Nonato Guedes
Além de constituir quadro político excepcional na conjuntura paraibana, que por circunstâncias aleatórias não logrou ascender a postos de maior expressão e influência, onde certamente teria dado vazão ao seu talento, o ex-deputado e prefeito de Pedras de Fogo, Manoel Júnior, que nos deixou ontem, era um baluarte do municipalismo no Estado, defensor das pautas que contribuíssem para a emancipação dos entes nos quais se forma a base da Federação. Manoel Júnior era municipalista convicto porque tinha vasto conhecimento de causa das demandas das cidades e da urgência de serem implementadas políticas públicas para o desenvolvimento justo e equilibrado desses núcleos, no contexto de fortalecimento da Federação. A referência é necessária porque o tema da reforma tributária ainda está no radar, com perspectiva de deslanchar este ano, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Tendo construído militância política no histórico PMDB e, depois, empreendido maratona por outros partidos, procurando adaptar-se às limitações do cenário nacional, Manoel Júnior era um expoente ativo das discussões políticas relacionadas à Paraíba. Não só era ativo mas também respeitado e escutado em seus posicionamentos, com trânsito mesmo entre adversários políticos que cruzaram o seu caminho na trajetória encetada no Estado. A projeção conquistada levou-o, não por acaso, a ser vice-prefeito de João Pessoa em gestões distintas – nas de Ricardo Coutinho e em uma de Luciano Cartaxo. Infelizmente teve dificuldades para a ocupação de espaços maiores que o seu talento exigia – e isto foi lamentável porque quem perdeu foi a Capital paraibana, privada da chance de ganhar reforço para seus pleitos ao longo dos anos.
O atual presidente da Federação das Associações de Municípios da Paraíba (Famup), George Coelho, define que Manoel Júnior presidiu a entidade com maestria, de 1997 a 2002, tendo sido, também, secretário-geral da Confederação Nacional dos Municípios no período entre 1998 a 2002. “Era um municipalista nato, sabia da importância e defendia os municípios e suas lutas como ninguém. Por isso mesmo deixou um legado de muito trabalho e dedicação”, atestou o atual dirigente da Famup. Já a deputada estadual Camila Toscano, do PSDB, referiu que Manoel Júnior “era um político nato”, o que foi endossado pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), ex-prefeito de Campina Grande e atual primeiro vice-presidente do Senado Federal. Médico, Manoel Júnior foi deputado estadual e federal. Em Pedras de Fogo, elegeu-se por três vezes para a prefeitura, sendo que ultimamente estava investido à frente dos destinos da população daquela cidade.
Entre os depoimentos externados a propósito da morte de Manoel Júnior, ainda muito jovem, aos 59 anos de idade, destaca-se o do deputado federal Ruy Carneiro, seu colega de geração e atuação política e amigo pessoal. Recorrendo a um lugar-comum, Ruy Carneiro qualificou o ex-prefeito de Pedras de Fogo como um “político por sacerdócio, na essência da palavra”. E explicou: “Em todas as posições que ocupou, sobretudo em sua cidade, sempre foi apaixonado por fazer e principalmente pelas pessoas. Dedicou-se a resolver os problemas e melhorar a vida da população. Essa é uma característica que hoje em dia é muito rara nos homens públicos, que atualmente pouco se importam com o coletivo. Ele tinha o reconhecimento popular, era muito querido na cidade e é o maior líder da história de Pedras de Fogo”. Ruy Carneiro conta que Manoel Júnior compartilhou com ele do contentamento em saber que o município iria ter uma sede própria do Instituto Federal da Paraíba, ampliando o potencial educacional da cidade.
Nos últimos meses, mesmo durante as fases mais intensas do tratamento contra o câncer, Manoel Júnior continuou administrando a cidade de Pedras de Fogo, através de vídeoconferências e chamadas telefônicas, porém, sempre que podia, participava de agendas externas e procurava estar junto da população. O ex-prefeito e ex-deputado revelava interesse sincero pelo conhecimento dos problemas que estavam afetando a população do seu município e pelo pronto encaminhamento de medidas que solucionassem essas questões pendentes. Havia, nessa postura, além da reconhecida sensibilidade de sua parte para com a acolhida a reivindicações populares, a consciência de Manoel Júnior com relação aos deveres do homem público, às responsabilidades das quais não poderia fugir porque isto significaria uma traição aos compromissos assumidos na praça pública, bem como uma traição à confiança popular que foi depositada na sua capacidade de atender expectativas. Desse ponto de vista ele foi, realmente, além de abnegado, exemplar, diferenciando-se de muitos que se elegiam e, depois de eleitos, não se preocupam efetivamente em cumprir o desideratum para o qual foram ungidos.