Nonato Guedes
Se havia dúvidas, elas foram desfeitas, ontem, pelo comunicador Nilvan Ferreira (PL) numa entrevista à rádio Arapuan: ele será novamente candidato a prefeito de João Pessoa nas eleições de 2024 e espera contar com a participação, no palanque, do ex-presidente Jair Bolsonaro, que permanece no exterior e faz suspense sobre seu retorno ao Brasil. Nilvan esta convencido de que o pleito do próximo ano será indiscutivelmente plebiscitário, com o julgamento da terceira gestão do prefeito Cícero Lucena (PP), que, na sua opinião, tem falhado nos compromissos assumidos com a população e na execução de obras de impacto e relevância. Chegou a considerar “estagnada” a atual administração.
Nilvan estreou no processo poltico-eleitoral em 2020, justamente concorrendo à prefeitura, disputando com mais de uma dezena de candidaturas. Ingressou no páreo como “outsider”, agitando a bandeira ideológica de direita, mais tarde convertida em bandeira bolsonarista por causa da sua identificação com o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, e logrou surpreender, constituindo-se em fenômeno eleitoral, de tal sorte que avançou para o segundo turno contra Cícero Lucena, apoiado pelo governador João Azevêdo (PSB), tendo perdido o confronto mas alcançado uma votação expressiva que o projetou a voos mais ousados na carreira política. Em 2022, Nilvan Ferreira candidatou-se ao governo do Estado e seu desempenho foi, novamente, surpreendente para analistas políticos, chegando a vencer na Capital e em outros redutos estratégicos do Estado, mas perdendo a ultrapassagem para o segundo turno para Pedro Cunha Lima, então deputado federal do PSDB, o adversário de Azevêdo na reta finalíssima.
Pessoalmente, Nilvan está convicto de que se tornou um líder influente entre as forças de direita, principalmente em João Pessoa e, desse ponto de vista, a sua postulação em 2024 será uma espécie de “tira-teima” sobre suas verdadeiras chances de capilaridade ou de sobrevivência política num cenário em franca mutação na Paraíba, com a emergência de outros nomes que passam a substituir figuras carimbadas da política tradicional. Ferreira, teoricamente, se declara aberto ao diálogo com demais lideranças conservadoras ou que façam oposição aos governos João Azevêdo-Cícero Lucena, a exemplo do deputado federal Cabo Gilberto Silva, do pastor Sérgio Queiroz e do deputado estadual Walbber Virgolino, mas admite que há divergências pontuais e que precisará haver espírito de renúncia para a unidade em torno de uma candidatura efetivamente viável e competitiva, capaz de derrotar o projeto empalmado por Cícero Lucena e endossado pelo chefe do Executivo estadual. O movimento para se afirmar na direita ocorre numa hora em que Cícero faz sinais para uma composição que abrigue o apoio do próprio PT para assegurar sua recondução.
Dentro do seu campo específico, Nlvan Ferreira agiu nas últimas horas para marcar posição contra o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) por este ter ido cumprimentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no aeroporto de Campina Grande, durante o trajeto que este fazia para o município de Santa Luzia a fim de prestigiar a inauguração de um empreendimento híbrido solar e eólico. Para Ferreira, ficou nítida a demarcação de posição política-ideológica e, de sua parte, continua demonstrando coerência e fidelidade a princípios defendidos. Já Pedro, conforme ele, “fraquejou” ao fazer um gesto concreto junto ao presidente Lula, mesmo sem dispor de mandato, deixando dúvidas sobre sua opção concreta no cenário político nacional. No segundo turno da campanha ao governo estadual em 2022, Nilvan recusou-se a apoiar Pedro porque este assumiu neutralidade na corrida presidencial, enquanto Ferreira cobrava o alinhamento incondicional a Bolsonaro.
Pelo que deu a entender nas declarações, o ex-candidato do PL já está ativo na construção do projeto de nova candidatura a prefeito de João Pessoa, procurando, inclusive, ampliar o leque de apoios para dispor de uma base sólida com vistas a enfrentar o peso da máquina administrativa municipal e o reforço da máquina do governo do Estado. Do exterior, Bolsonaro tenta manter a chama dos “bolsonaristas-raiz” como Nilvan Ferreira na Paraíba, com promessa de cumprir agenda lá na frente com candidatos a prefeitos de Capitais, dentro da estratégia de ressignificar a força política da direita ou do bloco conservador e apostar na continuidade da polarização contra a esquerda e o governo lulopetista que está em pleno andamento. Não há sinais à vista de que o confronto que dividiu o Brasil nos últimos anos venha a minguar tão cedo – mas é nessa perspectiva que investem figuras como Nilvan Ferreira para tirar proveito e pavimentar ambições políticas de poder já testadas em outras oportunidades.