Nonato Guedes
Pelo que dá a entender o presidente estadual Jackson Macêdo o PT paraibano ainda vai aprofundar a discussão interna sobre sua participação nas eleições municipais para prefeito em 2024, sobretudo em João Pessoa, principal colégio eleitoral da Paraíba. Essa discussão passará pelas instâncias legítimas de deliberação do partido como o diretório municipal, mas poderá envolver outras forças políticas com quem a legenda venha a ter interlocução, na dependência de fatores da conjuntura local combinados com a conjuntura nacional. Esta última ganha atenção porque enfeixa a governabilidade da terceira gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a expectativa é quanto ao resultado concreto das alianças políticas tecidas no âmbito do Congresso Nacional para garantir tal governabilidade.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta nova versão foi forjado em cima de uma ampla concertação, segundo traduziu o próprio líder petista, aglutinando segmentos de esquerda, que são parceiros tradicionais do PT, mas abrindo-se o leque para a acomodação de líderes e de legendas de centro e de centro-direita mínimamente comprometidas com a defesa da democracia e de pautas sociais e econômicas que agora estão sendo agitadas. Avalia-se, dentro do governo, como está sendo, na prática, o comportamento de neoparceiros, dos recém-chegados que foram incorporados ou se incorporaram ao projeto de poder empalmado por Lula. Nesse sentido tenta-se, nas eleições municipais, sobretudo em Capitais e colégios eleitorais influentes, reproduzir modelos de composição que funcionaram sem maiores problemas na campanha responsável por devolver o líder petista ao comando do Palácio do Planalto. Houve casos, como o da Paraíba, em que adversários políticos locais como o governador reeleito João Azevêdo (PSB) e o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) integraram o mesmo guarda-chuva de apoio a Lula, que teve dois candidatos ao governo do Estado.
Se em 2022 houve o mutirão para atrair apoios ao projeto de Lula-presidente, sem discriminar eleitores que lá atrás votaram pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a projeção é de que em 2024 o PT viabilize espaços de apoio a candidaturas de outros partidos, numa reciprocidade justificada dentro das quatro linhas do jogo político tal como é exercitado no Brasil. Nesse contexto não soaria estranho que o PT de João Pessoa apoiasse uma candidatura do atual prefeito Cícero Lucena à reeleição. Cícero, que é de centro-direita e ainda está filiado ao PP, poderá migrar para uma legenda mais à esquerda, como o PDT, como condição para se encaixar melhor no figurino das candidaturas que poderão vir a ser apoiadas diretamente pelo presidente Lula. O atual gestor pessoense já participou da primeira audiência virtual entre o presidente da República e o prefeito de uma Capital, durante evento simultâneo de entrega de unidades habitacionais. Ou seja: para todos os efeitos, o canal já foi aberto com o Planalto, acrescendo o fato de que o prefeito da Capital paraibana é o candidato do governador João Azevêdo, que se engajou ativamente na campanha de Lula nos dois turnos.
É claro que o PT não vai desconsiderar postulações próprias que começam a ser colocadas nas suas fileiras, como a do deputado estadual Luciano Cartaxo, que já foi prefeito por duas vezes, e da deputada estadual Cida Ramos, que já se candidatou em uma oportunidade, sem êxito. Mas essas postulações terão que se adequar à linha do pragmatismo político que o PT, por orientação expressa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, venha a adotar nas eleições municipais do próximo ano. Há líderes dentro do próprio PT que não consideram a eleição municipal plebiscitária em relação ao governo federal, que hoje é capitaneado por Lula, e que acreditam que a realidade local será predominante nos debates que começam a ser aquecidos para a temporada eleitoral propriamente dita. Sendo assim, a quota de desgaste do governo Lula será mínima em caso de derrotas pontuais nas eleições do próximo ano em algumas Capitais ou colégios mais importantes, conforme o raciocínio de fontes políticas ligadas ao próprio Partido dos Trabalhadores.
Para além de injunções políticas, existe um outro fator que será levado em conta nas apreciações e nas definições sobre candidaturas a prefeito de Capitais: o pragmatismo. O PT tem vivido um intenso aprendizado na vida pública brasileira, alternando vitórias com derrotas, algumas traumáticas. Essas derrotas incluem a prisão do líder Luiz Inácio Lula da Silva por 580 dias, o impeachment de Dilma Rousseff e resultados eleitorais adversos, como a derrota de Fernando Haddad para Jair Bolsonaro em 2018 na disputa à Presidência da República. Esse histórico estaria levando as cúpulas do partido, em Brasília e nos Estados, a serem mais realistas no estudo e na análise de conjunturas políticas-eleitorais. Diz-se que não há mais lugar para experimentos amadorísticos, muito menos para aventuras que estão mais associadas a ambições pessoais do que a projetos efetivamente viáveis. Esse pode ser o novo radar que virá nortear o comportamento do PT nas eleições futuras, começando pelas disputas municipais que estão à vista no calendário institucional do país, o que explica a busca pelo aprofundamento da discussão de nomes e de teses para 2024.