Nonato Guedes
Desde que retornou à Assembleia Legislativa, após ser eleito em 2022, o deputado estadual Luciano Cartaxo (PT) sinalizou que seu foco prioritário seria João Pessoa, a Capital que ele administrou por dois mandatos e que aspira voltar a comandar, o que dá a entender que a passagem pela ALPB é um trampolim para não ficar sem mandato e sem tribuna, prolongando o jejum político que trilhou ao deixar a prefeitura. Embora tenha sido vice-governador do Estado, quando José Maranhão se investiu por convocação da Justiça Eleitoral em 2009, Cartaxo concentra sua atuação e sua atenção nos problemas da Capital e já vem dando sinais de que pretende liderar polarização com o atual prefeito Cícero Lucena (PP) que será candidato à reeleição em 2024 com o apoio do governador João Azevêdo, do PSB.
Na polêmica sobre engorda da orla marítima de João Pessoa, Cartaxo mergulhou de ponta-cabeça nas discussões, agitando bandeiras controversas em evidente antagonismo à administração de Lucena, que sempre tem dito não dispor ainda de um projeto oficial sobre o assunto e garante levar o tema à discussão ampla da sociedade no momento oportuno. Luciano construiu o discurso de que estudos encomendados pela gestão atual escondem alegada pretensão de promover a verticalização das construções na orla, com isto atendendo interesses de empresas da construção civil. Na ânsia de criticar ou contestar, o deputado foi colhido por um ato falho, diante das versões de que na sua gestão chegou a contratar empresa para realizar exatamente a engorda de parte da orla em 2014. Nas últimas horas, Luciano tem tentado contra-atacar assegurando que seu projeto visava a proteção da Barreira do Cabo Branco, mas enredou-se em contradições sobre o tema.
De certa forma a polêmica tem tirado o prefeito Cícero Lucena do sério e, em certa medida, desviado a sua atenção de ações urgentes e de projetos mais relevantes que a população pessoense reclama, já que é obrigado a dar explicações, o tempo todo, sobre o tal projeto de engorda da orla marítima. Há quem diga que Cícero acaba, involuntariamente, projetando Cartaxo ao dar-lhe atenção e polemizar com ele, mas a verdade é que o atual prefeito não se isolou na polêmica, tendo conseguido arrastar para a sua defesa bancada expressiva de deputados estaduais aliados e de vereadores com assento na Câmara Municipal. O problema é que até deputados aliados de Cícero acham que é uma temeridade precipitar a disputa eleitoral que será travada, ainda, para valer mesmo, no próximo ano. Seja como for, parece difícil, a esta altura, fugir do enfrentamento da questão, que foi tornada pública pelo próprio Cícero Lucena em entrevistas à imprensa.
Todo o quiproquó ocorre num momento em que o gestor municipal faz movimentos para se aproximar da base de apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já tendo participado de um evento virtual de entrega de casas populares juntamente com o mandatário. Para os próximos dias está agendada reunião de prefeito de Capitais com o presidente da República para aprofundar agendas conjuntas que serão cumpridas por eles e pelo governo federal. O fiador da aproximação de Lucena com o governo federal é o governador João Azevêdo (PSB), aliado de primeira hora de Lula na Paraíba e que apoiou o líder petista nos dois turnos em 2022 mesmo não tendo tido reciprocidade no primeiro turno, face a compromissos já assumidos por Lula. Cícero estaria sendo aconselhado a migrar para um partido de centro-esquerda, como o PDT, a fim de ficar à vontade na base lulista, já que sofre restrições de petistas estando no PP, pelo qual foi eleito. É um processo que ainda demandará muitas tratativas.
No que diz respeito às chances do deputado Luciano Cartaxo vir a ser adotado candidato a prefeito pelo PT em 2022 são, a dados de hoje, incertas. O ex-prefeito, que não conseguiu eleger a concunhada Edilma Freire à sua sucessão em João Pessoa, terá que provar ao Partido dos Trabalhadores até o próximo ano que é viável novamente como candidato à municipalidade. Foi o que antecipou o presidente estadual do PT, Jackson Macêdo, ao informar que o PT só investirá em candidatura a prefeito de João Pessoa que, comprovadamente, tiver densidade ou chances de vitoriar nas urnas. Em 2020, a polarização se deu entre Cícero Lucena, vencedor, com o apoio de João, e Nilvan Ferreira, que estreou como bolsonarista-raiz e que logrou avançar para o segundo turno, destronando cabeças coroadas da política na Capital e na Paraíba, como o próprio ex-governador Ricardo Coutinho. No PT também insinua-se à vaga em 2024 a deputada Cida Ramos, que já perdeu uma vez. Cartaxo está na base de João Azevêdo, a exemplo de Cícero. A questão é que o próprio presidente Lula poderá vir a apoiar Cícero à prefeitura em 2024, conforme já especulado, ontem, pela imprensa nacional, o que pode fazer parecer que Luciano está blefando ao tentar se impor dentro do PT.