Nonato Guedes
O governador João Azevêdo (PSB) procura, desde já, ser o fiador de articulações políticas para reforçar o leque de apoios de partidos e líderes políticos à candidatura do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), à reeleição. O governador movimenta-se, principalmente, junto a segmentos de esquerda que resistem em abraçar o projeto de recandidatura de Lucena por considerá-lo remanescente bolsonarista ou atrelado à direita, embora o alcaide-candidato sinalize posição de centro, sem radicalismo contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem chegou a dividir agenda institucional na entrega conjunta de obras. João Azevêdo procura colaborar, também, para a formação da chapa, diante de gestões para que o vice Leo Bezerra seja mantido no desenho da reeleição.
Cícero conta com outro cabo eleitoral relevante, que é o deputado Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa do Estado, expoente do Republicanos e um dos líderes políticos influentes na correlação de forças atual da Paraíba. Adriano, embora tenha manifestado opinião própria de que o processo eleitoral não deve ser deflagrado com tanta antecedência, face a transtornos inevitáveis que isto provoca, já se definiu de forma inequívoca pelo apoio a Cícero, no interesse da continuidade da parceria exitosa que ele desenvolve com o governador João Azevêdo em torno de projetos estruturantes e obras de impacto na Capital. Na verdade, o presidente da Assembleia acautela-se sobre o assunto para não tumultuar a pauta do Legislativo, onde pipocam pré-candidatos à prefeitura pessoense como os deputados Luciano Cartaxo e Cida Ramos pelo PP e Walbber Virgolino, alinhado com Jair Bolsonaro e antipetista visceral. Como sócio da governabilidade do Estado, Galdino entende que é preciso fazer avançarem demandas que foram agitadas na campanha ainda recente ao Palácio da Redenção, não devendo, portanto, desviar-se a rota ou o eixo dos acontecimentos prioritários.
Um exemplo da resistência de setores de esquerda a uma coligação em torno do prefeito Cícero Lucena foi a nota expedida pela Executiva municipal do PT, presidida por Antônio Barbosa, rechaçando aliança com o pepista e apregoando lançamento de candidatura própria. Essa posição precipitou o divisionismo que é marca registrada do histórico petista, levando o presidente do diretório estadual Jackson Macedo a considerar “irresponsável” a manifestação contra Lucena, que surpreendeu pela veemência no ataque à administração de João Pessoa. Estrategicamente, Cícero evitou botar pilha na polêmica, até porque nunca foi político de queimar pontes nem de fechar portas a diálogo ou a composições. No fundo, a Executiva municipal petista tentou marcar posição para proteger pretensões de deputados da legenda, embora a manobra tenha sido desastrosa ou, certamente, mal conduzida, conforme os analistas políticos locais.
Independente da precipitação na deflagração do processo eleitoral, os movimentos até aqui encetados estavam mais ou menos na lógica do enredo do jogo político que é jogado na Paraíba. Aqui se respira política nas 24 horas do dia, com repetição cíclica, num quadro onde os prognósticos e as postulações desabrocham mal são fechadas as urnas de um pleito. Assim foi que, encerrada a temporada de 2022, que registrou disputas ao governo estadual, Senado e Câmara Federal, Assembleia Legislativa e vice-governadoria, os próprios grupos e esquemas políticos deram partida a confabulações e a especulações de todo tipo mirando no radar de 2024, quando se ferirão as eleições municipais. Quer em João Pessoa, quer em Campina Grande, que são colégios maiores, quer em distantes localidades pequenas do território paraibano já avultam ensaios de candidaturas e negociações de bastidores que mais tarde acabarão formando o painel das disputas por prefeituras e câmaras de vereadores.
Os adversários do prefeito Cícero Lucena temem que ele venha a se beneficiar, colateralmente, da força da máquina, com obras e ações administrativas em plena ebulição neste ano e durante os primeiros meses de 2024, e, por isso mesmo, tentam contrabalançar o peso da influência do gestor municipal em conjunto com o governo do Estado, podendo se ampliar com iniciativas do governo federal que irão deslanchar, também, em João Pessoa. Há um embate sem trégua contra a atual administração, mesmo em cima de propostas vazias, como a da engorda da orla marítima, para a qual ainda não há um projeto oficialmente elaborado mas que já desencadeou até mesmo a realização de sessão na Assembleia Legislativa, requerida por parlamentares que têm interesse na disputa eleitoral, como Cida Ramos, que já foi derrotada no páreo lá atrás. Pelo sim, pelo não, o prefeito procura fortalecer sua retaguarda – e, nesse contexto, o governador João Azevêdo, como seu grande parceiro, tem papel importante, segundo admitem adversários que o combateram na ainda recente campanha pela reeleição ao governo do Estado. A expectativa é quanto à configuração que as alianças vão ter, na prática, para o jogo eleitoral de 2024.