Linaldo Guedes
O anúncio da continuação do filme “Auto da Compadecida”, dirigido por Guel Arraes, viralizou em todas as redes sociais esta semana. Baseada na fenomenal obra de Ariano Suassuna, o filme narra as peripécias de Chicó e João Grilo e reforça, através do humor, a imagem do nordestino que vive entre a seca, a miséria e devoções religiosas. E é sobre esses estereótipos que envolvem o “ser” nordestino que o campinense Johniere Alves Ribeiro anuncia o lançamento de seu novo livro – “Nordeste nunca houve”, ora em campanha de financiamento coletivo pelo site Catarse.
Em matéria publicada no jornal A União, Johniere explica que o livro nasce fruto de sua defesa de doutorado em Literatura e Interculturalidade na UEPB. E acrescenta que essa tese surgiu de um incômodo sobre como é forjada a concepção homogeneizante de nove estados brasileiros como sendo um refúgio do atrasado, do saudosismo e do árido.
A obra literária ficcional dos romances nacionais contemporâneos é a base da análise do autor para negar todos os estereótipos de uma estética da fome e da seca que perduram até hoje. Neste sentido, Johniere fundamenta sua teoria a partir de romances de Graciliano Ramos, como Angústia e São Bernardo, e Galiléia, de Ronaldo Correia de Brito.
“A partir da Literatura, vou tentando desconstruir esse Nordeste e mostrar que mesmo na Literatura contemporânea existe espaço de ambiguidade entre o Nordeste que se propõe como tecnológico e que acompanha a globalização, mas que ao mesmo tempo as pessoas conseguem cristalizar a imagem do passado”, descreve o autor em entrevista ao jornalista Joel Cavalcanti no jornal A União.
Segundo ele, o Nordeste moderno tinha como acontecer, mas isso não veio devido a uma programação proposital e política de nossas elites locais. Para Johniere, esse mesmo Nordeste submetido aos estigmas da fome e da seca está presente em obras seminais do movimento regionalista. Porém, isso é conciliado com a construção de narrativas subjetivas e com personagens densos que são consideradas inovadoras ao ponto de consagrar escritores e escritoras locais entre os mais importantes do país.
Em “Nordeste nunca houve”, o pesquisador paraibano faz críticas ao pernambucano Gilberto Freyre e ao cearense Djacir Menezes, que publicaram livros definindo o que seria o Nordeste, quando a região teve suas divisas definidas durante o governo de Getúlio Vargas.
É um livro para refletir, sobretudo, sobre as imagens que os próprios nordestinos criam em torno de suas tradições.
A campanha de financiamento coletivo segue no site Catarse e a previsão de publicação do livro é para junho deste ano. Johniere é autor de dois livros de poesia e é professor em Campina Grande. “Nordeste nunca houve” será publicado pela Arribaçã.
Linaldo Guedes é poeta, jornalista e editor na Arribaçã. Tem 12 livros publicados e é mestre em Ciências da Religião