Nonato Guedes
Chamou a atenção dos meios políticos brasileiros uma entrevista da presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, sinalizando postura mais afirmativa da legenda quanto ao cumprimento, pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de compromissos assumidos com a sociedade na campanha eleitoral de 2022. A postura afirmativa envolve críticas ou discordâncias com atitudes de ministros do próprio governo, como se deu em relação a Fernando Haddad, da Fazenda, na questão do reajuste de preços de combustíveis, e com o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, indicado pelo União Brasil, que tem uma ala integrada à base governista no Congresso. A entrevista de Gleisi foi ao site “Metrópoles” e alcançou grande repercussão pelo seu conteúdo polêmico.
Na verdade, pelo que a deputada federal pelo Paraná deu a entender, o PT está zelando pela coerência com o projeto que foi defendido na campanha contra Jair Bolsonaro (PL), com vistas a evitar um estelionato político que seria a negação das pautas defendidas, com concessões, sobretudo, ao “deus mercado” que tem feito pressões consideradas descabidas, apesar de não ter influenciado diretamente no resultado eleitoral que possibilitou o terceiro mandato do líder Luiz Inácio Lula da Silva. Gleisi lembra que o discurso da “companheirada” petista foi todo na linha do “desenvolvimentismo” e o próprio presidente Lula deixou claro que desejava promover, na nova gestão, mais emprego, renda, retomada do crescimento, foco nos investimentos e resgate dos programas sociais. “Sinto claramente que o PT é o guardião desse projeto que a maioria do eleitorado apoiou no plebiscito das urnas”, ressalta a dirigente, alertando para o papel da legenda no processo.
Ela acrescentou que cabe ao Partido dos Trabalhadores enriquecer o debate público para que a visão do mercado não seja a única predominante entre as decisões políticas que forem tomadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua equipe de auxiliares. Gleisi Hoffmann admitiu ter pleno conhecimento de causa referindo-se às pressões do sistema financeiro sobre governos que têm o perfil do de Lula e que notoriamente está vinculado ao atendimento de demandas sociais postergadas ao longo dos tempos no país. Gleisi observou que no caso dos combustíveis foi imperiosa a mediação do presidente da República para conter a ameaça de um reajuste que, conforme ela, prejudicaria a maioria da população e, ao mesmo tempo, teria impacto na escalada inflacionária. Gleisi reconhece que o governo Lula é produto de uma coalizão política mas frisa que no contexto da aliança o PT constitui o maior partido e o mais representativo, por via de consequência, em se tratando do partido do presidente da República.
– Quando fizemos a campanha, toda a linha foi no sentido desenvolvimentista e não fiscalista do Estado. Nós queremos que esse governo dê certo. Aliás, ele precisa dar certo, pelo bem do Brasil, e vai dar certo, pela experiência que tem o presidente Lula, pela dedicação que ele tem. Ele está muito bem no comando do governo. Então, é papel do PT, como guardião desse projeto que ganhou as eleições, colocar essa discussão (sobre a economia) sempre na mesa. O mercado não ganhou as eleições, mas o mercado pressiona o tempo inteiro, fala o tempo inteiro, tanto a equipe econômica, como o governo como um todo, sobre juros, sobre sindicalismo. Sendo assim, tem que ter um contraponto a isso. Não pode o mercado ficar falando sozinho, pressionando, achando que tem razão, quando o mercado não ganhou a eleição – continuou Gleisi Hoffmann. Ela não chega a questionar propriamente a atuação do ministro Fernando Haddad na Fazenda mas insiste em que o PT precisa se posicionar para o cumprimento do projeto agitado na campanha.
“Ele (Haddad) é do PT, foi nosso candidato à Presidência da República (em 2018) e sabe que o governo do PT precisa entregar resultados. Um ponto importante foi a sua admissão de que, em casos de impasse, quem decide é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Então, ele vai implementar a política que o presidente Lula definir”, sublinhou a deputada Gleisi Hoffmann na entrevista, desmentindo insinuações de que esteja brigada com o ministro da Fazenda. “A imprensa explorou uma coisa que, na verdade, é uma bobagem: suposta briga entre a área econômica e a área política do governo do presidente Lula. Isso não existe. Toda decisão de um governo é política, não tem decisão eminentemente técnica. Tem, sim, debate dentro de um governo que é o único governo de coalizão que tem, sim, disputa de posição e que ele tenta fazer o equilíbrio nessa disputa. Agora, quem decide, quem dá o rumo, é o presidente Lula e o partido tem que ser o guardião do projeto que venceu as eleições. E nós vamos continuar defendendo isso, ou seja, que é o melhor projeto para o Brasil”, concluiu a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.