Nonato Guedes
A hipótese de uma candidatura própria do PSB a prefeito de João Pessoa nas eleições de 2024 tornou-se uma espécie de “tema-tabu” nas hostes do partido – não porque faltem opções mas porque esbarra no compromisso antecipado já assumido pelo governador João Azevêdo, principal líder da agremiação, com a candidatura do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição. O próprio deputado federal Gervásio Maia, presidente do diretório estadual do PSB, não tem sido mais enfático como o foi, lá atrás, em entrevistas à imprensa, pregando a tese de candidatura própria como estratégia para o fortalecimento da legenda com vistas ao futuro no cenário político-institucional paraibano. Maia tem admitido candidaturas próprias do PSB a prefeito como naturais, mas deixou de insistir em incluir a Capital e Campina Grande, o segundo colégio eleitoral do Estado, no rol de disputas.
Outras lideranças socialistas com influência em João Pessoa, na Assembleia Legislativa e Câmara Municipal ou dentro do quadro político geral, até admitem reservadamente que o partido deveria examinar a hipótese como projeto de sobrevivência no confronto com outras siglas, mas, de público, evitam assumir comprometimento ou engajamento veemente na defesa da tese para não se incompatibilizar com o governador João Azevêdo ou para não contrariá-lo na sua própria estratégia. Em “off”, adverte-se para o risco de o PSB definhar na conjuntura de poder da Paraíba, já que controla apenas o cargo de governador, enquanto postos igualmente influentes como o de vice-governador e presidente da Assembleia Legislativa estão sob o pálio do PP e do Republicanos. As preocupações se estendem quanto à preparação de quadros dentro do PSB para postular o próprio governo em 2026, com Azevêdo já fora do Palácio da Redenção, pleiteando um mandato no Senado ou na Câmara dos Deputados.
A bem da verdade, o Partido Socialista já viveu tempos melhores no quadro local, precisamente na fase em que o ex-governador Ricardo Coutinho, hoje no PT, dava as cartas e agia como senhor de baraço e cutelo, mercê do prestígio adquirido com a sua reeleição ao Executivo e com o peso que indiscutivelmente teve na ascensão de João Azevêdo à governança na campanha de 2018, vencendo a parada em primeiro turno, embora fosse um estreante na carreira política. A crônica de desentendimentos entre Ricardo e João, pontilhada por constantes quedas de braço travadas em torno da hegemonia à frente do PSB, se não chegou propriamente a enfraquecer os quadros, produziu defecções e gerou insegurança quanto à força concreta da agremiação. A performance surpreendente da ex-deputada Pollyanna Dutra como candidata ao Senado em 2022 ainda hoje é encarada como exceção, como um ponto fora da curva no radar político estadual, sendo contabilizado como ganho real a recondução de João Azevêdo à chefia do Executivo.
Observa-se que neste seu segundo mandato, conquanto tenha redobrado prestígio ao se eleger presidente do Consórcio Nordeste e tornar-se um interlocutor privilegiado do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o governador João Azevêdo opera em regime de coalizão ampliada, com espaços generosos ocupados pelo PP e pelo Republicanos, acrescentados do PSD e até de grupos do PT que ocupam secretarias de Estado importantes. Isto tornaria o governador, de certa forma, vulnerável a pressões de expoentes da sua base de sustentação política que estão cuidando dos seus próprios interesses e engendrando fórmulas para marcar presença com êxito nos embates eleitorais futuros. O prognóstico é de relativa dispersão das forças lideradas por João Azevêdo, envolvidas nos seus planos e táticas de ocupação de espaços, cenário que tende a se consolidar mais ainda com a proximidade das eleições de 2026.
A falta de uma articulação política mais eficiente e consistente dentro do governo de João Azevêdo é apontada como fator complicador para asseguramento da unidade da base de sustentação, quer com vistas às eleições municipais que vão se ferir no próximo ano, quer com vistas ao pleito de 2026, que provavelmente deverá ser conduzido pelo atual vice-governador Lucas Ribeiro (PP), com chances dele vir a assumir um projeto de candidatura, caso haja capilaridade ou prenúncio de competitividade. De resto, o cenário político-eleitoral na Paraíba tem se afunilado bastante nos últimos anos, como reflexo colateral da própria mutação operada no panorama, facilitando a emergência de líderes como o ex-deputado Pedro Cunha Lima, a secretária de Desenvolvimento Humano Pollyanna Dutra e o comunicador Nilvan Ferreira, sem falar na projeção que tem sido conquistada pelo deputado federal Hugo Motta, presidente do Republicanos, e pelo deputado Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa do Estado. São variáveis que começam a ser analisadas com certa preocupação por expoentes do PSB e que podem vir a ser colocadas na mesa antes dos prazos fatais, para que não eclodam configurações imprevisíveis. O PSB quer fazer jus ao mandamento de que é partido do governo que está no governo, daí o registro de movimentos que já terão reflexos nas eleições municipais de 2024, inclusive, nos grandes centros.