Nonato Guedes
Atualmente comandando cerca de 343 municípios no território nacional, o PL de Valdemar Costa Neto e do ex-presidente Jair Bolsonaro quer eleger mil prefeitos nas eleições municipais do ano que vem e, segundo o “Congresso em Foco”, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro é parte fundamental desse plano. Presidente do Partido Liberal, Valdemar quer Michelle como a principal impulsionadora de votos, especialmente junto ao eleitorado feminino, faltando, porém, que ela combine isso com Bolsonaro, que se mantém nos Estados Unidos em exílio remunerado. Um mapeamento feito pelo PL apontou que os eleitores do PT depositaram em outubro do ano passado 3,8 milhões de votos para candidatas mulheres a deputada. E os eleitores do PL deram 3,5 milhões de votos em candidatas.
Em alguns Estados, como o Pará, a diferença foi gritante. Valdemar disse ter constatado que o PL vai mal no voto feminino e não terá como crescer se não vier a conseguir melhorar essa deficiência. É onde entra Michelle, que é avaliada como carismática por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro e com grande influência em parcelas expressivas do eleitorado evangélico. Após o carnaval, a ex=primeira-dama deverá começar a trabalhar em sala que lhe foi reservada na sede do partido no edifício Brasil, em Brasília. De lá, deverá começar a traçar um roteiro de viagens pelo país com o objetivo de fortalecer a presença feminina no partido, na condição de presidente do PL Mulher. Os dirigentes da legenda estão convencidos de que Michelle tem o exato perfil que está sendo exigido para impulsionar o PL e torná-lo a principal referência política da direita nacional.
De acordo com interlocutores do presidente do partido, a avaliação que se faz é que Michelle teria em seu perfil as qualidades que o eleitor identifica em Bolsonaro, sem as características que provocam rejeição ao ex-mandatário. O diretor do Congresso em Foco Análise, Rudolfo Lago aponta que o eleitorado brasileiro é na sua maioria feminino e, também, na sua maioria, conservador. As duas características seriam encontradas em Michelle. Se Bolsonaro fala alto, diz palavrões, é imprevisível e politicamente incorreto, a mulher revela-se discreta, tem um jeito sóbrio de agir e se vestir sem ser exatamente a caricatura da mulher evangélica. Seu cabelo é curto e não comprido. Suas roupas não são largadas. E também não usa por outro lado chinelo e camiseta pirata de time de futebol. Em eventos de campanha, mostrou que tem bom discurso, que fala bem. Versões indicam que Michelle estaria disposta a cumprir esse papel à frente do PL Mulher. A dúvida diz respeito às opiniões de Bolsonaro sobre o assunto, já que ele tem evitado se aprofundar a respeito.
O ex-presidente fez chegar aos ouvidos de Valdemar que não gostou dele ter ventilado a hipótese de Michelle vir a ser candidata à Presidência da República como alternativa a ele mesmo, diante de ameaças de inelegibilidade e até de prisão que Jair enfrenta na perspectiva de retornar ao Brasil, em data indefinida. Há um problema à parte dentro do PL: conter os agrupamentos mais radicais, de extrema-direita, que ingressaram no PL surfando na onda Bolsonaro, quando esta se encontrava favorável. Boa parte desses políticos só escuta mesmo o ex-presidente e, com isso, acaba criando problemas. Valdemar planeja fazer uma primeira reunião com toda a bancada do partido após o carnaval para conseguir aparar as arestas e, então, seguir nos seus planos de ampliar o PL. O ex-assessor da Presidência e candidato a vice-presidente na chapa derrotada de Bolsonaro em 2022, general Walter Braga Netto, já dá expediente na sede do PL juntamente com um grupo de outros militares que levou consigo. Braga Netto tem estudado outros partidos de direita pelo mundo para determinar de que forma estruturar o PL.
Por trás das eleições municipais do próximo ano e dos planos para a retomada da Presidência da República em 2026 está em jogo, na verdade, o destino do bolsonarismo como força política no panorama nacional. O ex-presidente demonstrou que não soube absorver o resultado negativo que lhe foi atribuído, muito menos a volta ao governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao mesmo tempo, Jair sente que alguns expoentes do bolsonarismo tentam se descolar da sua liderança, inclusive governadores eleitos como Tarcísio Freitas, de São Paulo, do Republicanos, que tem feito concessões no governo contrárias à linha conservadora do ex-presidente. Há casos diferentes, como o do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, do Novo, que se coloca na perspectiva de vir a ser candidato à Presidência da República em 2026 enfrentando o próprio Jair Bolsonaro. Esses episódios geram tumulto e controvérsia quanto à estratégia melhor a ser adotada – o que se agrava com a demora do ex-presidente de voltar, enfim, ao território brasileiro.