologista, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Queiroga está sujeito à “quarentena” por ter ocupado um ministério considerado estratégico para a própria segurança nacional. A restrição prevista em lei serve para evitar que informações privilegiadas sejam repassadas ao setor privado. Tanto Marcelo Queiroga como Paulo Sérgio Nogueira disseram à Comissão de Ética ter recebido propostas de emprego após saírem dos cargos do Executivo em 31 de dezembro, mas tiveram que rejeitar por configurar conflito de interesses. A vedação é prevista na chamada na chamada “lei da quarentena”, que determina que agentes públicos de alto escalão, após deixarem o cargo, precisam respeitar o período de seis meses para exercer nova função correlata na iniciativa privada.
Marcelo Queiroga, que assumiu o comando da Saúde após a exoneração do general Eduardo Pazuello, teve uma atuação polêmica à frente do Ministério. Embora tenha dado partida à campanha de vacinação contra a covid-19, ele apoiou o presidente Jair Bolsonaro mesmo quando este adotou postura negacionista em relação à covid, qualificando-a como “gripezinha”. O então ministro também se indispôs com jornalistas e manifestantes hostis a Bolsonaro por causa da postura do Planalto minimizando a calamidade. Numa viagem aos Estados Unidos, acompanhando a comitiva presidencial, Queiroga bateu boca com manifestantes que protestavam contra o mandatário brasileiro. Chegou a pegar a covid e teve que cumprir quarentena nos Estados Unidos, seguindo a recomendação dos organismos médicos mundiais.
O ministro, enquanto liberava lotes de vacinas para Estados em nome do governo federal, atacava governadores e prefeitos de Capitais que condenavam a lentidão do governo Bolsonaro no atendimento eficiente diante da gravidade da situação no auge da pandemia de covid-19. Ele foi contestado por entidades médicas de respeitabilidade no país por opiniões emitidas, inclusive quando tergiversou ao ser indagado a respeito do uso de hidroxicloroquina e outros medicamentos de eficácia duvidosa que chegaram a ser “prescritos” pelo presidente da República. Marcelo Queiroga cogitou e foi cogitado por meios políticos da Paraíba para se candidatar a um mandato eletivo, inclusive, o de governador, mas nunca avançou passos nesse sentido e sempre demonstrou interesse em permanecer no ministério por apego ao cargo. Um filho seu, Cristóvão Queiroga, o “Queiroguinha”, ensaiou candidatura a deputado federal que acabou inviabilizada por problemas legais. Nas declarações que dá à imprensa ainda hoje, o ex-ministro é incansável na defesa do governo de Jair Bolsonaro, apesar do desgaste que este enfrenta junto a parcelas da população.