Nonato Guedes
Nunca, na história recente do poder no Brasil, uma primeira-dama esteve tão em evidência nas decisões políticas quanto a primeira-dama Rosângela Silva, a “Janja”, socióloga, petista de carteirinha e mulher do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi eleito para um terceiro mandato. Ela foge do estereótipo tradicional atribuído às primeiras-damas, que as classifica como “recatadas e do Lar”. “Janja” é uma ativa militante política, já comprou polêmicas em defesa do governo do marido, ganhou cargo importante (não remunerado) no Palácio do Planalto e já figurou em uma pesquisa “Quaest” sobre percentual de popularidade, tendo perdido apenas entre evangélicos (29% a reprovaram). No total geral do universo pesquisado, 41% disseram ter visto a atuação da primeira-dama como “positiva”, o que, reforçado pelas opiniões de que é “regular” somou mais de 60% de aprovação.
A jornalista e apresentadora do “Brocou na Internet”, Cynara Menezes, questionou a pesquisa que colocou o nome de “Janja” em destaque, observando que ela não foi votada nas eleições presidenciais de 2022 nem se candidatou a qualquer outro cargo eletivo, sendo inusitado, de certa forma, que mereça tamanho registro. “Na minha carreira como jornalista, sempre cobri primeira-dama. E nunca fizeram pesquisa de avaliação de primeira-dama”, objetou Cynara Menezes, alegando que concretamente “Janja” não fez nada, por exemplo, pela Educação, Saúde ou Economia. A seu ver, o quesito a respeito da aprovação da atual primeira-dama revelou-se extremamente subjetivo porque poderia estar sugerindo conceito sobre beleza ou associando “Janja” ao presidente Lula, de quem ela não solta a mão nos eventos oficiais. O fato é que a socióloga demonstrou ser diferente das antecessoras. Ela mesma disse que queria “ressignificar” o papel de primeira-dama, tal como repercute junto à sociedade – e a verdade é que tem se projetado como emissária de confiança do marido-presidente. Foi ela, por exemplo, que articulou manifestações de apoio de artistas e agentes culturais à candidatura de Lula, bem com tem sido interlocutora junto a outras personalidades de expressão.
Numa fala em evento no Senado, “Janja” comentou que é mais atacada do que o marido nas redes sociais. Ao receber o diploma Bertha Lutz, desabafou: “Tenho sido o alvo principal de mentiras, ataques à honra e ameaças nas redes. Até mais que o presidente”. Aproveitou para qualificar a questão da violência contra a mulher como inadmissível e inacreditável, dizendo ser necessário haver “um basta” nessa situação. A primeira-dama estava com o presidente Lula em Araraquara (SP) quando os ataques terroristas levados a cabo por bolsonaristas fanáticos irromperam em Brasília em janeiro deste ano, causando um rastro de destruição nos Três Poderes. Ela reagiu de bate-pronto, negativamente, a uma sugestão feita pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, no viva-voz, para que Lula recorresse à Operação de Garantia da Lei e da Ordem para pôr fim aos atos de vandalismo. Também denunciou, em entrevista ao “Fantástico”, o ambiente de caos legado pela família Bolsonaro no Palácio da Alvorada, mostrando, detalhadamente, pontos de deterioração do prédio.
Monitorada por causa do vestuário e patrulhada pela ingerência na política, “Janja”, de fato, tem ascensão sobre decisões e sobre a própria agenda de Lula, o que já provocou reclamações de “companheiros” do próprio PT que não teriam tido acesso a ele nesta terceira gestão. Madrinha da Imperatriz Leopoldinense no carnaval, a primeira-dama tentou vetar por completo a presença de jornalistas no tradicional coquetel no Palácio do Itamaraty na noite da posse presidencial, embora, no final, tenha prevalecido o entendimento de que profissionais da mídia deveriam ser convidados, como é praxe nesses eventos. “Janja” participou da primeira reunião ministerial presidida por Lula, acompanhada de uma assessora e esteve na Conferência do Clima no Egito. Numa live transmitida pela TV Brasil, fez apologia declarada do governo do marido, o que provocou interpelação judicial. Por influência sua, neste mês de março, foi lançado um pacote de mais de 25 ações do governo para mulheres.
A história de amor vivida entre Luiz Inácio Lula da Silva e Rosângela Lula da Silva é, sem dúvida, o grande antídoto às intrigas, especulações, ciumadas e reclamações que são feitas contra a primeira-dama do Brasil. Essa história passou a ser construída fortemente no período em que Lula ficou recolhido à superintendência da Polícia Federal em Curitiba por 580 dias. Nas proximidades do prédio havia um acampamento de apoiadores de Lula, em vigília pela sua liberdade. “Janja” não só dava plantão nesse acampamento como visitava Lula com frequência na carceragem, tendo estado ao seu lado quando deixou a sede da PF. Posteriormente, casaram. O marido não esconde a admiração que tem pela personalidade de “Janja” nem os gestos de carinho, paixão e afetividade por ela. Tudo isso contribui para que nos meios políticos o nome da socióloga seja citado para futuras disputas. Ultimamente, nas redes, há uma guerra de torcidas entre admiradores de “Janja” e seguidores da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que tenta suceder o marido, Jair, na constelação de poder brasileira.